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Alckmin tenta vender sua São Paulo ao Brasil, mas ainda mal convence os paulistas

Sem decolar nacionalmente, tucano quer melhorar no Estado onde só 36% aprovavam seu Governo. Quando tentou a presidência pela primeira vez, em 2006, a aprovação do ex-governador era de 66%

Alckmin cumprimenta frequentadores do Bom Prato no Brás, em 3 de setembro.
Alckmin cumprimenta frequentadores do Bom Prato no Brás, em 3 de setembro.Sebastiao Moreira (EFE)
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“Ele tentou levar a sua merenda?”, perguntou Sérgio Gomes de Lima, de 44 anos, apontando para o isopor do vendedor de água após a passagem da comitiva do ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin (PSDB). O tucano acabara de deixar a unidade do restaurante popular Bom Prato na avenida Rangel Pestana, no bairro do Brás, em São Paulo. A agenda previa que Alckmin almoçasse por lá, mas o candidato à presidência da República se limitou a cumprimentar potenciais eleitores e, após breve entrevista coletiva, deixou o local após 15 minutos. "Disseram para eu dar água pra ele, mas eu não quis", respondeu o ambulante.

Desempregado há três anos, Sérgio Gomes de Lima almoça no Bom Prato há seis. Gosta do restaurante, que serve almoço a 1 real e café da manhã a 50 centavos, mas não gosta do sucessor de Mário Covas, em cuja gestão o programa foi criado, em 2000. “Não vou votar em ninguém, são todos iguais”, reclama o homem que já trabalhou como metalúrgico e cujo último emprego foi como segurança. No debate que se estabeleceu na fila do restaurante após a passagem de Alckmin, o eleitor desiludido bradava contra a máfia da merenda, que machuca a campanha tucana à presidência, apesar de a denúncia formal sobre esquema de desvios não envolver diretamente o ex-governador.

Naquela segunda-feira, o tucano ouviu protestos contra o aglomerado de componentes da comitiva, que atrapalhava a circulação na entrada do restaurante, e gritos de provocação a favor do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. “Tem que voltar o Lula, a situação era melhor quando ele governava”, diz Paulo, 40 anos, que se identifica apenas como “vendedor de lanche” e prefere não mencionar o sobrenome. Vestido com uma camiseta verde que estampa o emblema da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), o vendedor diz que, em não podendo optar por Lula, votará no ex-prefeito Fernando Haddad (PT). "Naquela época a economia estava crescendo, não foi por causa do Lula", retruca Sérgio.

Próximo deles, Leroy, de 34 anos, que também prefere omitir o sobrenome e vive há cinco anos com o salário mínimo garantido por uma aposentadoria por invalidez, diz que pretendia votar em Alckmin, mas tende mais para o deputado Jair Bolsonaro (PSL-RJ) depois de vê-lo no Jornal Nacional. "Eu gostei do que ele falou sobre o livro nas escolas", comenta, em referência ao livro sobre educação sexual exposto pelo candidato no programa. Favorito nas pesquisas de intenção de voto sem Lula, o capitão reformado do Exército também lidera a disputa eleitoral em São Paulo, reduto tucano, com 21% das intenções de voto, segundo o Datafolha, enquanto Alckmin aparece em segundo lugar, com 18%.

Ao contrário do homem que governou o Estado em quatro mandatos diferentes, Bolsonaro deu expressivas demonstrações de popularidade nas cidades de São Paulo —entre outros Estados— por onde passou antes de ser esfaqueado em Juiz de Fora (MG). O roteiro paulista do deputado do PSL em agosto rendeu imagens de pequenas multidões de apoiadores em Araçatuba, Presidente Prudente e São José do Rio Preto. Apesar de ter encontrado eleitores em sua visita ao Brás, Alckmin não colheu nada de parecido em seu próprio Estado até agora. Durante a passagem do ex-governador pelo Bom Prato, o reportagem ouviu elogios ao restaurante popular cujo modelo o tucano promete nacionalizar caso eleito presidente, mas os frequentadores não se animavam a estender os elogios ao candidato.

São Paulo

Encurralado pelas últimas pesquisas, que não mostraram sua arrancada apesar de dominar quase metade do horário eleitoral gratuito, o ex-governador paulista minimiza o situação. Em entrevista coletiva nesta segunda para correspondentes estrangeiros afirmou estar confiante que poderá virar o jogo mais perto da eleição. "O que vale é a onda final", disse.

Seja como for, São Paulo é uma plataforma de campanha óbvia e inescapável para quem fez toda sua carreira política no Estado – ainda que sua performance até agora no maior colégio eleitoral do país deixe a desejar. Os programas eleitorais do tucano na televisão deixam isso claro, com destaque para a "redução de 70% dos homicídios" e a criação da "maior rede de combate ao câncer do Brasil". Em outro momento, o programa expôs uma paraense que precisou recorrer ao sistema de saúde paulista para se tratar de leucemia. Em sabatina recente promovida pela Associação Brasileira da Infraestrutura de Base (Abdib), o ex-governador usou São Paulo com exemplo em oito momentos diferentes, entre eles para contrapor os últimos déficits do Governo federal com o "superávit de 5,3 bilhões de reais de São Paulo" e destacar a inauguração de estações de metrô e os cortes de gastos, proporcionados pelo fechamento de quatro fundações e a contratação de um sistema de transporte mais barato.

