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Trump ameaça paralisar o Governo se democratas não financiarem muro com o México

Presidente retoma a chantagem em assuntos imigratórios, que poucos resultados lhe trouxe até agora

Donald Trump retoma sua tática favorita, que no entanto quase nunca deu certo para ele: chantagear a oposição democrata para obter a aprovação de políticas de pulso firme contra a imigração. O presidente norte-americano disse neste domingo, 29, que estaria disposto a forçar uma paralisação orçamentária do Governo federal, a partir de 1º. de outubro, se os democratas não aprovarem a construção de um muro na fronteira com o México e outras medidas de restrição à imigração legal e irregular. Os republicanos têm maioria no Senado, mas necessitam do apoio de pelo menos nove democratas para aprovar leis orçamentárias, o que enfurece Trump sobremaneira. Uma paralisação da Administração implica que não há recursos para os serviços não essenciais, e muitos funcionários públicos param de trabalhar.

Trump num ato na quarta-feira na Casa Branca
Trump num ato na quarta-feira na Casa BrancaJoshua Roberts (REUTERS)
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“Estaria disposto a fechar o Governo se os democratas não nos derem os votos para a segurança fronteiriça, o que inclui o muro”, escreveu pelo Twitter no seu clube de golfe de Nova Jersey, onde passa o fim de semana. O mandatário novamente reivindicou que as autoridades possam deter por mais tempo os imigrantes indocumentados, acima dos limites atuais determinados pelo Judiciário, e também defendeu o fim do sistema de sorteio para determinados vistos, passando a um modelo meritocrático. “Necessitamos que grandes pessoas venham para o nosso país”, escreveu. Após um sábado de surpreendente silêncio, Trump voltou à carga na rede social neste domingo, com uma enxurrada de mensagens incendiárias, entre eles reiterando sua descrição dos meios de comunicação como “o inimigo do povo”.

O tuíte foi uma espécie de déjà vu. “Nosso país precisa de um bom fechamento para arrumar esta confusão”, escreveu Trump no Twitter em maio de 2017. “Se não mudarmos a legislação, se não acabarmos com as frestas pelas quais se permite aos assassinos entrarem no país e continuar matando [...], se não mudarmos isso, então que tenhamos um shutdown”, disse em fevereiro deste ano, num ato sobre a gangue Salvatrucha.

Em ambas as ocasiões, os democratas rejeitaram a verba para o muro, e Trump acabou cedendo ao assinar uma prorrogação dos recursos federais. De fato houve em janeiro um breve shutdown de três dias, coincidindo com o primeiro aniversário da posse do presidente. Na época, foi permitido pelos democratas depois que Trump e os republicanos tentaram usar como arma de negociação o futuro legal dos dreamers, imigrantes indocumentados que chegaram aos EUA ainda como menores de idade. A crise foi resolvida com um acordo bipartidário que deixava de lado a situação desse coletivo.

Ao ameaçar parar o Governo, Trump volta aos seus instintos mais intempestivos e ignora a cúpula conservadora do Congresso, que prefere uma prorrogação dos recursos isenta de polêmicas. O mandatário atiça de novo o discurso anti-imigração com o objetivo de contentar a sua base mais sólida, evidenciando também sua frustração por descumprir sua promessa eleitoral de construir um muro com o México – originalmente, ele dizia que o país vizinho pagaria pela obra. Mas a jogada pode ser muito arriscada, porque um hipotético shutdown ao final deste ano fiscal, em 30 de setembro, teria lugar apenas cinco semanas antes das eleições legislativas que decidirão se os republicanos mantêm o controle das duas Câmaras do Congresso e serão um claro exame sobre o presidente.

Trump pediu 25 bilhões de dólares (93 bilhões de reais) ao Congresso para erguer os trechos ainda faltantes na separação física entre os EUA e o México. O muro virou um emblema eleitoral da demonização de Trump com a imigração irregular. Entretanto, tudo o que o mandatário conseguiu até agora foram 1,6 bilhão no último orçamento para renovar barreiras atuais, mas não para construir novas. A obsessão do republicano é mostrar avanços a seus eleitores em sua cruzada contra a imigração. Já tentou isso em maio, com sua política de separação de pais e filhos indocumentados na fronteira, mas em junho teve que revogá-la após provocar uma enorme polêmica, inclusive dentro das fileiras conservadoras.

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