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Uma história de duas mães, contada no Instagram

Jana doou o óvulo que Verónica gestou para que nascesse Álex; juntas, dão visibilidade a novos modelos de família através das redes sociais

Álex, Jana e Verónica, em uma imagem do perfil de Instagram Oh Mami Blue.
Álex, Jana e Verónica, em uma imagem do perfil de Instagram Oh Mami Blue.
Héctor Llanos Martínez

Verónica Sánchez é chef, e Jana Victoria, professora de ensino secundário. Elas se encontraram pela primeira vez na noite de São João, em 2006, e se apaixonaram enquanto trocavam mensagens pelo Messenger. Estão casadas desde 2012 e moram em Valência. Tiveram um filho, Álex, através do método de reprodução assistida ROPA, praticamente desconhecido, apesar de ser uma das opções mais adequadas para casais de lésbicas. Também chamado de "dupla maternidade", o método consiste em que uma parceira receba os óvulos da outra, que são fertilizados com sêmen de um doador anônimo. Assim, ambas as mulheres participam de forma ativa da gestação do filho.

Em sua conta do Instagram Oh Mami Blue, contam sua experiência e dão visibilidade a outros modelos de família. Verónica conversou com o EL PAÍS sobre sua história de amor, sua vida de casada e como formou seu lar.

"Não conhecíamos o método ROPA, até que começamos a explorar as opções que tínhamos para poder ter filhos. Não tínhamos nenhuma referência. Essa foi uma das razões pelas quais criamos o blog e a conta do Instagram, para que outras mulheres pudessem ler sobre isso, contado em primeira pessoa. Eu mal usava as redes até então, mas queríamos manter amigos e familiares que estão longe informados."

"Jana vinha em casa, com seu cabelo rosa. De imediato se deu bem com minha família. Estava lá com tanta frequência que, no final, meus pais colocaram uma cama de casal no meu quarto, sem necessidade de dar explicações."

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"Foi a primeira relação de casal para ambas, embora já soubéssemos antes que éramos lésbicas. Ela é muito impulsiva, na época tinha 19 anos e comentava sobre nossa relação com mais liberdade. Eu ia mais devagar, porque não havia entrado nenhuma parceira antes em casa e era mais cautelosa quando estávamos juntas na vila. Não foi difícil sair do armário para mim mesma, e sim para os outros. No começo, dizia a ela para não segurar minha mão ou me beijar fora de casa. Não queria que falassem de mim. No fundo, são microlesões e pura homofobia interna... Então, não era para tanto."

"Em 2012, ela me pediu em casamento, dando-me uma caixa contendo os anéis e todos os documentos necessários. Felizmente, Jana é muito boa com a papelada e trâmites, porque fez uma tese de doutorado relacionada a esse assunto, mas, geralmente, é difícil confrontar a burocracia espanhola quando você quer formar uma família homoparental. Muitas vezes, você encontra pessoas em guichês públicos que não foram treinadas para lidar com esses novos modelos de família. Você precisa saber mais do que eles. Recebemos informações erradas. Tivemos que marcar a opção “pai” em algum documento do Estado, porque alguns documentos oficiais não contemplam outra opção. Continuamos sentindo falta de uma linguagem inclusiva".

"O método de gestação ROPA custa cerca de 10.000 euros [cerca de 45.000 reais]... se você tiver sorte e conseguir na primeira. Tivemos essa sorte. Começamos em setembro de 2015 e, em novembro, já estávamos grávidas. Não houve muita discussão. Eu tinha o sonho de viver uma gravidez, e para ela não era tão importante gestar nosso filho, então doou o óvulo.”

Álex, com dois dias de vida, com seus avós, os pais de Verónica. Seu pai escreveu-lhe esta mensagem quando o bebê nasceu: "Dentro de alguns dias, vocês começarão outra etapa em que tudo o vivido até agora parecerá não ter existido, já que não poderão imaginar nada sem que seu filho esteja nessa fantasia. O vínculo iniciado há nove meses é mais forte que tudo. Aproveitem o ursinho quando chegar! E deixem de vez em quando que eu também lhe ensine como um grande urso deve ser! Amo vocês.”

"Dá um pouco de medo que na Espanha não ofereçam informações mínimas sobre o doador; a clínica decide com base nas características físicas da mulher grávida. Decidimos comprar esperma em uma clínica dinamarquesa, onde o processo era mais humano. O doador permanece anônimo, mas te entregam uma carta escrita à mão, você pode escutar sua voz, sabe se o doador tem irmãos ou as doenças existentes na família. Não tem a ver com escolher o DNA sob demanda, é um método mais empático. Ainda continuam nos perguntando onde está o pai."

"O Instagram é cheio de rótulos como a maternidade, mas quase nunca se refere a famílias homoparentais. Tecemos uma rede através da hashtag #2mamás. O que não se vê, não existe... É mais do que compartilhar fotos bonitas. É uma luta importante."

"Escrevemos um livro para mostrar que há tantos modelos de família quanto formas de amar, e que há material para mães, pais e professores com o qual podem educar crianças na diversidade. Não é apologia; é informação."

"É uma pena que 80% das pessoas que se aproximam de nós ou escrevem por causa de nosso Instagram ou pelo livro pertençam ao coletivo, porque procuram nele referências que não encontram em nenhum outro lugar e porque é uma questão que deve interessar todo mundo, não só aos afetados diretamente. É outra de nossas lutas como mulheres homossexuais."

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