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O próximo presidente da Colômbia, frente ao desafio da luta anticorrupção

Regeneração da classe política é uma das principais inquietações dos eleitores

Francesco Manetto
Cartazes de Iván Duque e Gustavo Petro numa rua de Icononzo, no departamento de Tolima.
Cartazes de Iván Duque e Gustavo Petro numa rua de Icononzo, no departamento de Tolima.RAÚL ARBOLEDA (AFP)
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A mudança que a sociedade colombiana viveu desde a assinatura da paz com as FARC, em 2016, pode ser refletida em um dado. Apesar da oposição a esses acordos, a principal preocupação dos cidadãos é hoje a corrupção, acima da segurança. Essa inquietação domina os discursos dos candidatos que disputam a presidência no domingo, o uribista Iván Duque e o esquerdista Gustavo Petro. O primeiro compromisso importante do próximo mandatário, que assumirá o cargo em agosto, será uma consulta popular, uma espécie de plebiscito, sobre medidas de combate à corrupção, marcada para o dia 26 do mesmo mês —ela prevê medidas como o endurecimento das penas para os condenados pelo crime e a redução de salário de congressistas e funcionários do alto escalão.

"Todos roubam." Essa é talvez a queixa mais transversal e comum que paira sobre as conversas dos colombianos. A simplicidade da mensagem se sustenta no constante gota-a-gota de casos de corrupção que atingem representantes públicos, nacionais e locais, e na crescente desconfiança da população em relação às elites tradicionais. A Controladoria, órgão que audita as finanças do Estado, calcula que a corrupção custe mais de 14 bilhões de dólares (52,5 bilhões de reais) por ano.

Embora essa situação não seja novidade, desde que o escândalo da Odebrecht eclodiu no país o debate público começou a se centrar na luta contra as más práticas, na fiscalização dos recursos e na renovação da classe dirigente.

Os dois candidatos, embora a partir de posições contrapostas, de alguma forma representam essa regeneração para diferentes eleitorados. Duque, o favorito nestas eleições presidenciais, nasceu em 1976 e, embora conte com o apoio do ex-presidente Álvaro Uribe, desenvolveu boa parte de sua carreira em Washington e só se tornou senador na legislatura passada. Petro, que foi impulsionado por um calculado discurso anti-establishment, não é novato na política.

Foi prefeito de Bogotá, senador e deputado, além de ter um passado como militante do M-19, grupo guerrilheiro desmobilizado em 1990. Porém, sempre fez da luta contra com a corrupção uma bandeira e um instrumento de denúncia. "O presidente que chegar vai ter que tomar medidas contra a corrupção. Terá que apoiar a consulta de 26 de agosto – que endurece as penas e acrescenta condições de transparência –, terá que aprovar algumas reformas", opina Ariel Ávila, subdiretor da Fundação Paz e Reconciliação. "A pergunta" prossegue, "é se vai fazer shows, ou seja, apenas denunciar corrupção, ou se vai tomar decisões de fundo. Em todo caso, acredito que será muito cuidadoso ao distribuir os cargos, porque a opinião pública está pedindo transparência, meritocracia".

Relações com os Estados Unidos

A transição que a Colômbia vive abre agora um amplo mercado relacionado com as infraestruturas. Santos disse na quarta-feira que seu Governo nunca recebeu subornos, mas apontou o Executivo anterior, encabeçado por Álvaro Uribe. "A Odebrecht esteve na Colômbia e subornou funcionários do Governo anterior. Neste Governo a Odebrecht se apresentou em 15 licitações, ganhou uma, que construiu adequadamente em Boyacá, e o resto nunca ganhou", disse.

Segundo Sergio Guzmán, analista da consultoria britânica Control Risks, "as investigações acontecerão sob as próximas administrações e certamente serão reveladas muitas coisas que têm a ver com contratações públicas e licitações". Na sua opinião, Duque tem condições de se apresentar como um político que lidere a regeneração. "Grande parte dos casos de corrupção que vêm sacudindo a Colômbia foi revelada com a colaboração dos Estados Unidos, com a DEA (agência antidroga) e o Departamento de Justiça. A relação com a DEA vai desempenhar um papel importante. Esse ponto de colaboração será fundamental num Governo Duque. As relações entre os EUA e a Colômbia melhorariam porque estão de certa forma alinhadas."

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