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Petroleiros param e exigem da Petrobras nova regra para preço dos combustíveis

Na esteira dos caminhoneiros, categoria reclama de política que atrela valores domésticos aos do mercado internacional. "Greve de advertência", de 72 horas, não deve afetar produção

Petroleiros se mobilizam no Rio de Janeiro nesta quarta.
Petroleiros se mobilizam no Rio de Janeiro nesta quarta.Antonio Lacerda (EFE)
Marina Rossi
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Os petroleiros cruzaram os braços nesta quarta-feira, quando o Brasil iniciava seu retorno à normalização, após dez dias de greve dos caminhoneiros. A paralisação, convocada pelos sindicatos representantes da categoria, é chamada de “greve de advertência” pois, a princípio, vai durar 72 horas, terminando na noite desta sexta-feira e em intenção de afetar o abastecimento. “Mas faremos uma avaliação após terminado esse período”, afirmou Bruno Dantas, diretor da Federação Nacional dos Petroleiros (FNP), em Aracaju. O Tribunal Superior do Trabalho (TST) atendeu ao Governo e considerou a mobilização ilegal ainda na terça e nesta quarta subiu de 500.000 reais para 2 milhões a multa diária dos sindicatos que aderirem.

Em linhas gerais, a categoria reclama do que chama de “entreguismo” da Petrobras, que estaria se rendendo aos ditames do mercado internacional em detrimento do Estado brasileiro. O principal alvo de crítica é a política de preços da estatal para os combustíveis, um dos estopins da greve dos caminhoneiros. Desde julho do ano passado, a Petrobras vem praticando uma política de preços que segue as oscilações do mercado internacional. Ou seja, é regulado segundo a cotação do dólar e o valor do barril de petróleo, podendo mudar de um dia para o outro. Nesta quarta-feira, por exemplo, após cinco cortes seguidos, a companhia anunciou um novo aumento da gasolina, de 0,74%. Só neste mês de maio, foram registrados 13 altas e seis quedas no preço da gasolina. Mas a Agência Nacional do Petróleo (ANP) divulgou um levantamento mostrando que o preço na bomba de gasolina continuou subindo mesmo com as reduções nas refinarias.

A Petrobras diz que não controla os valores nos postos e que o combustível é uma commoditie e por isso seus preços são regulados pelo mercado internacional. "É natural, portanto, que os preços no Brasil também acompanhem o mercado internacional, para cima e para baixo". A empresa afirma ainda que os preços são altos devido aos tributos, e que somente 1/3 do preço do combustível vem do valor cobrado por ela. "A carga tributária responde a parte relevante do preço final", diz o site da estatal.

Seja como for, a fatura dos preços flutuantes, algo que os caminhoneiros pediram pelo fim durante a greve, vem sendo paga pelo consumidor. O ano de 2017 foi encerrado com uma alta média de mais de 9% no preço da gasolina. Além disso, o botijão de gás de cozinha, que em setembro do ano passado custava 18,98 reais para as refinarias, hoje custa 22,13 reais. Uma alta de 16,6%, que é sentida no bolso da população, que chega a pagar até 100 reais em alguns lugares do país. Durante a greve dos caminhoneiros, um botijão chegou a custar até 200 reais no Recife. Nesta quarta, na volta da normalização, já era possível encontrar um botijão a 60 reais.

Os petroleiros dizem que essa subida de preços é reflexo também da política de refinaria no mercado externo. “A gasolina está cara porque estamos importando, sendo que temos total condição de refinar aqui no Brasil”, resume Leonardo Buarque, petroleiro da refinaria Abreu e Lima, no Complexo Portuário de Suape, em Pernambuco. Ocorre que o petróleo é extraído no Brasil, exportado para outros países como os Estados Unidos, onde é refinado, e importado na forma de combustível para o Brasil de volta. “Isso é incoerente demais”, diz Rogério Almeida, coordenador geral do Sindicato dos Petroleiros de Pernambuco e da Paraíba. "Temos total capacidade para refinar quase 100% do combustível consumido aqui".

Pedro Parente no alvo

Para os petroleiros, Pedro Parente, presidente da Petrobras desde maio de 2016, é a personificação dessa política. Por isso, a greve iniciada nesta quarta pede também a saída “imediata” de Parente da estatal. As outras reivindicações dos petroleiros são a redução dos preços do gás de cozinha e dos combustíveis, fim das importações do petróleo refinado e outras mais genéricas como o fim do “desmonte” da estatal. Na terça, Parente havia classificado a greve como "política" e sem uma "pauta reivindicatória". Ele disse também que a Petrobras continuará livre para praticar seus preços sobre os combustíveis, com o objetivo de preservar o "resultado financeiro da companhia".

Após dez dias de greve dos caminhoneiros e o caos no abastecimento de combustível e alimentos, os petroleiros prometem que a população não será afetada assim novamente. “Os tanques estão cheios, então se houver escoamento do combustível, não faltará na bomba”, disse Rogério Almeida, no Recife. “Queremos atingir o mercado financeiro internacional” disse ele.

Na esteira do movimento dos caminhoneiros, o movimento respondeu às críticas de Pedro Parente e do próprio TST. Bruno Dantas, do sindicato em Sergipe, afirma que a greve “vinha sendo construída” há muito tempo. “Discutimos fazer em junho, mas quando vimos a greve dos caminhoneiros pedindo exatamente o que a gente queria, que é contra a política de atrelar a precificação dos combustíveis à cotação do barril internacional e ao dólar, decidimos parar agora também”.

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