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Xenófobos e antipolítica, o coquetel explosivo para governar a Itália

Temor em toda a Europa depois do acordo de coalizão entre os partidos Movimento 5 Estrelas e a Liga

Daniel Verdú
O líder da Liga, Matteo Salvini.
O líder da Liga, Matteo Salvini.Matteo Bazzi (AP)

A Europa espera com medo o nascimento do novo Governo da Itália. Depois de muitas semanas de incerteza, o acordo parece fechado entre a Liga, partido que tem como uma de suas grandes bandeiras a rejeição à imigração, e o Movimento 5 Estrelas (M5S), fundado pelo humorista Beppe Grillo sob o slogan “políticos vaffanculo” (políticos vão tomar no cu) e sem ideologia definida. No programa acordado entre ambos, anti-establishment, soberanista e cético com a União Europeia, a Liga impôs seu viés extremista. O plano de Governo inclui desde a expulsão de 500.000 imigrantes ilegais até uma radical redução de impostos, uma espécie de tarifa única para o imposto de renda, bem como a introdução de uma renda básica de cidadania.

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O programa não deixa claro como financiará essas medidas e a preocupação se espalhou nos mercados. O risco-país da Itália disparou e a Bolsa caiu drasticamente, afetando o terceiro maior banco do país, o Monte dei Paschi di Siena. O acordo espera apenas a assinatura dos líderes dos dois partidos. Os militantes do M5S já o ratificaram em votação online, com 94% de aprovação. O nome do primeiro-ministro ainda não foi definido, embora tudo indique que será um membro do movimento antipolítica. Parece difícil que a Liga permita que seja o próprio líder do M5S, Luigi Di Maio, 31 anos.

Algumas das propostas mais radicais, como a saída do euro, foram retiradas do programa. Mas prevalece um ar de desconfiança em relação à UE, além de medidas fiscais drásticas. O imposto da renda, que até agora tinha uma tarifa máxima de 43%, vai ficar reduzido a duas tarifas de 15% e 20%. O documento acertado entre os dois principais ganhadores das eleições passadas não fornece dados, mas algumas fontes avaliam seu custo em cerca de 65 bilhões de euros (285 bilhões de reais). Um verdadeiro torpedo contra uma economia cuja dívida representa hoje 130% do PIB.

As duas formações apresentaram algumas de suas propostas eleitorais mais importantes, como a promessa da Liga de expulsar 500.000 imigrantes ilegais. A principal medida do M5S, a criação de uma renda básica de cidadania, foi transformada em uma iniciativa confusa que não começaria antes de 2020 e se parece mais com um subsídio de desemprego. Inicialmente, o M5S havia calculado que custaria cerca de 17 bilhões de euros por ano (75 bilhões de reais), embora alguns especialistas tenham estimado que esse valor seria quase o dobro. A última versão do programa, no entanto, menciona apenas 2 bilhões de euros (8,81 bilhões de reais). A razão é que a proposta foi limitada a dois anos em que o beneficiário –identificado através do cálculo de seus rendimentos e patrimônio– deverá aceitar pelo menos uma das três ofertas de trabalho que receber uma vez que se inscreva em um centro de emprego (no caso de recebê-las).

A luta contra a corrupção foi uma das bandeiras de ambos os partidos, que preveem a criação da figura do “agente provocador”: funcionários que de forma encoberta oferecerão subornos a membros da Administração para comprovar sua honestidade. O acordo prevê um aumento dos gastos com segurança para contratar mais policiais. Além disso, aponta os acampamentos ciganos das grandes cidades como focos de delinquência: “Hoje, 40.000 pessoas vivem nos campos nômades e 60% são menores. É necessário fechar todos esses campos”. O líder da Liga, Matteo Salvini, conseguiu colocar o “direito à legítima defesa” dos cidadãos contra ataques de criminosos como um ponto-chave.

Os dois partidos afirmam que a Itália permanecerá da OTAN, a aliança militar entre a Europa e os EUA, embora com “uma abertura à Rússia, que deve ser vista não como uma ameaça, mas como um parceiro econômico e comercial cada vez mais importante”. “O levantamento de sanções comerciais e sua reabilitação como interlocutor estratégico para a resolução de crises como a da Síria, da Líbia e do Iêmen é oportuno”, afirma o programa acordado.

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