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Guatemala luta contra o tempo para chegar às zonas ilhadas pela lava

Pelo menos 65 pessoas morreram e milhares foram afetadas pela erupção do vulcão de Fogo, na Guatemala

Carros soterrados após erupção
Carros soterrados após erupçãoSTRINGER (REUTERS)
Jacobo García
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No domingo o céu desapareceu na costa do sul da Guatemala quando por volta de 15h (hora local) o Vulcão de Fogo entrou em erupção e lançou seu primeiro petardo de pedras e cinzas. Sobre as cabeças dos camponeses, tudo se transformou numa estranha nuvem cinzenta, contra a qual não havia escapatória. Simultaneamente o solo começou a arder, enquanto uma língua de lama fervente, paus, pedras e animais mortos arrasava tudo à sua passagem.

Desde então centenas de militares, policiais e especialistas em resgates lutam contra o tempo, o calor e as dificuldades respiratórias para tentar encontrar centenas de desaparecidos. Todos os esforços se concentram em quatro aldeias que foram sepultadas por uma chuva de cinzas e pedras a 700 graus centígrados.

Entre os feridos há centenas com os pés enfaixados. São pessoas que fugiram depois da erupção, quando a lava simplesmente lhes roçou, destruindo a pele e deixando os membros cheios de bolhas. Até o momento, as autoridades contabilizam 65 vítimas fatais, mas as equipes de resgate preveem que a cifra irá crescer, pois ainda não conseguiram chegar a vários municípios ilhados pela lava. Quatro aldeias – El Rodeo, La Reina, La Libertad e San Miguel Los Lotes – concentram a busca. Ali, os moradores relatam espantosas cenas de fuga em que muitos ficaram para trás “porque a lava os alcançou”.

“Lá ficou meu pai e minha sobrinha”, diz Olga González, de 46 anos, no albergue de Escuintla, a duas horas da capital guatemalteca e a 45 minutos do vulcão. “Dizem que há mais de 200 mortos, mas deve haver muito mais: todos os que não conseguiram sair correndo ou ficaram para retirar suas coisas”, diz, deitada no chão de um pavilhão municipal.

Domingo Lopez, de 79 anos, com os pés queimados pela lava
Domingo Lopez, de 79 anos, com os pés queimados pela lavaJ.G.

Olga recorda, como se fosse uma perseguição, a corrida que travou contra o rio de lava que descia da montanha. “Não deu tempo para nada, a lava vinha em cima de nós. Só podíamos correr e chorar sem olhar para trás”, relembra, junto aos seus dois filhos e três sobrinhos, com quem escapou de mãos dadas.

O agricultor Juan Francisco González, de 52 anos, estava cortando lenha quando escutou o estrondo vindo da montanha. Foi um ruído diferente do habitual. “Então o céu escureceu, e quando vi um rio quente descia pela encosta arrasando tudo”. Seu vizinho Domingo López, de 79 anos, trancou-se em casa e conseguiu que o barro fervendo não entrasse. Depois escapou por uma janela da sua moradia, sobre tábuas que alguns vizinhos atiraram. Daquelas horas recorda o céu cinza e o vapor quente que saía do chão. “Deus tenha em sua glória todos os que ficaram atrás", diz, com os pés cobertos de bolhas por correr sobre o chão em brasa.

Segundo as autoridades a erupção do Fogo afetou 1,7 milhão de pessoas em Chimaltenango, Escuintla e Sacatepéquez, onde o Governo da Guatemala ativou o alerto vermelho, enquanto o resto do país se encontra em alerta laranja. O Conselho de ministros se reuniu em caráter emergencial na noite do domingo e declarou estado de calamidade nesses três departamentos (províncias). O país se mobilizou, enviando alimentos para ajudar os milhares de afetados que não têm para onde ir nem o que comer.

Um albergue para desabrigados nesta segunda-feira
Um albergue para desabrigados nesta segunda-feiraJ.G.

O próprio presidente da Guatemala, Jimmy Morales, disse ter "vergonha" de anunciar que, em virtude da Lei Orçamentária, "o Estado não pode contar com um só centavo para emergências" se não declarar estado de calamidade. O Executivo também decretou três dias de luto nacional e acolheu 1.689 pessoas que perderam suas moradias.

O Fogo, com 3.763 metros de altura, é um vulcão “extremamente ativo e se caracteriza pela liberação de gases em altas temperaturas”, segundo Eddy Sánchez, diretor do Instituto de Sismologia da Guatemala. Trata-se de um velho conhecido dos guatemaltecos, e há registro de suas erupções desde a chegada do conquistador espanhol Pedro de Alvarado, mas desde 1974 ele não se comportava com tanta agressividade. A montanha está praticamente descoberta de vegetação a partir dos 1.300 metros de altura, e daí para cima só há lava solidificada.

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