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Harvey Weinstein se entrega à polícia em Nova York

Poderoso produtor de Hollywood é acusado de estuprar uma mulher e forçar outra a fazer sexo oral

Harvey Weinstein chega a uma delegacia de polícia em Nova York para preencher sua ficha policial.
Harvey Weinstein chega a uma delegacia de polícia em Nova York para preencher sua ficha policial.REUTERS/Mike Segar
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Harvey Weinstein já está fichado depois de ter sido acusado em Nova York de estuprar uma mulher e forçar outra a fazer sexo oral. O primeiro processo criminal nos Estados Unidos contra o poderoso produtor de Hollywood começou assim, sete meses depois do início da enxurrada de denúncias públicas contra esse gigante da indústria do entretenimento que deu vida ao Movimento #MeToo.

O produtor chegou a Nova York em um voo particular na noite passada. Depois das sete horas da manhã, hora local (8 horas em Brasília), se entregou na delegacia de polícia de Tribeca, o bairro onde era o rei. Depois de preencher sua ficha policial, será transferido para prestar depoimento perante o juiz Kevin McGrath em uma corte criminal de Manhattan. Harvey Weinstein fez um acordo com o promotor Cyrus Vance de pagar uma fiança de um milhão de dólares (cerca de 3,65 milhões de reais), além de entregar seu passaporte e usar uma pulseira eletrônica. Seus deslocamentos serão limitados.

Weinstein enfrenta três acusações. Ele é acusado de estupro em primeiro e terceiro grau no caso de uma primeira mulher, que ainda não foi identificada. A terceira diz respeito à denúncia da atriz Lucia Evans, que o produtor o forçou a fazer sexo oral em 2014. Eles se conheceram uma noite em um clube e ela disse que estava tentando entrar na indústria. O empresário a convidou para visitá-lo nos escritórios da Miramax em Tribeca, onde ocorreu a investida.

“Disse a ele várias vezes que não queria aquilo, que ele parasse”, revelou a atriz à revista The New Yorker na longa reportagem que marcou o início da derrocada de Harvey Weinstein. “Tentei me soltar, mas talvez não tenha feito isso com força suficiente”, relatou, “ não queria dar um chute nele e nem em entrar em luta corporal”. “Simplesmente me rendi”, admitiu, referindo-se à corpulência do produtor.

Mais de 70 mulheres se manifestaram desde outubro do ano passado contra o produtor de Hollywood, que acusaram de assédio, agressão sexual e estupro. O comportamento abusivo de Weinstein não era um segredo na indústria, que optou pelo silêncio. Sob essa proteção, o empresário usava seu poder, fortuna e influência para ameaçar as vítimas, ameaçando arruinar suas carreiras se elas o denunciassem publicamente. Todos os casos seguem um padrão de ação similar.

A polícia de Nova York e o promotor público de Manhattan investigam as acusações contra Harvey Weinstein há sete meses. As acusações tornadas públicas nesta sexta-feira foram previamente apresentadas a um grande júri, que durante as últimas semanas analisou as provas e depoimentos das mulheres que foram vítimas do acusado. Cyrus Vance também investiga as acusações feitas pela atriz Paz de la Huerta, que declarou publicamente ter sido estuprada duas vezes em 2010.

Autoridades judiciais de Nova York estão investigando paralelamente se Harvey Weinstein cometeu algum crime financeiro comprando o silêncio de suas vítimas. Também estão examinando até que ponto ele usou diretores e empregados dos estudos Miramax e The Weinstein Company para identificar potenciais vítimas, preparar encontros em que aconteceriam agressões sexuais e depois tratar de desautorizar as denúncias.

Entre as atrizes que acusaram Harvey Weinstein estão Gwyneth Paltrow, Salma Hayek. Ashley Judd, Lupita Nyong’o e Angelina Jolie. O Ministério Público de Manhattan examinou há três anos a queixa da modelo italiana Ambra Battilana Gutiérrez, mas o promotor decidiu arquivá-la por falta de provas consistentes que pudessem ser apresentadas ao júri. Há também processos em Los Angeles relativos às denúncias de cinco mulheres, e em Londres, onde uma dezena de casos está sendo investigada.

O promotor Vance foi submetido a uma forte pressão pública para avançar na investigação. Os ativistas dos movimentos #MeToo e Time’s Up acusaram o democrata de dar um tratamento mais favorável a Weinstein do que às vítimas. O governador Andrew Cuomo pediu paralelamente em março que se investigasse se Vance agiu corretamente ao arquivar o caso de Battilana. Durante as últimas semanas, reiterou que sua causa não se baseia em considerações políticas.

“Durante anos, perdemos a esperança de que o nosso estuprador não escaparia da lei”, disse Rose McGowan, uma das primeiras vítimas a acusar publicamente Harvey Weinstein, “Agora estamos um passo mais perto de que se faça justiça”. “Éramos mulheres jovens, fomos agredidas por Weinstein e depois aterrorizadas por sua vasta rede de cúmplices”, disse ela em um comunicado.

Weinstein, produtor de filmes como Pulp Fiction, Gangues de New York e Shakespeare Apaixonado, voltou a negar as acusações e reiterou que as relações sexuais eram consentidas. As autoridades federais também investigam o empresário, entre outras coisas, por um possível crime financeiro. Seu advogado confirmou em março que Weinstein estava em um centro de reabilitação no Arizona para tratar seu vício em sexo.

O fato de ter se entregado, diz Tarana Burke, criadora do movimento #MeToo, permitirá que as denúncias iniciadas em outubro “passem da opinião pública aos tribunais”. Harvey Weinstein foi demitido dos estudos que fundou com o irmão, que há dois meses declarou falência devido a dificuldades financeiras, e foi expulso da Academia de Cinema.

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