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Ortega descarta renunciar à presidência da Nicarágua

Mandatário nicaraguense afirma que os paramilitares são controlados por partidos políticos

Antonia Laborde
O presidente da Nicarágua, Daniel Ortega, durante o 39 aniversário da revolução sandinista.
O presidente da Nicarágua, Daniel Ortega, durante o 39 aniversário da revolução sandinista.AFP
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Daniel Ortega parece viver em outra Nicarágua. De seu ponto de vista, seu Governo não reprime os manifestantes que protestam desde abril contra seu regime. Os bispos e religiosos não foram atacados. Está ocorrendo uma “normalização” em meio aos protestos. E a violência nas ruas é exercida por paramilitares que o Executivo não controla. Além disso, descarta antecipar as eleições presidenciais apesar da pressão exercida pela oposição e órgãos internacionais: “Nosso período eleitoral finaliza com as eleições de 2021”, disse nesta segunda-feira em uma entrevista ao canal norte-americano Fox News. A declaração foi dada horas antes de a estudante brasileira Raynéia Gabrielle Lima, de 31 anos, ter sido assassinada por um grupo paramilitares, no sul de Manágua, capital do país.

No mesmo dia que os estudantes saíram às ruas em Manágua para protestar pelos mais de 100 alunos que morreram nas sangrentas manifestações iniciadas há mais de três meses na Nicarágua, o presidente Ortega afirmou que há uma semana a situação está se normalizando. Disse que tudo começou com a aprovação “imprescindível” da reforma da Previdência. “Primeiro foram grupos pequenos que protestaram, mas depois vieram manifestantes violentos e grupos paramilitares” que levaram o país à situação insustentável em que se encontra e que deixou mais de 350 mortos. Estamos presenciando um “autêntico terrorismo”, afirmou depois.

O mandatário deixou claro que não leva em consideração a resolução que a Organização dos Estados Americanos (OEA) aprovou há menos de uma semana, que pedia a Ortega a antecipação das eleições: “Nosso período eleitoral termina com as eleições de 2021, quando teremos nossas próximas eleições”. Afirmou que não o faria, “muito menos agora”, quando fazê-lo criaria “instabilidade, insegurança e pioraria as coisas”.

A Igreja Católica, que exerceu o papel de mediadora durante a crise política, ainda que o apelo ao diálogo nacional esteja parado pela intransigência do Executivo, foi atacada por Ortega. Durante a comemoração do 39º aniversário da Revolução Sandinista no sábado, o mandatário disse: “Eu pensava que eram mediadores, mas não, estavam comprometidos com os golpistas”. Na segunda-feira, entretanto, suas palavras foram diferentes. “A Igreja possui todos os tipos de facilidades; nenhum nicaraguense morreu em uma igreja”, afirmou. A paróquia Divina Misericórdia de Manágua, onde morreram dois estudantes em um confronto anterior, tem dezenas de buracos de balas em seus muros.

Em vídeo, protestos contra Ortega.Vídeo: REUTERS-EPV

Ortega, que presidiu o país entre 1979 e 1990, e agora desde 2007, afirmou que foram as forças paramilitares a atacar a polícia nicaraguense, que pretendia proteger a população das revoltas. “De noite, quando não existem manifestações pacíficas, tivemos ataques efetuados pelas forças paramilitares, organizadas por opositores ao Governo”, disse. Essas forças, como explicou, são controladas por partidos políticos; alguns com representação na Assembleia Nacional, outros não.

Os Estados Unidos foram um dos países que pressionaram diversas vezes para que Ortega deixe o poder. O ex-líder da revolução sandinista lembrou a Donald Trump durante a entrevista que as relações bilaterais foram “muito dolorosas”, por isso não quer que a história se repita. “Somos um país pequeno com uma economia frágil, mas merecemos respeito”, concluiu.

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