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Economia argentina cai pela primeira vez em 14 meses

Em abril, PIB sofreu contração de 0,9% em relação ao ano anterior e de 2,7% em relação a março, por causa da seca no campo. Dívida externa aumentou

Federico Rivas Molina
Mauricio Macri em maio, durante visita a uma fábrica de autopeças na província de Córdoba
Mauricio Macri em maio, durante visita a uma fábrica de autopeças na província de CórdobaPresidencia
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A economia argentina encolheu, e sua dívida em dólares aumentou. Segundo a última estatística oficial divulgada na terça-feira, dia 26, o PIB caiu 0,9% em abril em comparação ao mesmo mês do ano anterior, e 2,7% com relação a março deste ano. Foi a primeira contração em 14 meses. No mesmo período, o país aumentou em 19 bilhões de dólares o seu passivo externo, chegando a uma dívida total de 253 bilhões. Não são dados para comemorar. O Governo de Mauricio Macri já admitiu que “meses um pouco mais recessivos” se aproximam, num momento em que a Argentina precisa apertar os cintos para cortar gastos públicos de 7,1 bilhões de dólares no ano que vem, conforme compromisso assumido com o Fundo Monetário Internacional para receber um resgate de 50 bilhões de dólares.

É preciso recuar a 2009 para encontrar um abril tão ruim como o deste ano. Naquela ocasião, a queda do PIB foi provocada por uma seca muito dura que afetou a colheita de soja e outros grãos que são a base da economia argentina e fonte de divisas. Desta vez a culpa também foi da estiagem, que reduziu em 37% a safra prevista para este ano. Na análise setorial oferecida pelo INDEC (órgão estatístico oficial), a produção agrícola caiu mais de 30 pontos, puxando para baixo o resto dos indicadores.

Mas o problema é de fundo, e o Governo sabe disso. Se abril de 2009 foi apenas um ponto negro numa curva virtuosa de crescimento, neste ano ele ainda não reflete as consequências da crise cambial de maio. Os índices vindouros serão ainda piores, como reconheceu o chefe de ministros, Marcos Peña. “É provável, já disseram nossos próprios responsáveis pela economia, que devido aos choques externos que tivemos e da crise cambial isso terá um efeito de alguns meses mais recessivos, mas acreditamos que de qualquer maneira este ano vai terminar em crescimento.”

As estimativas para 2018 já não são de 3% de alta do PIB, como se especulava em janeiro. “Estima-se que o PIB desacelere para um crescimento próximo a 1% em 2018, antes de retomar taxas superiores em 2019”, disse o Banco Central em nota. A entidade monetária atribuiu a queda “à recente aceleração inflacionária", resultado da desvalorização do peso – que perdeu metade de seu valor desde janeiro – e “à extraordinária estiagem que o setor agroexportador enfrentou”.

As variáveis que o Governo precisa resolver são complexas. Os rendimentos rurais se reduziram, e é preciso reduzir o déficit fiscal para conter o endividamento externo e moderar a inflação, que fechará este ano próxima dos 30%, acima inclusive do resultado de 2017. A dívida não parou de crescer desde a posse de Macri. Segundo o INDEC, aumentou em 19,19 bilhões de dólares entre janeiro e março, à razão de 211 milhões de dólares por dia, e mais de 86 bilhões desde dezembro de 2015, quando o atual Governo teve início. Hoje está em 253 bilhões de dólares, quando há 10 anos era de 160 bilhões.

A dependência externa da Argentina explica, para o Governo, boa parte do maio ruim que a economia viveu. Naquele mês, o dólar passou em poucos dias de 20 pesos para quase 28. A alta dos juros nos EUA encareceu o dinheiro para os emergentes, e o país sul-americano temeu que o financiamento que o macrismo desfrutava desde sua posse fosse interrompido. Decidiu então recorrer ao FMI.

Os primeiros 15 bilhões que chegaram do organismo serviram para sustentar a moeda local e financiar o déficit, que o Governo prometeu reduzir a não mais de 1% do PIB em 2019 e a zero em 2020. Para isso terá de ajustar as contas, algo complexo em um contexto de recessão com inflação. O problema para Macri é que o tempo corre contra si: no ano que vem ele disputará a reeleição, e o cenário atual não parece o melhor para uma campanha bem-sucedida.

Conflitos trabalhistas

É previsível que a redução de gastos traga problemas políticos e trabalhistas, sobretudo envolvendo o funcionalismo público. Na terça-feira, enquanto toda a Argentina comemorava a vitória sobre a Nigéria na Copa da Rússia, 354 jornalistas da agência estatal de notícias TELAM receberam o telegrama de demissão.

O conflito pode se estender a outros órgãos públicos, enquanto o Governo tenta equilibrar suas necessidades de cortes e a pressão dos sindicatos, cada vez mais organizados em suas reivindicações. Na segunda-feira, a CGT e outras centrais não peronistas paralisaram o país, na greve geral mais dura enfrentada por Macri.

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