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“Eu me identifico mais com o Amoêdo, mas dependendo das pesquisas eu vou acabar votando no Alckmin”

O estudante de Economia Bruno Suslik se entusiasma com as ideias liberais do NOVO, mas pondera que no dia da eleição pode acabar apoiando o PSDB por uma questão de pragmatismo

O estudante de economia Bruno Suslik.
O estudante de economia Bruno Suslik.Zédu Moreau
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Bruno Suslik, de 19 anos, foi para as ruas em 2015 para pedir o impeachment da ex-presidenta Dilma Rousseff. "Eu fui nas passeatas da Paulista, quase todas", conta o universitário que cursa Economia numa faculdade particular em São Paulo. Três anos depois, dará em outubro seu Primeiro Voto e se depara com um cenário que ele mesmo define como "um pouco pessimista": “Dos candidatos com chance de ganhar, não tem nenhum que você olhe e fale: ‘esse cara é fantástico’”, diz.

Suslik é um dos 9,5 milhões de brasileiros de 20 anos ou menos aptos a votar. Muitos fazem sua estreia nas urnas justamente nas eleições mais complexas dos últimos anos, que acontecem em meio a um quadro social tumultuado, marcado pelos reflexos da crise econômica, da polarização política e dos desdobramentos da Operação Lava Jato. Ele poderia ter votado na eleição para prefeito de São Paulo em 2016, mas, recém retornado de um intercâmbio no exterior e em meio aos estudos para passar no vestibular, deixou escapar o prazo para tirar o título. Garante, no entanto, que não vê no voto uma mera obrigação. "Eu quero votar, eu acho importante fazer parte do processo político", diz.

No terceiro semestre da faculdade, Suslik não esconde que está se preparando para ser um economista de tendência liberal e que, na hora de definir o voto, levará em conta temas que talvez tenham pouco apelo entre eleitores da sua idade: reforma da Previdência ("se não resolver, vai causar um problema futuro muito grande"), eficiência do Estado e privatizações das estatais. "Eu me identifico mais com o [João] Amoêdo (NOVO), mas vai depender muito de como ele estiver nas pesquisas. Se não, eu vou acabar votando no [Geraldo] Alckmin (PSDB), porque são dois candidatos mais ou menos parecidos. Os dois prezam um pouco mais por uma abertura econômica", conta.

Pessoas com o perfil de Suslik —de classe média alta, que defendem ideias liberais e que em outros tempos formavam um eleitorado cativo do PSDB— estão na mira de Amoêdo, que se lançou na corrida presidencial pelo recém-criado partido NOVO. É um eleitorado que não tem tamanho para tirar o megaempresário da condição de "nanico" nestas eleições, mas que representa um ativo importante por se tratar de um grupo que que está no topo da pirâmide social brasileira. Embora some apenas 1% das intenções de voto e cinco segundos na propaganda eleitoral, Amoêdo tem um trunfo de alto alcance entre jovens como Suslik: a forte presença nas mídias sociais, sobretudo com posts patrocinados que impulsionam a sua visibilidade em redes como o Facebook.

Lava Jato

O receio que Suslik manifesta em relação a Alckmin pode ser mais bem entendido quando o estudante é questionado sobre outro tema que considera fundamental na hora de escolher o seu candidato — e que tem se revelado um peso para os membros dos partidos tradicionais no Brasil: o combate à corrupção. "O Alckmin fez um bom Governo em São Paulo, mas você vê que ele não é um candidato 100% Ficha Limpa, então afasta um pouco", diz o estudante, referindo-se às denúncias de que o tucano teria utilizado caixa dois nas duas últimas eleições para governador do Estado. Alckmin nega as acusações.

Já Amoêdo, afirma Suslik, é de fora desse meio e por isso representa o verdadeiramente "novo" nestas eleições. "Ele é o candidato novo, nunca foi da política. Talvez por não ter o histórico dos outros candidatos, ele pode trazer algo de diferente para o Brasil", conta.

Apesar de não ter se unido formalmente a nenhum dos grupos que promoveram os atos pela destituição de Dilma, Suslik continua valorizando alguns dos assuntos que foram centrais naquelas passeatas. Entre eles, a defesa da operação Lava Jato. "Você tem que votar alguém que apoia a Lava Jato", opina. "Tem que optar por um candidato que vai fazer uma política econômica bem definida, com uma abertura comercial maior, mas não pode deixar de fora temas como combate à corrupção, aprovando leis que facilitem a Lava Jato". Para ele, a corrupção no Brasil é "sistêmica", mas houve avanços recentes, como a prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "Ainda falta muita coisa", desabafa.

Bolsonaro

O interesse por economia e pela situação política do país vem de cedo, algo que o jovem diz ter desenvolvido principalmente ao longo de conversas com o pai, que é médico. A partir do ensino médio a curiosidade pelo funcionamento do sistema financeiro só fez crescer, também estimulada pelo pai, que passou a levá-lo a palestras de investidores promovidas por bancos.

Suslik pondera, no entanto, que a sua defesa por uma abertura econômica maior ou por políticas menos intervencionistas não significam um apoio imediato a qualquer candidato que defenda essas bandeiras. Um exemplo é o caso de Jair Bolsonaro (PSL). "Particularmente não gosto muito [do Bolsonaro], porque é um candidato que estimula muito a a polarização. Ele sempre vai com opiniões um pouco mais polêmicas. Algumas coisas que ele fala são preconceituosas", diz. Para além disso, mesmo na seara econômica o capitão reformado do Exército lhe gera insegurança. "É uma incógnita. Teoricamente o Bolsonaro está com um economista bom, o Paulo Guedes. Mas com o histórico de votações dele não tem como ter certeza que ele vai realmente seguir o que o Guedes está falando. Não dá para ter certeza até quando ele vai seguir o Guedes, ele não tem um projeto de Governo estruturado", conclui.

Durante estas eleições, o EL PAÍS apresenta a seção "Primeiro Voto", que traz o perfil de um jovem que está prestes a estrear no processo eleitoral. Leia outras histórias de eleitores que votam pela primeira vez neste ano.

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