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Eleições Brasil 2018
Coluna
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As eleições do desencanto e do medo

Quase 60% dos cidadãos com direito a voto ainda não sabem se irão às urnas ou anularão

Juan Arias
Manifestantes protestam contra o Governo Dilma em Curitiba no dia 13 de março.
Manifestantes protestam contra o Governo Dilma em Curitiba no dia 13 de março.Heuler Andrey (AFP)
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As eleições brasileiras deste 2018, que despontavam como as de uma redenção da velha política para dar lugar a um novo ciclo de maior democracia e participação popular, aparecem, a menos de dois meses de ir às urnas, como as do desencanto e até do medo. E da maior incerteza desde os tempos da ditadura.

O desencanto dos brasileiros tem números: quase 60% dos cidadãos com direito a voto ainda não sabem se irão às urnas ou anularão. Até os candidatos que aparecem com maior consenso nas pesquisas apresentam, a começar por Lula, uma rejeição de 60%. É a primeira vez que, sem ele, que certamente não poderá disputar as eleições por estar condenado em segunda instância, quem lidera a corrida é um extremista de ultradireita, ex-capitão do Exército que escolheu como vice um general da reserva defensor da ditadura militar e da tortura. E pela primeira vez disputarão as eleições mais de cem militares.

A esquerda, que tinha esperanças de recuperar o poder, depois do inferno do impeachment de Dilma e do desastre do Governo Temer, encontra-se incapaz de se unir, paralisada pela incógnita de Lula ao não desistir da candidatura, o que impediu seu partido, o PT, de apostar num candidato progressista de outra agremiação, apoiado desta vez pelos seguidores de Lula. A ordem é ou ele ou ninguém.

O centro e a centro-direita se apresentam contaminados pela rejeição da sociedade, por se tratarem dos partidos mais sacudidos pela corrupção e alvo das condenações da Lava Jato, que de esperança de limpeza política se tornou uma incógnita e até fator de desestabilização da política.

Se as eleições de 2018 se apresentavam como esperança de início de um novo ciclo político que restabelecesse a economia e abrisse novos espaços para as reformas que nenhum Governo no passado teve a coragem de enfrentar, por serem impopulares, os brasileiros já olham para 2022, ao darem por perdido este pleito.

Mais ainda, sobre estas eleições se abatem já as nuvens negras de um novo impeachment caso Lula seja impedido de participar, já que foi cunhado o slogan “eleição sem Lula é fraude”, porque impediria 30% da população, a parcela que declara voto nele, de escolher o seu candidato. Na outra margem, ecoa também slogan inverso: “Eleição com Lula é fraude”, já que a lei da Ficha Limpa o impede de concorrer.

O máximo que os analistas políticos se atrevem a profetizar é que nunca, nos últimos 20 anos, uma eleição foi, semanas antes de ser disputada, tão incerta e com tanto desencanto e até medo, dois componentes dos quais o Brasil não necessita neste momento, com mais de 14 milhões de desempregados, uma economia fragilizada e o recrudescimento da violência com um triste balanço de 63.000 homicídios anuais, a maioria de jovens negros e pobres.

Tudo perdido? Não. A sociedade brasileira, apesar da crise política que a sacode, é viva e conta com uma democracia ameaçada, mas consolidada, e não perdeu a esperança de dar vida a uma substituição que, se não parecer possível desta vez, continua em germinação, porque junto com o desencanto pelos políticos não morreu a vontade por uma renovação que acabe com a velha república dos privilégios e das castas, para dar à luz uma nova primavera de democracia e bem-estar.

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