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Nobel de Literatura não será entregue neste ano após escândalo de abusos sexuais

Academia Sueca decidiu que dois prêmios serão concedidos no próximo ano. Cerimônia já foi adiada, mas é a primeira vez que é transferido por uma polêmica desse tipo

A acadêmica Katarina Frostenson e o marido, o fotógrafo e dramaturgo francês Jean-Claude Arnault, acusado de abusos por 18 mulheres
A acadêmica Katarina Frostenson e o marido, o fotógrafo e dramaturgo francês Jean-Claude Arnault, acusado de abusos por 18 mulheresJonas Ekstromer (AP)

A Academia Sueca anunciou nesta sexta-feira, dia 4 de maio, que não entregará o Prêmio Nobel de Literatura de 2018 depois da polêmica surgida com as denúncias de assédio sexual que envolvem o marido de uma das integrantes da entidade, o que levou à renúncia de vários membros do conselho. Em 2019, dois prêmios serão concedidos, segundo afirmou a Academia em comunicado oficial. É a crise mais grave do prêmio desde sua criação em 1901.

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O Nobel de Literatura ficou sem vencedor em 1935 e não foi concedido em 1914, 1918, 1940, 1941, 1942 e 1943, por conta das duas guerras mundiais. Além disso, foi adiado em outras sete ocasiões em busca de um “candidato adequado”, mas nesses casos (1915, 1919, 1926, 1926, 1936 e 1949) sempre acabou sendo entregue, na maioria das vezes no ano seguinte.

A Fundação Nobel admitiu que o prêmio deveria ser dado anualmente, mas lembrou que as decisões sobre os premiados foram adiadas várias vezes. “Uma das circunstâncias que pode justificar uma exceção é uma situação tão grave que faça com que a instituição não seja percebida como crível”, disse a organização. Embora o processo de seleção de candidatos estivesse acontecendo no ritmo habitual, “é necessário que a Academia tenha tempo para recuperar sua força plena, envolver um número maior de membros ativos e restaurar a confiança nela antes de escolher um novo vencedor”.

Os dez membros restantes da instituição, que ontem realizaram uma reunião para discutir a questão, concordam com a necessidade de desenvolver um novo marco de trabalho.

Abusos e vazamentos

O escândalo de abusos sexuais abalou a Academia Sueca nos últimos meses e levou a uma série de renúncias. No dia 13 de abril, a instituição ficou sem quórum para o Nobel de Literatura. A última a renunciar ao cargo foi a acadêmica Sara Stridsberg. Com ela, seis pessoas deixaram a instituição no último mês. Apenas 10 das 18 cadeiras estão ocupadas, porque duas autoras boicotam a instituição por outros motivos há anos. Segundo os estatutos da organização, essa circunstância não permitiria a eleição de novos membros.

O Nobel de Literatura ficou sem vencedor em 1935 e não foi concedido em 1914, 1918, 1940, 1941, 1942 e 1943

A renúncia de Stridsberg veio depois da saída da acadêmica Katarina Frostenson e da secretária permanente, Sara Danius, responsável por anunciar o Nobel de Literatura. Frostenson, acadêmica e membro associado do Comitê Nobel havia 26 anos, é mulher de Jean-Claude Arnault, dramaturgo e fotógrafo francês acusado de abuso sexual por 18 mulheres. No início de abril, três outros acadêmicos – Klaus Östergren, Kjell Espmark e Peter Englund – abandonaram suas cadeiras na instituição.

O caso veio à tona em novembro, quando 18 mulheres acusaram publicamente Arnault no jornal Dagens Nyheter de assédio sexual, agressões e inclusive estupro. Abusos cometidos entre 1997 e 2007 – alguns deles nas dependências da Academia ou em um dos luxuosos apartamentos que a instituição possui em Paris e Estocolmo – e que, de acordo com a maioria dos que agora levantam a voz, muitos da elite cultural sueca sabiam ou suspeitavam. Principalmente na Academia.

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