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Estante EL PAÍS: romance, economia e futebol na lista de leitura para junho

Selva Almada, Eliana Alves Cruz, André Resende, Alexandre Staut, PVC e Laura Carvalho são os seis autores indicados

Detalhe da capa do livro 'Penélope africana', de André Resende
Detalhe da capa do livro 'Penélope africana', de André ResendeDivulgação

Em junho, a lista de leitura do EL PAÍS vai do romance policial de O Crime do Cais do Valongo, de Eliana Alves Cruz, à análise da vida econômica do Brasil Valsa Brasileira, da economista Laura Carvalho. Há também Garotas Mortas, um misto de jornalismo e relato pessoal sobre feminicídios na Argentina; o romance O Incêndio, cujo personagem é um bibliotecário lutando por seus livros; no futebol, o lançamento é Escola Brasileira de Futebol, uma análise histórica do escrete canarinho pelo jornalista Paulo Vinícius Coelho, o PVC. Por fim, Penélope Africana é um romance baseado na história real de Yaá, escrava africana que entrou na Justiça para pedir sua liberdade.

Garotas Mortas

Selva Almada

Todavia

Em 1983, enquanto a Argentina comemorava o fim da ditadura militar e a volta da democracia, Selva Almada, ainda criança, ouvia no radinho à pilha do pai a história de Andrea, morta com uma facada no peito em sua própria cama. A imagem a acompanharia por anos: “Quer dizer que uma mulher pode ser morta dentro da casa em que vive?”. Em 2015, a escritora junta, à história de Andrea, mais dois casos de feminicídio nunca esclarecidos dos anos 1980 no livro Garotas Mortas, agora traduzido para português. A partir de uma narrativa misto de jornalismo e crônica pessoal, Almada constrói um panorama da violência contra a mulher na Argentina de ontem e de hoje. A escritora é hoje um dos nomes mais celebrados do cenário literário argentino e chega neste ano ao Brasil junto com um convite para participar da programação oficial da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), que acontecerá no final de julho. Por ANDRÉ DE OLIVEIRA

O Crime do Cais do Valongo

Eliana Alves Cruz

Malê

No Brasil do começo do século XIX, nos tempos de Dom João VI, o assassinato de um comerciante da região do Valongo, no Rio de Janeiro, é o ponto de partida do segundo romance de Eliana Alves Cruz, autora também de Água Barrela. A partir do mistério em torno do crime, as personagens Muana Lomué, uma moçambicana escravizada, e o mestiço boêmio e amante das artes Nuno Alcântara Moutinho conduzem o leitor pelos cenários do Rio de Janeiro do começo do século, uma cidade dividida entre os cidadãos de bem da Família Real e os escravizados. Tudo gira ao redor do Valongo, cais carioca que, tombado como patrimônio mundial da humanidade em 2017 pela Unesco, foi a porta de entrada de 500 mil a um milhão de escravos entre 1811 e 1831. Entre o romance policial e o histórico, a escritora reconstruiu o clima da época a partir de uma extensa pesquisa pelo arquivo dos jornais Gazeta de Notícias e Jornal do Commercio. No ano em que a abolição da escravatura completa 130 anos, o romance, editado pela Malê, é uma ótima novidade. Por ANDRÉ DE OLIVEIRA

Valsa Brasileira – Do Boom ao Caos Econômico

Laura CarvalhoTodavia

Do segundo mandato do ex-presidente Lula até o impeachment de Dilma Rousseff, o Brasil passou do crescimento e distribuição de renda à recessão. O país foi pra frente e para trás, de um lado para o outro, em ritmo de valsa. Para entender os motivos desse vaivém, a economista Laura Carvalho se debruçou nos números e em comportamentos dos agentes políticos ao longo desse período para buscar respostas. E elas não agradam nem a direita liberal e muito menos a esquerda. Ao contrário do que diz o primeiro grupo, a desaceleração da economia não aconteceu devido as políticas de estimulo adotadas a partir de 2009 pelo Governo Lula para reagir à crise mundial, mas sim a partir do primeiro mandato de Dilma. Para superar os obstáculos para um crescimento sustentável a longo prazo, a mandatária fez uma malsucedida transição de modelo econômico que resultou em desonerações de impostos, desvalorização do real, queda nos investimentos públicos e administração de preços para conter a inflação, segundo Carvalho. A "Nova Matriz Econômica", chamada no livro de “Agenda FIESP”, longe de ter o impacto positivo no setor industrial, nas exportações e na criação de emprego, se provou um desastre para a economia brasileira. Laura também critica duramente as medidas adotadas pelo presidente Michel Temer para driblar a crise e propõe o aumento de impostos dos mais ricos para recuperar a capacidade do Estado em realizar investimentos públicos. Ainda que seja um livro de economia, permanece entre os mais vendidos nas últimas semanas. Cada evento de lançamento gera longas filas de espera. Por FELIPE BETIM

