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Ciro Gomes, prestes a selar apoio do PSB: “É praticamente a garantia da eleição”

Pré-candidato vai novamente a Pernambuco, reduto dos socialistas, em busca de apoio, e diz que seu vice, idealmente, será um empresário do Sudeste

O pré-candidato Ciro Gomes (PDT) no último dia 18.
O pré-candidato Ciro Gomes (PDT) no último dia 18.PAULO WHITAKER (REUTERS)
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Após anunciar a desistência de Joaquim Barbosa à presidência, o PSB automaticamente se transformou na noiva mais cobiçada destas eleições. Em Pernambuco, reduto do Partido Socialista Brasileiro e diretório crucial para as decisões da sigla, os socialistas são assediados por duas grandes forças. De um lado, o PT, que pode rifar a campanha de Marília Arraes ao Governo estadual em troca de apoio à incerta candidatura de Lula. Do outro, o PDT de Ciro Gomes, candidato que não passa dos 11% das intenções de voto por enquanto. Sabendo que sua pretendente é disputada, Ciro Gomes esteve nesta semana no Recife para conversar com o governador Paulo Câmara (PSB) sobre alianças. Foi a segunda vez em menos de seis meses que o pedetista veio até o governador pernambucano. “Segunda vez, fora as vezes em que nos encontramos fora daqui”, corrigiu Ciro, em conversa com EL PAÍS no dia seguinte ao encontro.

A agenda do pedetista no Estado foi breve. Vindo de Fortaleza, chegou na terça-feira à tarde ao Recife, juntamente com dois assessores e a esposa, Giselle Bezerra. Com o pé imobilizado por uma bota ortopédica - "torci brincando com meu filho de dois anos e meio na sala. É essa coisa de ser pai-avô, né?", explicou -, foi direto para o Palácio das Princesas, sede do governo local, onde conversou a portas fechadas com o governador Câmara e com o prefeito do Recife, Geraldo Julio, também do PSB. A conversa ocorreu a pedido de Ciro. Depois, deram uma entrevista coletiva e seguiram para a casa de Renata Campos, viúva de Eduardo Campos, candidato a presidente nas últimas eleições. Foi a primeira vez que Ciro esteve com Renata desde a morte de Eduardo, em agosto de 2014. A viúva é uma das peças principais nas decisões do partido.

Nos bastidores, a aliança é tida como certa e deve ser anunciada nos próximos dias. Nesta semana, 17 de 24 presidentes de diretórios regionais do PSB sinalizaram à presidência nacional do partido que estariam de acordo com a união com os pedetistas. A união só não foi selada oficialmente ainda porque duas questões locais devem ser resolvidas para que o namoro engate. Uma delas é no Estado vizinho de Pernambuco, a Paraíba. Ali o governador Ricardo Coutinho (PSB), e sua vice, Lígia Feliciano (PDT), compõem a chapa estadual. Mas eles romperam publicamente em abril deste ano. Contrariando as previsões, Coutinho anunciou que não renunciaria ao cargo para disputar o Senado, não deixando assim, que Lígia Feliciano se tornasse a titular e tivesse a máquina do Estado nas mãos para uma campanha à reeleição. Coutinho acabou sendo acusado pelo PDT local de ter deixado sua vice “de escanteio”. Lígia Feliciano, por sua vez, é acusada pelo governador de ter articulado “pelas costas” um novo governo sem seu consentimento, antes mesmo de ele decidir sobre a não renúncia.

O desentendimento terminou com um racha entre as siglas. Com isso, o PDT deu o aval para que Lígia lançasse sua pré-candidatura ao Governo, enquanto o PSB deve lançar João Azevedo para a disputa. Um outro fator pesa neste Estado. Coutinho é muito próximo dos dois ex-presidentes petistas Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff e estaria aguardando alguma sinalização do PT para o pleito.

Já no Distrito Federal, o impasse do PDT está entre apoiar a reeleição do governador Rodrigo Rollemberg (PSB), que amarga baixos índices de aprovação, ou a pré-candidatura de Jofran Frejat (PR), na chapa da direita. Uma terceira opção, ainda que com menor força, seria o PDT lançar a candidatura do presidente da Câmara Legislativa do DF, Joe Valle. Pessoalmente, ele prefere concorrer ao Senado ou como vice em alguma chapa. A reportagem apurou que Rollemberg, por enquanto, é visto como “a última opção” de apoio, o que pode causar ruídos entre as siglas.

