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Pence cobra Temer enquanto Brasil propõe pagar volta de crianças detidas nos EUA

Em Brasília, vice de Trump pediu maior empenho do Brasil contra o regime Maduro, na Venezuela. Chanceler brasileiro descarta sanções unilaterais

Temer e Mike Pence em Brasília.
Temer e Mike Pence em Brasília. ADRIANO MACHADO (REUTERS)

O mais importante encontro diplomático da era Michel Temer - a visita do vice-presidente dos EUA, Mike Pence, a Brasília nesta terça-feira - teve gosto agridoce. O número 2 de Trump aplicou um discurso duro a respeito de migração no momento em que as políticas da Casa Branca afetam dezenas de crianças brasileiras e ainda cobrou do Brasil mais pressão sobre o regime de Nicolás Maduro, na Venezuela. Do presidente Michel Temer o vice-presidente norte-americano ouviu que o governo brasileiro está disposto a bancar a viagem das crianças brasileiras que migraram ilegalmente para os Estados Unidos com seus pais e acabaram detidas pelas autoridades americanas e que esta é "uma questão extremamente sensível para a sociedade e o Governo brasileiro". “Nosso Governo está pronto a colocar o transporte dos menores brasileiros de volta ao Brasil se esse, naturalmente, for o desejo das famílias”, afirmou o presidente brasileiro após duas reuniões com Pence.

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Desde que a política migratória se tornou mais radical, cerca de 50 brasileiros menores de 18 anos de idade foram apreendidos juntamente com seus pais e acabaram levados a abrigos nos quais não tinham nenhum contato com seus familiares. O presidente Donald Trump emitiu um decreto no qual proibiu a separação das crianças de seus parentes, mas o processo para uni-los novamente ainda é lento e incerto. No caso dos jovens brasileiros, ao menos três estão seguindo para lares de familiares que vivem legalmente nos Estados Unidos. Todos os que foram apreendidos só retornarão ao Brasil se suas famílias concordarem que eles sejam enviados para cá e se a Justiça americana assim o decidir.

Segundo o ministro Aloysio Nunes Ferreira, das Relações Exteriores, Pence analisou de maneira positiva a proposta feita por Temer. “Ele se mostrou disposto a ajudar, a apressar a unificação das famílias que foram separadas em razão dessas medidas”, afirmou.

Na visita a Temer, Pence se queixou da onda migratória e disse que nos últimos meses cerca de 150.000 cidadãos da América Central, principalmente, migraram para os Estados Unidos. Em seu discurso ao fim do encontro, o vice-presidente chegou a fazer um apelo a quem tem intenção de migrar. “Vocês são nossos vizinhos. Queremos que vocês e suas nações prosperem e floresçam em toda América Central. Não arrisquem suas vidas ou as vidas de seus filhos tentando entrar nos Estados Unidos via contrabandistas e traficantes de pessoas. Se não tem condições de entrarem legalmente, não venham”. Segundo o vice-presidente, os Estados Unidos receberam 1,1 milhão de migrantes de maneira legal no último ano.

Cobrança sobre a Venezuela

Em tom de cobrança, Pence ainda pediu que o Governo brasileiro seja mais duro nas sanções contra a Venezuela. Os dois países concordam que o país governado por Nicolás Maduro deixou de ser democrático e, por conta das crises econômica e humanitária, tem enfrentado um fluxo migratório jamais visto no continente. Entre dois milhões e três milhões de venezuelanos já deixaram o país. “Enquanto Maduro negar a democracia e os direitos básicos ao seu povo a Venezuela continuará se desmontando e os venezuelanos continuarão sofrendo. Ele destruiu a democracia da nação e construiu uma ditadura brutal”, disse Pence.

Apesar do pedido feito pelo vice-presidente, a tendência é que o Brasil não tome nenhuma atitude direta com relação à gestão Maduro. “O Brasil não aceita sanções unilaterais. Para nós, o tema da Venezuela está colocado onde ele deveria estar, na OEA”, disse Nunes Ferreira em alusão à Organização dos Estados Americanos. No início do mês a entidade que reúne os países do continente puniu a Venezuela e considerou ilegítima a reeleição de Maduro.

Céus abertos

No encontro oficial, o primeiro entre Temer e algum representante da cúpula do Governo dos EUA, o presidente assinou um decreto que promulgou o acordo de “céus abertos”. Na prática, fica extinto o limite de voos entre os Estados Unidos e o Brasil. O termo havia sido assinado em 2011, mas ainda dependia da aprovação do Congresso Nacional, o que só aconteceu neste ano. Os dois países e comprometeram a autorizar voos charter (operados por uma companhia aérea que transporta carga ou passageiro de outra empresa que fica fora da sua operação regular) sem limite para o número de operações.

Depois de visitar Brasília, Mike Pence segue nesta quarta-feira para Manaus, onde conhecerá um abrigo de acolhimento de migrantes venezuelanos e, na sequência vai para o Equador e para a Guatemala.

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