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Morrer abraçados em um fogo inexorável

Autoridades gregas encontraram os corpos carbonizados de 26 pessoas abraçadas entre si em Mati

Bombeiros junto aos cadáveres carbonizados em Mati.
Bombeiros junto aos cadáveres carbonizados em Mati.P. S. (EFE)

Um cenário de sonho, florestas de pinheiros exuberantes que despencam sobre enseadas isoladas abertas para o mar Egeu, tornou-se uma armadilha de incêndio na segunda-feira. Ao contrário dos incêndios anteriores, como aqueles que durante dias varreram o Peloponeso e a ilha de Evia no verão de 2007, resultando em 77 mortes, desta vez, o alto índice de construção da área e a resistência de muitos vizinhos de deixar suas casas —algumas construídas ilegalmente, no meio da floresta— provocaram um resultado chocante. Como a descoberta dos corpos carbonizados de 26 pessoas abraçadas entre si, conscientes de que elas seriam engolidas pelas chamas, em Mati (a cerca de trinta quilômetros de Atenas), a poucos metros do mar, onde tantos habitantes da região encontraram refúgio.

"Tentaram encontrar uma via de escape, mas, infelizmente, estas pessoas e seus filhos não o fizeram a tempo. Instintivamente, quando viram que o fim se aproximava, se abraçaram", disse Nikos Economopoulos, chefe da Cruz Vermelha grega, à televisão local Skai TV.

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Os incêndios que rodeiam Atenas, em imagens (EM ESPANHOL)

Mas nem sequer as transparentes águas do Egeo serviram de muito. Outros quatro vizinhos que conseguiram chegar ao mar também acabaram morrendo, provavelmente por asfixia ou pelo calor provocado pela combustão das árvores, com uma temperatura ambiente que durante todo o dia esteve perto dos 40 graus e com frequentes mudanças de vento que tornaram quase impossível combater as chamas. As autoridades portuárias indicaram a France Presse que se tratava de três mulheres e uma criança.

Um homem observa o estado em que ficaram vários carros calcinados em Mati (Grécia), nesta segunda-feira.
Um homem observa o estado em que ficaram vários carros calcinados em Mati (Grécia), nesta segunda-feira.YANNIS KOLESIDIS (EFE)

Mati, um pequeno povoado localizado em Rafina e destino turístico muito popular situado a tão só uns 30 quilômetros ao leste de Atenas, converteu-se de repente em um dos epicentros dos dramáticos incêndios que já provocaram a morte de pelo menos 60 pessoas. Imagens terríveis, como cães chamuscados tentando achar refúgio em penhascos a poucos metros da orla marítima, ou o transporte de cadáveres e feridos esta manhã no porto de Rafina —que nos últimos dias fervia com atividades turísticas, já que é o ponto de conexão entre o continente com as ilhas Cíclades—, são retratos de uma história ainda por contar: o número total de vítimas, que pode piorar (há feridos por queimaduras e intoxicação em estado muito grave, e ainda se buscam desaparecidos); como se originou o fogo (segundo o Ministério do Interior, foi provocado) e, posteriormente, quais são as responsabilidades políticas, e a consequente briga monumental entre partidos, que virão como consequência da tragédia.

Os guarda-costas estão percorrendo as praias para encontrar eventuais sobreviventes. Graças a eles e outros barcos, 696 pessoas que fugia até o mar tentando proteger-se do fogo foram resgatadas. O Corpo de Bombeiros do país informou que a intensidade e a propagação do incêndio em Mati começou a diminuir, embora não esteja ainda não completamente controlado. O serviço de emergência instou aos residentes a informar sobre familiares e amigos desaparecidos. A maioria das vítimas ficou presa no povoado de Mati e faleceu em suas casas e carros, conforme declarou o porta-voz do governo grego, Dimitris Tzanakopoulos.

O país vive uma onda de calor, com temperaturas de até 40 ºC es segundo os serviços meteorológicos, as condições continuarão sendo complicadas nesta terça-feira.

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