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Trump usa crime cometido por mexicano para pregar contra imigração

Jovem estrangeiro em situação irregular confessou ter matado uma estudante em Iowa

Antonia Laborde
Cartaz com a imagem de Mollie Tibbetts, vítima de assassinato
Cartaz com a imagem de Mollie Tibbetts, vítima de assassinatoAP

Os Estados Unidos passaram um mês procurando algum rastro de Mollie Tibbetts. A jovem de 20 anos saiu para correr em Brooklyn, Iowa, em 18 de julho, e nunca mais voltou. A polícia ouviu mais de 500 pessoas, e a recompensa para quem a encontrasse foi crescendo junto com o desespero dos seus pais. Finalmente, uma câmera de segurança mostrou um carro rondando a estudante enquanto ela trotava. O Chevy Malibu preto pertencia a Cristhian Bahena Rivera, um imigrante mexicano sem papéis de 24 anos que nesta terça-feira, 23, confessou ter matado Tibbetts. O presidente Donald Trump aproveitou o caso para vincular o crime à imigração ilegal e fez um apelo para que o eleitorado vote nos republicanos em novembro, para que assim as leis possam ser mudadas. “Isto nunca deveria ter acontecido”, disse num comício.

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Fiel ao seu estilo, o mandatário norte-americano se referiu ao assassinato de Tibbetts durante um ato eleitoral na terça-feira à noite em Virgínia Ocidental: “Vocês escutaram hoje sobre a chegada de um imigrante ilegal, muito tristemente do México, e o que aconteceu com essa incrível e linda jovem”, introduziu o mandatário. “Nunca deveria ter acontecido… ele estava ilegalmente em nosso país. As leis de imigração são uma desgraça, temos que mudá-las, mas temos que ter mais republicanos para isso”, disse o presidente, a quatro meses das eleições legislativas.

As autoridades estaduais e federais prenderam Rivera na segunda-feira. O jovem de 24 anos, oriundo de Guayabillo, uma comunidade com menos de 500 habitantes no Estado mexicano de Guerrero, vive irregularmente nos EUA há alguns anos. No vídeo de segurança obtido durante uma investigação no bairro, Tibbetts aparece correndo na zona leste de Brooklyn enquanto Rivera vai e volta com o carro repetidas vezes, segundo documentos judiciais apresentados nesta terça-feira. “Não posso falar dos motivos que o levaram a cometer o assassinato, só posso dizer que parece que a seguiu, pareceu sentir-se atraído por ela, e pela razão que fosse decidiu sequestrá-la”, afirmou o agente especial Rick Rahn em entrevista coletiva.

Rivera disse às autoridades que viu Tibbetts correndo e “perseguiu-a em seu veículo”. Mais tarde, estacionou o carro e começou a correr perto dela. “Num dado momento, nos disse que Mollie pegou seu telefone e lhe advertiu: ‘Você deve me deixar em paz. Vou chamar a polícia’. Depois, ela saiu correndo, e ele, por sua vez, a perseguiu”. O assassino confesso diz que a ameaça de chamar a polícia o fez entrar em pânico, e que ele não se lembra do que aconteceu depois, segundo o depoimento entregue à Justiça. Quando foi tirá-la do porta-malas, “notou sangue na lateral da cabeça”. Deixou-a deitada de costas num milharal, coberta de folhas, a 20 quilômetros de onde se encontraram. Ele mesmo levou as autoridades ao local onde tinha deixado o corpo.

Ao conhecer a origem do assassino, o fato migrou para o terreno político. Os senadores republicanos Chuck Grassley e Joni Ernst defenderam que essa morte “poderia ter sido evitada”. Trump, por sua vez, teima em relacionar os indocumentados à delinquência. Já sustentou em numerosas ocasiões que o México envia “estupradores” e “criminosos” para o seu país, e que o crime organizado está “explorando” as vulnerabilidades na fronteira sul para colocar sua gente nos EUA. A construção de um muro fronteiriço é um dos pilares da sua política migratória, mas, quase dois anos depois de chegar à Casa Branca, ainda não consegue o apoio orçamentário necessário para construí-lo.

A governadora republicana de Iowa, Kim Reynolds, disse que “a busca por Molly terminou, mas a reivindicação de justiça acaba de começar”. “Estamos furiosos porque um sistema de imigração falido permitiu que um predador como este vivesse em nossa comunidade, e faremos tudo o que pudermos para fazer justiça pelo assassino de Mollie”. Pela informação conhecida até agora, Rivera não tinha antecedentes penais, e não está claro se alguma vez esteve sujeito a procedimentos de deportação. O mexicano era há quatro anos funcionário da fazenda Yarrabee.

Rivera está cooperando com os investigadores com a ajuda de um intérprete, conforme detalhou o agente Rahn. Uma condenação por homicídio em primeiro grau (doloso) acarreta em Iowa a pena obrigatória de prisão perpétua sem direito a liberdade condicional. O Estado não pratica a pena de morte.

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