Nos demais Estados, como São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, a aliança já está sacramentada. Muito se fala, inclusive, que o vice de Ciro será o empresário e ex-prefeito de Belo Horizonte, Marcio Lacerda (PSB). Ao EL PAÍS, o pedetista não confirmou, mas disse que, "idealmente", seu vice seria um "representante do setor produtivo e da agenda do Sul e do Sudeste", características que se encaixam perfeitamente em Lacerda. "Eu sou nordestino, então o ideal seria um vice que fosse o oposto", afirmou Ciro.

Enquanto o jogo dos palanques não se resolve, o pré-candidato afirma esperar “humildemente” pela decisão do PSB. “A imensa maioria do PSB nos Estados tem afinidade com o meu partido. Mas aqui, o PT rivaliza conosco com essa aliança, o que é normal em tempos de democracia”, disse ele. “A mim, cabe aguardar com humildade que eles possam me ajudar a fazer historia no Brasil". No altar, à espera da vinda dos socialistas, Ciro sabe o quanto a sigla representa para sua candidatura. "Uma aliança com o PSB representa tudo. Praticamente a garantia da eleição", disse. "O que não quer dizer que sem eles eu não tenha chance, mas a chance se debilita".

Se conseguir esse apoio, o pedetista abre, de fato, uma grande vantagem. Pularia de 33 segundos na TV para 1 minuto e 7 segundos. O tempo colocaria sua campanha quase em pé de igualdade com a de Geraldo Alckmin (PSDB), que já sai com 1 minuto e 12 segundos - o maior tempo depois do PT -  sem contar a soma de suas alianças. Além dos preciosos segundos a mais, essa união engordaria o fundo de campanha do pedetista, que, sozinho, responde por 85 milhões de reais da fatia, mas com o PSB pularia para 245 milhões de reais.

"O único nordestino sou eu"

Além do PSB, o PDT também está flertando com outros partidos, um pouco menores e até da direita - fora o MDB, com quem Ciro afirma não dialogar "sob nenhuma hipótese". Um deles é o DEM, que discute a candidatura do presidente da Câmara Rodrigo Maia à presidência. Por isso, Ciro nega alianças por enquanto. "Se um partido tem um candidato, eu não posso estar desenvolvendo raciocínios que partam da premissa de que esse candidato não existe", disse. "Isso seria um insulto, uma indelicadeza. Lá no Ceará nós aprendemos desde pequenininho que quem quer pegar galinha não diz 'xô”.

Outro partido com quem os pedetistas têm conversado é o PP, o mais investigado na Lava Jato, e que, assim como o DEM, apoiou o impeachment e a reforma trabalhista, duas questões às quais o pré-candidato se opõe. Mas ele se justifica afirmando que precisa compor com uma frente ampla. "Estou com um olho na eleição e o outro no dia seguinte", disse. Se olharmos a distância entre nós [seu partido e os demais] agora, é insuperável. São coisas inconciliáveis olhando para trás, mas precisamos olhar para frente", justifica. 

Olhando para a frente, o pedetista afirma acreditar que disputará o segundo turno com Geraldo Alckmin (PSDB), e não com Jair Bolsonaro (PSL), a quem chama de "um despreparado tosco". Ambos os pré-candidatos estiveram no Nordeste recentemente. Alckmin, no último sábado, disse em Campina Grande (PB) que "é natural" que seu vice seja nordestino. Já Bolsonaro, em Natal, quis se aproximar do público afirmando que era nordestino. O deputado do Rio de Janeiro nasceu em Campinas (SP).

Marina Silva (REDE) também teve agenda no Recife nos últimos dias. A região é cobiçada por todos os pré-candidatos, já que, a maioria dos eleitores de Lula estão aqui e ficariam órfãos sem o petista na disputa. Sobre esse frisson dos políticos com o Nordeste, Ciro rebateu: "Que venham ao Nordeste, que se contaminem com a nossa agenda, mas que não façam disso um gesto meramente demagógico", disse. "Lembrando que o único nordestino na disputa sou eu. Morram de inveja", brincou o pré-candidato que nasceu no interior de São Paulo, mas se radicou no interior do Ceará ainda criança.

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