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No debate da Band, Alckmin vira alvo e nanico Daciolo rouba a cena nas redes

Presença de oito candidatos dilui debate e explicita problemas para a candidatura do PT. Ciro e Boulos foram menos acionados, e tucano, dono do maior tempo de TV, o mais buscado

Composição com as fotos dos candidatos presidenciais.
Composição com as fotos dos candidatos presidenciais.NELSON ALMEIDA (AFP)
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Morno e sem grandes momentos de polarização direta, o primeiro debate presidencial na TV das eleições 2018, na Band, evidenciou o tucano Geraldo Alckmin, dono do maior tempo na propaganda eleitoral gratuita na TV, como o alvo preferencial dos adversários. Além de lançar o candidato nanico Cabo Daciolo, do Patriota, ao estrelato nas redes e nos memes por causa de sua participação histriônica, o programa também deixou claro os problemas da candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, preso e virtualmente impedido de concorrer pela Lei da Ficha Limpa. Em pouco mais de três horas de exposição dos postulantes da TV aberta, o petista, que aparece como o líder das pesquisas de intenção de voto, foi citado apenas uma vez, e no começo - ainda que a memória da era de ouro do lulismo, antes de o país amargar a recessão, tenha sido evocada algumas vezes.

A noite mostrou que Geraldo Alckmin, mesmo à espera da propaganda na TV para tentar decolar nas pesquisas, provoca nos oponentes a percepção de que sua candidatura tem potencial de crescimento e deve ser atacada em nome de um lugar no disputado segundo turno. Alckmin foi duramente questionado, de Henrique Meirelles (MDB) à Marina Silva (REDE) passando por Ciro Gomes - o pedetista, ávido por exposição porque terá pouco a fazer no horário eleitoral, acabou relativamente isolado no debate.

Não houve uma polarização ideológica clássica direita x esquerda. Em certo um momento, Boulos disparou: “Aqui tem 50 tons de Temer. Até quem está propondo o novo, estava ano passado aprovando tudo do Temer”, provocou o líder do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto) para tentar colar os adversários a imagem do Governo Temer, o mais impopular da história. Até Meirelles, ex-ministro da Fazenda do atual Governo e candidato governista, tentou se afastar do Planalto e se aproximar de seu passado lulista — algo que Marina Silva e Ciro Gomes, ex-ministros de Lula, também fizeram em determinados momentos ao exaltar alguns feitos pessoais. Pouco articulado, Meirelles acusou o PSDB de Alckmin de chamar o programa Bolsa Família de "Bolsa Esmola”. Restou ao tucano elogiar o programa e citar que ele teve origem no Governo FHC - uma tentativa de puxar a memória do eleitor para algo que já faz duas décadas.

Alckmin, por sua vez, ao invés de escolher Jair Bolsonaro, que lidera as pesquisas em cenários eleitorais sem Lula, acabou mirando a menos beligerante Marina Silva para direcionar suas perguntas. A profusão de candidatos — oito — e a predileção dos adversários pelo tucano acabaram também por retirar protagonismo de Bolsonaro. O candidato de extrema-direita do PSL teve menos espaço para abusar de frases feito na área de segurança e em desprezo ao direitos humanos, como nas recentes sabatinas televisivas. "Bolsonaro atuou sem criar conflito com nenhum candidato. Uma boa estratégia”, avaliou Eduardo José Grin, cientista político e professor do Departamento de Gestão Pública da Escola de Administração da Fundação Getúlio Vargas, que comentou em tempo real para o EL PAÍS a performance dos candidatos.

O capitão reformado do Exército foi o tema mais buscado na Internet segundo o Google, que fez uma parceria com a Band para analisar o interesse pelo debate no mundo virtual. No entanto, à medida que o programa se desenrolou, Bolsonaro dividiu os holofotes especialmente com Cabo Daciolo. Os momentos mais esdrúxulos ficaram por conta da estreia de Daciolo em rede nacional, que em alguns momentos fez dobradinha, ao menos temática, com Bolsonaro. Daciolo, deputado federal e ex-bombeiro militar, imprimiu o vozeirão para responder, muitas vezes de maneira desconexa, às perguntas feitas. "Os maiores criminosos do país são engravatados”, disse. Virou o segundo tópico mais comentado no Twitter, depois do próprio debate, que, no auge, marcou quase 7 pontos no Ibope, contra 25 pontos da TV Globo. Cada ponto equivale a 71,8 mil pessoas ou 201 mil pessoas.

