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Russos com tiara? Como o ‘kokóshnik’, um tradicional acessório feminino, virou ícone da Copa

Confeccionado com materiais nobres e pedraria, este caro acessório era parte do dote das noivas. Seu preço aumentou durante o mundial

Duas pessoas posam para uma foto durante a Copa do Mundo Rússia 2018.
Duas pessoas posam para uma foto durante a Copa do Mundo Rússia 2018.SERGEI KARPUKHIN (REUTERS)
Pilar Bonet

A Copa do Mundo Rússia 2018 serviu para tirar o pó de um antigo acessório típico russa: o kokóshnik. Essa peça feminina, que consiste de uma diadema decorada artisticamente, tornou-se um ícone e voltou à moda como modelo unissex, porque os homens também têm sido adornados com elas, demonstrando alguma capacidade para a autoironia.

Espalhou-se por toda a Rússia a imagem de três torcedores com alguns quilos extra (dois homens e uma mulher) que, com a bandeira da Espanha pintada nas bochechas e usando kokóshniks, desfrutam comendo um cachorro-quente no jogo entre as seleções espanhola e russa. Os três indivíduos mais tarde se tornaram protagonistas de um graffiti, mas com uma licença patriótica, já que a bandeira espanhola no rosto dos torcedores foi substituída pelas cores do país anfitrião.

Sergei Karpukhin (Reuters)

A palavra kokóshnik foi detectada pela primeira vez em documentos do século XVII e vem do termo Kokosh, que significa broche de galinha. Essa diadema, feita por mestres artesãos com materiais finos e pedras preciosas, foi inicialmente usado por mulheres casadas como um caro acessório das roupas de festa e fazia parte do dote das noivas.

Em sua ânsia de modernidade, o czar Pedro I proibiu o kokóshniki, assim como outras vestimentas tradicionais russas. Nos tempos de Yekaterina II, eles foram resgatados como um acessório para os trajes da corte, e com Nicolás I, no século 19, eles voltaram para o guarda-roupa das mulheres. Seu momento de estrela chegou em 1903, no baile de fantasias dedicado ao 290º aniversário da dinastia Romanov, realizada no Palácio de Inverno em São Petersburgo.

Robert Ghement (Efe)

Os participantes deste grande evento social serviram de inspiração para um baralho de cartas que foi publicado em 1913 para comemorar o 300º aniversário da dinastia reinante até 1917. As mulheres que fugiram da Revolução Bolchevique que, para ganhar a vida, costuravam ou abriam ateliers de moda no exílio. O designer Karl Lagerfeld os incluiu mais tarde em sua coleção Paris-Moscou (2008-2009).

Adrian Dennis (AFP)

Atualmente, são publicadas nas redes sociais frases como: "O kokóshnik é o penhor do patriota russo" ou "O kokóshnik, o novo elemento de coesão da Rússia". Também tem circulado nas redes uma fotomontagem em que o presidente Vladimir Putin e o primeiro-ministro Dmitry Medvedev aparecem usando kokóshniks. Durante a Copa, a venda desse acessório quintuplicou, especialmente nas cidades que têm sediado os jogos, sendo o modelo vermelho com fitas o mais popular, de acordo com a agência de notícias RBK, citando fontes fiscais. Os preços médios também subiram, de 330 rublos em junho (cerca de R$ 20) para 910 rublos em julho.

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