Escola Brasileira de Futebol

Paulo Vinícius Coelho

Objetiva

Pouco mais de um mês antes da Copa do Mundo Rússia 2018, o jornalista Paulo Vinícius Coelho, o PVC, lançou seu novo livro. Quando se fala em escola italiana de futebol, os mais apaixonados pelo esporte já imaginam um estilo de jogo defensivo. Se o assunto é a seleção holandesa, vem logo à mente a troca de passes e movimentação. Já a alemã, faz pensar em um jogo mais físico. É a partir de exemplos como esses, e passando por grandes jogadores e treinadores, que PVC vai traçando o estilo da escola escola brasileira. Pela primeira vez, um livro discute a parte tática do esporte no Brasil de forma tão abrangente, indo do Botafogo de Garrincha à seleção do 7 a 1. PVC cobriu as Copas de 1994, 1998, 2006, 2010 e 2014, foi chefe de reportagem da ESPN Brasil e desde 2015 trabalha como comentarista da FOX Sports, além de participações na Rádio Globo/CBN e uma coluna na Folha de São Paulo. Por DIOGO MAGRI

O Incêndio

Alexandre Staut

Folhas de Relva Edições

Antonio é um bibliotecário dândi, como se costuma chamar os antigos hipsters, de uma biblioteca decadente, prestes a ser incendiada, ops, desativada pela prefeitura de uma cidade qualquer do Brasil. As viagens do personagem entre leituras – transforma-se em Virginia Woolf, Fernando Pessoa, Paul Verlaine – é o pano de fundo do romance de ficção O Incêndio, que mostra uma luta quixotesca para manter a biblioteca aberta, mesmo que autoridades digam que o prédio está caindo aos pedaços. O livro traz dois incêndios. Um real e outro implícito, que diz respeito a um tema pouco trabalhado na literatura brasileira: a adolescência gay. Entre as cenas da escola, o narrador relembra um tempo perdido em que tenta assimilar o seu desejo pelos colegas em campos de futebol e em aulas de ciências, e a fuga para os livros. O Incêndio é o quinto livro de Alexandre Staut, ganhador do Gourmand World Cookbook Awards e finalista do Prêmio Jabuti 2016 por Paris-Brest. Por REGIANE OLIVEIRA

Penélope africana

André Resende

Cubzac / Cepe

Escrito em primeira pessoa, o livro narra a história de Yaá, uma garota africana que chegou em Pernambuco em um navio negreiro, após a lei antitráfico ter entrado em vigor, em 1831, mas mesmo assim acabou arrendada por uma família. Ali, perdeu seu nome e passou a ser chamada de Cândida Maria da Conceição. Por meio de documentações que contam a vida real de Yaá, e a história de Pernambuco no século XIX,  o autor escreveu uma ficção contando que, apesar de ter perdido o nome e a família, ela não perdeu a identidade: ela foi até a Justiça pedir sua emancipação e por isso acabou virando alvo de críticas e represálias. Consciente de que 130 anos se passaram após a abolição da escravidão, mas que ainda hoje muitas mulheres vivem uma realidade reflexo da história de Yaá em Pernambuco, o escritor decidiu reverter metade do dinheiro arrecadado com as vendas do livro ao Instituto Casa de Yaá. O local ajuda a captar recursos para que mulheres negras e de baixa renda no Recife iniciem pequenas atividades comerciais individuais. Além do papel social e histórico, Penélope africana é uma bela narrativa, envolvente e cheia de belos neologismos. Em tempo, mas sem spoiler: a resposta à apelação de Cândida Maria da Conceição segue em aberto até hoje na Justiça. Por MARINA ROSSI

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