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Beatriz Segall, a atriz que arrebatou o Brasil como Odete Roitman

A carioca, que morreu aos 92, estava internada no hospital Albert Einstein, em São Paulo, e havia enfrentado recentemente uma pneumonia

A atriz Beatriz Segall em São Paulo em julho de 2011
A atriz Beatriz Segall em São Paulo em julho de 2011THIAGO TEIXEIRA (AE)
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Morreu nesta quarta-feira, 5, a atriz carioca Beatriz Segall, que entrou para a história da teledramaturgia brasileira ao encarnar a mais emblemática das vilãs de novelas, a Odete Hoitmann, de Vale Tudo. Segall, que tinha 92 anos, estava internada no Hospital Albert Einstein, em São Paulo.

Nascida em 1926 em uma família de classe média da Tijuca, zona norte do Rio, Beatriz teve de lutar contra a resistência dos pais para seguir o teatro, carreira que começou a estudar nos anos 50, antes de viver uma temporada em Paris. Passou boa parte da vida nos palcos encenando textos consagrados, algo de que ela se orgulhava, mas só se consagraria mesmo na TV, no final dos anos 70. "Me chamam muito de Odete nas ruas, principalmente, nas lojas. Mas não ligo mais. No Brasil se vê muito mais novela do que se vai ao teatro. Se fossem ao teatro, teriam muito mais nomes para me chamarem. O que incomoda é que esse papel não é o único, mas ficou muito marcado", queixou-se ao UOL em 2014.

A quase reprimenda aos brasileiros pelo raro hábito de ir ao teatro —e por insistirem em chamá-la de Odete— não ficariam deslocadas na boca da personagem que Beatriz Segall viveu na novela de 1988, de Gilberto Braga. No Brasil que se encaminhava, no ano seguinte, para sua primeira eleição presidencial direta após a ditadura, a novela Vale Tudo arrebatou corações e mentes por mostrar a desigualdade e o espírito das leis que não valiam para os ricos. A produção foi vendida para dezenas de países e seria uma sucesso histórico em Cuba.

Na trama, de um lado estavam os trabalhadores que tentavam empreender em meio à hiperinflação e à crise, sem muita esperança de justiça. Do outro, a Odete Roitman vivida por Beatriz Segall: uma nova rica inteligente, de humor ácido e ávida por se diferenciar do resto da patuleia exibindo seu repertório europeu. Ela fazia negociatas enquanto destilava preconceito e arrogância pelos mais pobres, com frases de efeito que o YouTube fez reviver como culto, algo entre o cômico-catártico e o revelador dos vilões da vida real do Brasil de hoje. "A única solução para a violência é a pena de morte. E para ladrão, para assaltante, cortar a mão em praça pública. Se cortasse a mão dessa gente, diminuiria o índice de violência nesse país. Não tenha a menor dúvida”. Ou: "O lugar mais ao sul que uma pessoa civilizada pode ir é Milão."

Em uma época de hegemonia absoluta da TV aberta, leia-se TV Globo, na vida nacional, a novela marcou época por enredar o país no suspense da trama: afinal, quem matou Odete Roitman? O mistério foi resolvido em 7 de janeiro de 1989. Quis o destino que Beatriz Segall morresse justamente enquanto Vale Tudo está sendo reexibida pelo canal a cabo Viva, em comemoração aos 30 anos da estreia da novela.

Quando viveu uma outra grande vilã de novelas na TV em 2005, a atriz Fernanda Montenegro sentenciou na Folha: “(Odete Roitman) é inalcançável, o protótipo da peste televisiva. Por mais que alguém queira chegar lá, não vai conseguir”.

Beatriz Segall deixa três filhos e oito netos.

Salário menor para as vilãs e campanha para José Serra

Beatriz Segall não teria outro papel tão emblemático como Odete Roitman e ficou congelada no imaginário como uma vilã malvada e rica - algo até que dificultava contratos publicitários e até mesmo o salário. A remuneração era maior para mocinhas, e não para vilãs, segundo contou à revista Glamurama em 2016. Beatriz Segall, que teve o marido Mauricio Segall preso pela repressão da ditadura, foi apoiadora do PT, nos anos 1980, mas se tornaria uma crítica implacável do partido. A partir dos anos 90, se aproximaria dos tucanos de São Paulo. Ela fez campanha para José Serra em 2002.

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