_
_
_
_
_

Europa pede a China, EUA e Rússia que evitem a guerra comercial “para prevenir o conflito e o caos”

Pequim e Bruxelas decidem trabalhar numa reforma da Organização Mundial do Comércio para preservar o sistema multilateral

O primeiro-ministro chinês, Li Keqiang, com o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, e o da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker. Em vídeo, declarações de Tusk.
O primeiro-ministro chinês, Li Keqiang, com o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, e o da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker. Em vídeo, declarações de Tusk.HOW HWEE YOUNG (EFE)

O presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, advertiu nesta segunda-feira em Pequim para os perigos de uma guerra tarifária entre os dois principais blocos comerciais do planeta (China e EUA), cobrando sua colaboração para preservar o sistema multilateral e “prevenir o conflito e o caos”. Horas antes da cúpula entre Donald Trump e Vladimir Putin em Helsinque, Tusk defendeu uma revisão das normas que regulam o comércio internacional no marco da Organização Mundial do Comércio (OMC), incorporando assuntos difíceis como os subsídios estatais e os direitos de propriedade intelectual, origem da atual luta comercial entre os EUA e a China.

“É o dever comum da Europa e da China, da América e da Rússia não destruir esta ordem, e sim melhorá-la”, afirmou Tusk numa entrevista coletiva após concluir em Pequim a cúpula anual entre os líderes da China e da União Europeia (UE). “Faço um apelo aos nossos anfitriões chineses, mas também aos presidentes Trump e Putin, para que iniciem conjuntamente este processo com uma reforma da OMC.” Neste sentido, Pequim e Bruxelas decidiram estabelecer um grupo de trabalho conjunto em nível vice-ministerial para abordar essas mudanças. “Ainda há tempo de evitar o conflito e o caos”, salientou Tusk.

Mais informações
China procura aliança com a UE para combater o protecionismo de Trump
A antidiplomacia de Trump eleva a instabilidade mundial
EUA ativam as tarifas alfandegárias sobre a China e a batalha comercial começa

Com os olhos voltados para Helsinque, a China e a UE expressaram em um comunicado conjunto —sua primeira demonstração de consenso em três anos— seu compromisso com o sistema de comércio multilateral. Não há nenhum tipo de aliança formal, mas ambos os blocos apostam num sistema baseado nas normas e se mostraram contrários às tarifas impostas pela Administração de Donald Trump. Washington, por sua vez, considera que o processo de resolução dos conflitos comerciais no âmbito da OMC é muito lento, e o próprio Trump já disse que as decisões do organismo são “injustas” para os interesses norte-americanos.

A China, possivelmente o país do mundo que mais se beneficiou de sua entrada na OMC, concordou também com a necessidade de reformar esse organismo. O primeiro-ministro Li Keqiang reiterou que Pequim não quer uma guerra comercial e prometeu à União Europeia novas reformas que garantam um melhor acesso ao mercado chinês de suas empresas e produtos.

“Proibimos qualquer tipo de transferência tecnológica forçada e dirigiremos as violações dos direitos de propriedade intelectual seriamente”, disse Li, que ofereceu abrir novos setores ao investimento europeu e reduzir as tarifas a vários produtos para obter uma relação comercial “mais equilibrada” com a UE, sem dar mais detalhes. Perguntado se por acaso se dava por satisfeito com os compromissos da China com respeito a suas práticas desleais (dumping) —algo em que a UE está plenamente de acordo com os Estados Unidos—, o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, limitou-se a afirmar: “Há progressos, mas achamos que a China pode se abrir ainda mais”.

Na agenda bilateral, China e a UE avançaram na assinatura de um tratado de investimentos, cujas negociações já duram cinco anos. Sua breve conclusão é uma “prioridade máxima” para ambos os lados, segundo o comunicado conjunto, depois da troca de ofertas de acesso aos respectivos mercados feita durante a cúpula. Fontes diplomáticas relataram que, embora ainda restem muitos aspectos a discutir, uma eventual deterioração das relações entre a China e os EUA (ou entre a Europa e os EUA) poderia dar um impulso ao diálogo.

Quanto aos assuntos relacionados aos direitos humanos, a delegação europeia destacou que, apesar das diferenças, conversa com a China de forma fluente sobre suas preocupações. “Fiz isso hoje e continuarei a fazer no futuro sempre que considerar conveniente”, prometeu Tusk, sem mencionar nenhum caso concreto.

Mais informações

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_