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‘Para sempre Chape’, a história de uma equipe antes e depois da tragédia

Documentário de Luis Ara reconstrói os momentos mais significativos do clube catarinense

Foto de 'Para sempre Chape'.
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“Lembro que sonhei que caía do avião e sobrevivia. Três dias antes. No íntimo, temia que meu sonho ocorresse naquele momento. Achava que não sobreviveria para contar”. Assim começa o relato de Hélio Zampier Neto, zagueiro da Chapecoense e um dos sobreviventes da tragédia do voo 2933 da LaMia. Para sempre Chape, o documentário do uruguaio Luis Ara, revisa a história do clube antes e depois da tragédia. O filme estreou comercialmente em agosto na Colômbia e no Brasil, e agora está disponível no serviço de streaming da Netflix.

A Chapecoense foi fundada em 1973 na cidade de Chapecó, no Estado de Santa Catarina. A equipe conhecida como o Furacão do Oeste conquistou relevância nos últimos anos protagonizando uma ascensão meteórica. Na quarta divisão nacional em 2009, em 2016 estava prestes a disputar sua primeira final continental contra o Atlético Nacional da Colômbia. Mas o avião que levava o elenco, diretores e jornalistas ficou sem combustível e caiu pouco antes de chegar em Medellín, enquanto esperava que autorizassem um pouso de emergência. Morreram 71 das pessoas que estavam a bordo e seis sobreviveram.

Ara, como muitos fãs do esporte e do futebol, acompanhou a histórica campanha da equipe na Copa Sul-americana, torneio em que deixou pelo caminho equipes argentinas como o San Lorenzo e o Independiente. O diretor lembra que quando soube da tragédia aérea estava em um cinema, revisando uma sala por motivos de trabalho. “Em fatos tão trágicos como esses em geral, as pessoas sempre se lembram de onde estavam. Como qualquer pessoa que escutou as notícias fiquei completamente consternado e de alguma forma paralisado por tão trágica notícia”.

Foto de 'Para sempre Chape'.
Foto de 'Para sempre Chape'.

Apenas seis meses depois do acidente, a Chapecoense renascia futebolisticamente e conquistava novamente um título: o Campeonato Catarinense de 2017. Esse fato chamou a atenção de Ara. Como o clube trabalhava para seguir em frente. Assim começaram os contatos para realização do documentário. O diretor propôs uma aproximação não invasiva e com um objetivo bem claro: não enfatizar a tragédia. “Era um ponto de inflexão na história de um clube que merecia ser contada em sua origem e em sua história posterior, não somente na tragédia. Colocar o foco do filme a partir desse lugar evitou com que eu de alguma forma precisasse me aprofundar em lugares que são muito dolorosos e mundialmente conhecidos”, diz por telefone.

“Uma grande responsabilidade”

A história mostrada pelo documentário se constrói ao redor das declarações dos jogadores sobreviventes, familiares e amigos dos falecidos, integrantes da atual diretoria, entre outros. Também conta com o arquivo audiovisual do clube e de veículos da imprensa colombiana e brasileira. Através de suas próprias gravações e outro material de filmografia utilizado para o filme, Ara elabora uma narrativa que se enlaça de maneira bem orgânica. “Há um grande trabalho de produção e pesquisa. Além disso, é uma situação muito complicada, em que em alguns momentos vemos a intimidade, e é preciso compreender isso, que estamos criando uma obra que tem a ver com a vida de muitas pessoas. Por isso, o filme foi feito com muito respeito”, diz Ara.

O diretor uruguaio também utiliza a animação como um recurso cinematográfico para contar uma parte do filme. No começo, principalmente, ilustra muitas conquistas do clube através de recortes de jornais e fotos, que parecem ganhar vida na tela. “Queria contar de outra forma. Não queria que fosse um filme de futebol, queria que fosse um filme sobre uma equipe de futebol, em que não se mostrasse necessariamente jogos e gols. Então me pareceu interessante o recurso de utilizar alguns jornais existentes e outros criados pela produção, para narrar textos que me pareciam interessante aos efeitos da história”, diz Ara.

Ara tinha uma grande responsabilidade ao contar essa história que já havia sido relatada muitas vezes e de formas muito parecidas. A prova de fogo foi diante das famílias, pessoas do clube e representantes da associação que reúne as pessoas afetadas pela tragédia aérea. De acordo com o diretor, todos ficaram satisfeitos e agradecidos com o tom utilizado no filme. “Cada envolvido com as vítimas terá sua maneira de receber e de ver um trabalho que definitivamente relembra o momento mais difícil de suas vidas. É um assunto delicado, mas estou contente de que a recepção tenha sido muito, muito boa”, afirma.

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