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“Se Lula mandar votar, eu voto”: o ‘batismo’ de Fernando Haddad na cidade onde o ex-presidente nasceu

Um dia depois de a candidatura do ex-presidente ser barrada pelo TSE, seu vice passa o dia em Caetés Em sua estreia como o lado B de Lula tenta convencer eleitores que ainda não o conhecem

Haddad em Garanhuns, em foto divulgada pela campanha no Facebook.
Haddad em Garanhuns, em foto divulgada pela campanha no Facebook.
Marina Rossi

Sem medo de cair do cavalo, Fernando Haddad subiu decidido no alazão e deu uma breve cavalgada pelo agreste pernambucano neste sábado. Debaixo de um sol quente, o petista aproveitou o fim de uma sessão de filmagens de programas do PT em Caetés (PE), onde Lula nasceu, para relaxar por alguns breves minutos. Em seguida, vestindo um chapéu de cangaceiro feito de couro, abraçou alguns poucos moradores da região e outros tantos correligionários que o esperavam atrás de uma fita de isolamento. “Lula mandou votar em nós”, explicou, aos que perguntaram se era nele que o ex-presidente, preso em Curitiba e com a candidatura barrada há algumas horas, havia mandado votar.

Na madrugada anterior, o Tribunal Superior Eleitoral decidira tirar o nome do ex-sindicalista da disputa à presidência, por ele ter sido condenado em segunda instância pelos crimes de lavagem de dinheiro e corrupção passiva. Mas apesar da decisão, Haddad garante que nenhuma estratégia será mudada até que ele converse pessoalmente com Lula na próxima segunda-feira, em visita que fará à carceragem onde o petista está desde abril. “Vamos levar para ele o quadro jurídico sobre o que é possível fazer”, afirmou, sem explicar com quais possíveis cenários trabalha.

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A ida de Haddad ao berço de Lula – o ex-presidente nasceu em Caetés, na época em que o município ainda era um distrito de Garanhuns – havia sido marcada há tempos. A principal razão para a visita era gravar alguns programas para a propaganda na TV, que começou neste sábado. As filmagens ali fazem parte da estratégia de incorporá-lo à paisagem local, numa tentativa de colar o paulista a Lula.

Mas, no fim, diante do cenário imposto pelo TSE um dia antes, acabou por funcionar como uma espécie de batismo de quem deverá assumir nos próximos dias a chapa petista em uma das corridas presidenciais mais confusas da democracia brasileira. Seu primeiro teste de fogo como (quase) presidenciável, portanto, não poderia acontecer em um lugar mais simbólico. E, ao mesmo tempo, tão desafiador para um professor universitário cujo carisma, nem de longe, alcança o de Lula.

Haddad aproveitou o giro para conversar com lideranças locais e realizar um comício no centro da vizinha Garanhuns. Seu discurso carregado em um sotaque paulistano não empolgou as não mais de 1.000 pessoas que comparecerem ao ato político. Uma quantidade de público bastante distinta da vista há um ano pela região, quando, durante a caravana que fez pelo Nordeste, o ex-presidente encontrou uma multidão de eleitores por onde passou, enchendo praças e ruas ao redor do seu palanque. "Se fosse Lula, isso aqui estaria cheio", disse a vendedora Adriana Galvão, 45. "Mas, mesmo assim, se Lula mandar votar em Haddad, eu voto", ponderou.

Sem uma praça lotada, Haddad iniciou seu discurso ao lado de João Campos, candidato a deputado federal e filho de Eduardo Campos. Lembrou do ex-governador pernambucano, morto em um acidente aéreo durante a campanha passada, e encerrou dizendo “não vamos desistir do Brasil”. O slogan foi adotado pela campanha de Marina Silva em 2014, após a morte de Campos, quando ele tentava derrotar a então candidata petista, Dilma Rousseff. Grande parte dos agitadores de bandeiras presentes ali eram correligionários de João Campos.

No discurso breve, o ex-ministro da Educação também aproveitou para falar das conquistas de Lula no ensino superior. “A quantidade de histórias que a gente ouve aqui no Nordeste, de filho de pedreiro que foi para a universidade, é impressionante”, disse, sob alguns aplausos. Desde que a campanha começou oficialmente, em 16 de agosto, o petista foi o candidato que mais visitou a região Nordeste, passando, até o momento, por sete, dos nove Estados da região.

O casal Crisalda Barbosa e Raimundo Rodrigues em Garanhuns.
O casal Crisalda Barbosa e Raimundo Rodrigues em Garanhuns. M. R.

Assistindo ao discurso, a estudante Luana Caroline Tenório, 19, afirmou que é eleitora de Lula e, por tabela, de Haddad, justamente por ter tido acesso à universidade. “Estou na faculdade graças ao Prouni”, diz. “Eu sei os benefícios que um Governo do PT traz”. Mas nas ruas de Garanhuns, nem todos os eleitores estavam tão convencidos assim. O eletricista Raimundo Rodrigues Oliveira, 57, diz que ainda está em dúvida sobre quem será seu candidato. Eleitor de Lula, afirma que se puder, vota no ex-presidente novamente “com certeza”. Mas sobre Haddad, ainda não se decidiu. “Ele é de São Paulo, né? A gente mora aqui, não sabe das coisas que ele fez lá”, afirmou. “Já de Lula eu ouço falar desde sempre”. A esposa dele, a cozinheira Crisalda Barbosa dos Santos, 57, é uma entusiasta do PT. “Vou votar no Haddad porque ele é do partido de Lula”, diz. “Votaria em qualquer um que Lula indicasse”, diz ela, admitindo, porém, nunca ter ouvido falar em Haddad antes.

Curioso sobre o que o petista diria em Garanhuns, Ricardo Pedro da Silva, 43, foi assistir ao comício. Mas seu voto não será para Haddad. Ele afirma que, apesar de ter votado em Lula e em Dilma Rousseff nas eleições anteriores, não deposita mais confiança no PT. “Os governos do PT a gente já sabe como é”, diz. “Por isso, acho que Bolsonaro merece uma chance, por ser novo”, afirma, sobre o deputado federal e candidato do PSL. Ainda assim, ele acredita que o capitão não terá muitos votos em Garanhuns. “Não tem muito eleitor de Bolsonaro aqui. Acho que a maioria deve acabar votando em Haddad mesmo”, concluiu.

Era início da noite quando o comício terminou. A temperatura em Garanhuns, que é chamada por seus moradores de a "Suíça pernambucana", voltava a diminuir. Haddad, e sua campanha ainda morna, embarcaram naquela mesma noite em um avião fretado para Maceió. Azarão —com apenas 4% na última pesquisa em que o ex-presidente, ainda considerado candidato, tinha 39%—, ele tem exatos 36 dias de corrida para tentar passar para o segundo turno como o lado B de Lula.

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