Apesar dos feitos propagandeados, Alckmin deixou o Governo de São Paulo em abril com apenas 36% de aprovação — ele é mais popular no interior do Estado, onde gozava de 42% de aprovação, contra apenas 26% na capital paulista. Outros 40% consideravam seu Governo regular. A nota média de sua gestão, de 0 a 10, foi 5,4 na última pesquisa Datafolha sobre o assunto. Esse mesmo levantamento indicou que 64% dos paulistas acham que Alckmin fez menos do que se esperava. Saúde e segurança, duas das áreas para que sua campanha tem dado mais destaque, são os setores identificados como mais problemáticos pela população, cada um com 24% das menções negativas.

Desde que Alckmin foi eleito para seu terceiro mandato, em 2011, as avaliações de bom e ótimo sobre seu governo no Datafolha não caíram abaixo de 40% até o início de 2015, quando chegou a 38%. Naquele ano, o problema mais citado —por 22% da população— era a falta de água. A crise hídrica que atingiu o Estado naquele ano desgastou a imagem do governador. Depois de descer a 28% em novembro de 2015, seu menor índice de aprovação dos dois últimos mandatos como governador, o tucano conseguiu recuperar parte de sua popularidade, nos três anos finais de gestão, mas ficou longe de seu melhor índice de aprovação, que alcançou 52% em junho de 2013.

Alckmin tem 18% das intenções de voto em São Paulo, segundo a última pesquisa regional do Ibope, publicada no último dia 10. Está atrás apenas de Bolsonaro, que lidera entre os paulistas com 23%. O desprestígio do tucano em seu próprio Estado só se compara ao de Marina Silva (Rede) no Acre —a ex-ministra tinha 19% em pesquisa Ibope de agosto, a última disponível sobre a região, que mostrava Bolsonaro com 37% das intenções de voto. No Ceará, o ex-governador Ciro Gomes (PDT) contava com 39% dos votos na última pesquisa Ibope (16 de agosto) no cenário sem o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Bolsonaro, eleito deputado sete vezes pelo Rio de Janeiro, tem 33% dos votos por lá.

Desgaste

Na primeira vez em que deixou o Governo de São Paulo para disputar a presidência, em 2006, Alckmin tinha uma imagem muito melhor entre os paulistas: 66% consideravam sua gestão ótima ou boa. O senador José Serra (PSDB) também partiu bem do governo paulista para a disputa pelo Palácio do Planalto, em 2010, com 55% de aprovação. Não bastasse o desgaste da crise hídrica, a imagem de Alckmin parece ter sido abalada nos últimos anos junto com a de toda a classe política por conta da Operação Lava Jato.

Além de tentar associá-lo à máfia da merenda, seus adversários na campanha —em especial a família Bolsonaro— se referem a ele pelo apelido "santo", que identificaria o ex-governador nas planilhas da construtora Odebrecht. O site de campanha do tucano inclui essa informação no rol de "fake news", já que o tal santo seria "o codinome do ex-superintendente do Departamento de Estradas de Rodagem (DER), Pedro Blassioli, já falecido". A acusação de que Alckmin teria recebido 10 milhões de reais em caixa dois, baseada em delação da Odebrecht, acabou encaminhada pelo Superior Tribunal de Justiça para a Justiça eleitoral em abril, depois que ele perdeu o foro privilegiado ao deixar o Palácio dos Bandeirantes. No início deste mês, o Ministério Público de São Paulo ajuizou ação contra o ex-governador por improbidade administrativa por conta dessa denúncia.

Outro caso que abalou a imagem de Alckmin por tabela foi a denúncia da Lava Jato de São Paulo contra seu ex-secretário de Logística e Transportes Laurence Casagrande Lourenço, por fraude na licitação do Rodoanel. O ex-secretário foi preso em junho e recebeu habeas corpus na última terça-feira do ministro Gilmar Mendes para deixar a cadeia. Sempre que questionado sobre o caso, Alckmin diz que Lourenço é uma pessoa séria e correta e que está sendo injustiçado.

O atraso de obras como a do Rodoanel — previsto para ser finalizado em 2014, sua entrega foi remarcada para 2019 — não ajudam na popularidade do ex-governador. Em relação ao metrô, a promessa na campanha de 2010 era de entregar mais 30 quilômetros em quatro anos. Oito anos depois, a rede de 68,3 km foi ampliada para 89,8 km (mais 21,5 km), com a promessa de chegar a 102,4 km até o fim do ano.

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