Com exceção de Boulos, todos os candidatos exploraram as citações a Deus flertando com o eleitorado cristão. Violência, desemprego e crise do Estado foram os temas mais recorrentes - aborto e desigualdade de gênero também foram mencionados. Só dois candidatos, Marina e o próprio psolista, acabaram tendo que responder uma pergunta de uma jornalista sobre a questão da interrupção da gravidez. "Esse é um tema complexo, que envolvem questões filosóficas, morais e religiosas. Aborto não pode ser advogado como método contraceptivo, defendemos o planejamento familiar para que as mulheres não precisem recorrer a isso”, disse Marina Silva, que, evangélica, não deu posição direta e disse que o tema deve ser decidido em referendo. Boulos, cauteloso na resposta, falou como a desigualdade social afeta o tema: as mulheres pobres são as que mais sofrem porque a interrupção da gravidez não é legalizada.

Enquanto o debate se desenrolava, o PT fez um programa paralelo, transmitido pelo Facebook, estrelado por alguns vídeos de Lula e com o vice e plano B, Fernando Haddad, e a vice stand-by, Manuela D’Ávila. O vídeo de 2h30 teve 700.000 visualizações.

Assim contamos em tempo real o debate da Band. Veja também as reações após o programa.

Flávio Bolsonaro, candidato a senador no Rio de Janeiro, deu sua visão sobre o resultado do debate esta noite: "para mim os candidatos abriram mão de atacar o líder [Jair Bolsonaro] e estão disputando para ver quem estará no segundo turno com ele".

Vice-líder do Governo Temer na Câmara, o deputado Darcísio Perondi (MDB-RS) se disse satisfeito com o desempenho de Henrique Meirelles nesta noite, considerando que ele estreia enquanto candidato. Segundo Perondi, Meirelles é o candidato mais consistente.
Meirelles segue falando do que fez há 15 anos e não fala de Temer. Discurso aposta que o eleitor vai valorizar a experiência de governo, o que julga que é uma qualidade sua. É preciso ver se pega no eleitor quando se depara com desemprego, por exemplo. A conferir na campanha.
Alckmin destacando o tema da governabilidade, o que busca com o apoio do centrão no Congresso. Foco na redução do tamanho do Estado e na necessidade do ajuste fiscal. Tem-se aí o fio condutor de seu discurso e sua narrativa para se tornar didático e claro para o eleitor.

Cabo Daciolo leu uma passagem da Bíblia nas suas considerações finais.

Cabo Daciolo precisa saber que o Estado é laico e esse discurso religioso é perigoso para a democracia e para a tolerância religiosa. Seu discurso é um verdadeiro retrocesso.

Álvaro Dias cansou com a repetição do tema da corrupção. Discurso final vazio e apostando que o tema da corrupção será capaz de gerar apelo eleitoral.

Bolsonaro confirma em sua última manifestação que teve a torcida mais animada e barulhenta da plateia no debate desta quinta-feira.

Bolsonaro converando com agenda de direita: escola sem partido, sem ideologia de gênero, o fim do comunismo, o medo da segurança pública e da política externa ideológica. Aqui Bolsonaro foi mais coerente com seu discurso. Destaque e saudar Deus: lembrar que dialoga com os evangélicos por meio de Magno Malta.

 

Jair Bolsonaro diz que é o único "honesto, patriota e com Deus no coração". Promete que fará escolas sem ideologia de gênero e vai impor a escola sem partido.

Marina falando para o eleitorado feminino e destacando o papel do Estado e do serviço público, sobretudo da educação.

Marina Silva: "Nós não podemos ser o país que admira as exceções, temos que ser o país que admira as suas regras", diz ela.

Boulos e a retórica da nova política foi pouco efetivo. Muito genérico, mas uma vez mais falou para o seu público. A candidatura busca construir o partido.

Boulos: "Muita gente vai dizer que o Brasil não tem jeito. Mas tem, basta fazer a política de um jeito novo. Aqui não é o projeto dos 50 tons de Temer. Todos que vão falar depois de mim apoiaram o golpe. O meu projeto não tem medo de mudar o Brasil".

Ciro focando no tema do desemprego e do trabalho. Sabe que é uma tema de enorme apelo popular. Estranha solicitar a benção de Deus, dado o seu histórico. Talvez porque o eleitor evangélico, sobretudo do Nordeste, é um eleitor de Lula que Ciro deseja disputar.

Começam as considerações finais. Ciro Gomes: "Vou criar 2 milhões de empregos já no primeiro ano e ajudar aqueles que estão com o nome sujo no SPC", promete.

Entramos em mais um intervalo do debate.

Meirelles diversificando seu discurso. Ainda teremos que ver até onde ele conseguirá propor medidas para além da agenda econômica durante a campanha.
Nas últimas duas horas, os candidatos mais buscados no Google foram Jair Bolsonaro (com 22% das buscas), Cabo Daciolo (20%) e Álvaro Dias (19%)
Boulos poderia explicar como fará para implantar tantas mudanças de fundo como essas propostas. Para a eleição se entende o discurso, mas na vida real a situação é outra. Não são agendas fáceis.

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