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Falou a crítica: este é o filme mais aterrorizante de 2018 (e o ano nem terminou)

Chama-se 'Hereditário', é do estreante Ari Aster e faz parte desse subgênero que nunca deixará de nos causar medo por mais que vejamos de novo; uma casa em que as coisas se mexem sozinhas

Guillermo Alonso
Toni Colette, Gabriel Byrne e Alex Wolff, três dos protagonistas de 'Hereditário'.
Toni Colette, Gabriel Byrne e Alex Wolff, três dos protagonistas de 'Hereditário'.

Hereditário é o filme de terror mais perturbador em anos” foi o título do USA Today. The Verge, site especializado em cultura pop e tecnologia, disse: “Hereditário é aterrorizante a ponto de nos fazer molhar as calças”. Outros órgãos da mídia afirmaram na exibição nos EUA, no começo do ano, que 2018 acabava de começar, mas seria muito difícil aparecer outro filme mais aterrorizante que este. Foi apresentado no Festival de Cinema de Sundance, em janeiro, e os especialistas disseram: “É melhor não ver se você quiser dormir nos dias seguintes”. Outros recomendam que seja visto em grupo, para buscar apoio e aplacar o medo.

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“Hereditário”. Qualquer um que tenha tido um problema genético na família ou obtido no testamento de o pai um apartamento em copropriedade sabe que é uma das palavras mais aterrorizantes que existem no dicionário. O diretor é Ari Aster, um jovem nova-iorquino ex-aluno do American Film Institute que já surpreendeu em 2011 com um curta chamado The Strange Thing about the Johnsons, que provavelmente ninguém que tenha visto conseguiu esquecer.

Mescla de um episódio de The Cosby Show, um filme de terror gótico e um melodrama de Douglas Sirk onde o papel de herói e de vilão se redistribui a cada cinco minutos entre os três personagens principais, The Strange Thing about the Johnsons se atrevia a questionar a natureza de um abuso sexual prolongado durante anos em uma família de bem. Depois de ver aqueles delirantes 30 minutos que deixam o espectador sem fala, esperava-se com ansiedade que Aster estreasse no longa-metragem. E o gênero de terror em um ambiente familiar parecia ser seu ambiente ideal.

Críticos como Owen Gleiberman da revista especializada Variety se perguntaram por que Hereditário estreou nos ciclos da meia-noite do festival de Sundance e não na seção da competição principal. “Parece que os programadores podem ter os mesmos preconceitos que a Academia de Hollywood tem com o gênero de terror”, sugeriu.

O filme conta a história de Annie Grahan, uma galerista casada e com dois filhos às voltas com a morte de sua mãe, que tinha problemas mentais e não lhe deu uma infância muito feliz. Sua filha mais nova começa a ver figuras fantasmagóricas, que também aparecem para seu irmão. As reviravoltas do roteiro que já estavam no curta metragem The Strange Thing About the Johnsons, que a mídia presente em Sundance não quer desvendar, fazem o resto.

As comparações prometem, embora ao mesmo tempo pareçam previsíveis. O Bebê de Rosemary, O Iluminado e O Sacrifício são as citadas pela Variety, um ABC dos clássicos do terror psicológico com os quais qualquer filme do gênero quer se equiparar.

É curioso como o subgênero da família assediada por forças sobrenaturais é provavelmente o mais duradouro e prolífico da história do cinema. Há décadas novos filmes estreiam fazendo uso de abordagens similares e estruturas que sempre se repetem, mas todos os anos há um público novo disposto a sofrer com eles. Outros subgêneros do cinema de terror conhecem épocas de glória e morrem (o satânico, que triunfou nos anos setenta, ou o de assassinos mascarados, que entra na moda mais ou menos a cada vinte anos), mas o da casa assombrada tem fundações tão ferreamente instaladas na cultura ocidental que sempre queremos voltar a ele. Nada pode nos aterrorizar mais que uma história que envolve forças superiores que queiram botar você para fora de sua casa. Poderia ser dito que o cinema de terror sempre nos alertou sobre os financiamentos de imóveis.

Os espectadores encontrarão também pelo caminho caras conhecidas. Toni Colette, matriarca e protagonista do filme, já faz parte da história do gênero graças a seu papel também de mãe em O Sexto Sentido (embora meio mundo já a amasse por O Casamento de Muriel).

Em favor de Hereditário não estão só as boas críticas, mas o fato de que outro filme de terror (ou que ao menos que joga com os artifícios do gênero) como Corra! foi indicado este ano ao Oscar de melhor filme. Isso foi histórico, já que os filmes de terror costumam ser relegados no Oscar às categorias técnicas. Além do mais, são obras que o setor do cinema relaciona com as pipocas do que com os prêmios. Nos últimos cinquenta anos somente O Exorcista, Tubarão, O Silêncio dos Inocentes e O Sexto Sentido conseguiram competir na categoria de melhor filme.

O tempo dirá se Hereditário é capaz de transcender como fizeram esses clássicos. Por ora, sua missão principal de deixar os espectadores com os cabelos em pé parece estar se cumprindo. No gênero do terror, o respeito da crítica sempre foi um prêmio secundário.

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