EUA redobram pressão sobre a China com novas tarifas em 6.000 produtos
Donald Trump ordenou a ativação do processo para fixar novas tarifas de 10% sobre mais mercadorias, cujo valor de importação ronda os 200 bilhões de dólares
A batalha comercial entre os Estados Unidos e a China entrou numa zona de cifras graúdas, que vão além da gesticulação —por si só perigosa para a confiança dos investidores— e começam a apontar para uma guerra comercial em grande escala. Donald Trump ordenou nesta terça-feira ao Escritório do Representante de Comércio Exterior dos EUA que ative o processo para fixar novas tarifas de 10% sobre mais de 6.000 produtos chineses, cujo valor de importação ronda os 200 bilhões de dólares (763,3 bilhões de reais) por ano. É a resposta à represália de Pequim da sexta-feira passada, ao adotar novas alíquotas para produtos norte-americanos num valor de 34 bilhões de dólares, horas depois de Washington fazer o mesmo.
A escalada tarifária entre as duas maiores potências econômicas do mundo vem seguindo a mesma sequência desta semana. A Administração Trump ameaça com tarifas, e o regime chinês faz o mesmo, com as idênticas tarifas e o mesmo volume econômico afetado. Depois de negociações infrutíferas, os EUA ativam as tarifas e ameaçam impor outras se a China responder. E a China responde, então os EUA lançam uma nova rodada de tarifas alfandegárias. Assim ad infinitum, ou melhor, até superar os 500 bilhões de dólares, que é a quantidade total de exportações que serão afetadas pelas taxas se todas as ameaças sobre a mesa forem cumpridas. A cifra é vertiginosa: o intercâmbio de produtos entre ambos os países beirou os 600 bilhões de dólares em 2016 (com 115,6 bilhões exportados para a China, e 347 bilhões para os EUA).
Pequim considera que a nova lista é “totalmente inaceitável” e prometeu responder “com as contramedidas necessárias” se estas tarifas afinal entrarem em vigor. “Com esta atitude, os Estados Unidos ferem a China, o mundo e a si mesmos”, disse o Ministério de Comércio em um comunicado, informa Xavier Fontdeglòria. Será impossível para o país asiático devolver um golpe da mesma intensidade, simplesmente porque suas importações procedentes dos EUA não alcançam os 200 bilhões de dólares. É provável, segundo especialistas, que Pequim abra a torneira das medidas não tarifárias: ao ter um controle considerável sobre a economia, as autoridades podem facilmente dificultar a atividade das empresas norte-americanas em território chinês, ou mesmo promover um boicote encoberto ao país, deixando de comprar seus produtos ou restringindo o turismo chinês nos EUA, por exemplo.
A lista adicional de bens aos quais o Escritório do Representante de Comércio Exterior dos EUA propõe aplicar a tarifa, divulgada na noite de terça-feira, ocupa 205 páginas e inclui uma grande variedade de produtos (do carvão ao tabaco, passando por produtos químicos e pneus). O embaixador Robert Lighthizer argumentou em nota que a reação de Pequim “não tem base legal nem justificativa”, e que a tarifa de 10% que ele propõe para os novos produtos é uma “resposta apropriada” a políticas industriais “nocivas” por parte da China. Washington mira desta vez nos produtos que se beneficiam da nova política industrial para 2025, o grande plano econômico de Pequim.
A lista será submetida a uma fase de consultas entre os dias 20 e 23 de agosto, e uma decisão deve ser tomada no dia 25. No caso da última rodada de tarifas, a que foi ativada na sexta-feira passada, a fase de consultas reduziu o impacto de 50 bilhões para 34 bilhões de dólares, enquanto os restantes 16 bilhões continuam em estudo. A aplicação das tarifas anunciadas nesta terça-feira deve demorar, e, enquanto isso, a Administração de Trump e o regime de Xi Jinping podem tratar de aproximar suas posições. Até agora, isso não foi possível: os EUA criticam o enorme déficit comercial com relação à China (na ordem de 400 bilhões de dólares) e acusam o regime de competir de forma desleal e de criar um marco regulatório de associação com investidores locais que favorece o roubo de propriedade intelectual dos investidores norte-americanos.
“Há muitos anos a China recorre a práticas abusivas que vão em detrimento da nossa economia, nossos trabalhadores e nossas empresas”, reitera Lighthizer em seu comunicado, qualificando a conduta chinesa de “ameaça existencial”. “Durante mais de um ano pedimos pacientemente à China que ponha fim a estas práticas injustas, que abra seus mercados e que se comprometa com uma concorrência real”, argumenta. “Fomos muito claros em relação às mudanças que eles deveriam fazer. Mas em vez de resolver uma preocupação legítima reprimiram nossos produtos.”