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“É um absurdo alguém jogar no lixo a dignidade humana para ganhar votos”

Ivo Herzog, filho do jornalista Vladimir Herzog, critica o presidenciável Jair Bolsonaro que minimizou em entrevistas a morte do seu pai, assassinado durante o regime militar

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Ivo Herzog, presidente do Conselho do Instituto Vladimir Herzog, viu o candidato Jair Bolsonaro questionar a morte do pai dele durante a entrevista à jornalista Mariana Godoy, no dia 7 de julho. O tema foi minimizado pelo presidenciável do PSL também na entrevista ao programa Roda Viva, do dia 30 de julho. Vlado, como era conhecido, foi assassinado em outubro de 1975, quando compareceu para prestar depoimento no Exército, a pedido do Governo militar. Foi torturado antes de ser morto, mas o regime ocultou o crime simulando seu suicídio, uma mancha na história brasileira que tem levado décadas para ser corrigida. As falas do candidato soaram como agressão a Ivo Herzog. “Um candidato esclarecido que usa esse tipo de coisa, do espetacular para conquistar voto. E se usa isso, a partir de total desrespeito com o sentimento de outras pessoas, é uma pessoa, com o perdão da palavra, escrota”, disse Ivo. “É um absurdo jogar no lixo a dignidade humana para ganhar votos. É uma pessoa dessa que queremos como nosso líder? Não falo o nome dele, porque para mim ele é uma pessoa é uma pessoa desprezível”, completou.

Para Herzog, deixar de reconhecer o passado traz consequências até hoje para o Brasil por legitimar a violência do Estado, principalmente na polícia. “Se reproduz em casos com o de [a vereadora do PSOL] Marielle [Franco, assassinada em março], ou Amarildo [pedreiro assassinado em 2013]. A família de Herzog processou o Estado brasileiro logo após a morte do patriarca da família, e teve uma vitória parcial em 1978, quando um juiz reconheceu a responsabilidade do Estado. Mas a certidão de óbito do jornalista mantinha a versão do suicídio. A briga na Justiça continuou, até que a família conseguiu do Estado o compromisso para corrigir a certidão. Em 2014, eles receberam o documento corrigido. A família, contudo, continuou sua luta, desta vez pela Corte Interamericana, para que o Estado reconhecesse formalmente a responsabilidade pelo crime. Venceu, e agora o Ministério Público reabriu as investigações sobre o caso. Para Ivo, é uma vergonha que o país tenha de recorrer a uma corte internacional para admitir a própria história.

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