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Venezuela ordena a prisão de 11 executivos do Banesco, o principal banco privado do país

Diretores foram convidados para uma reunião corriqueira com a Superintendência Bancária. Depois, eles foram presos de surpresa pela Direção de Contrainteligência Militar

A sede de Banesco em Caracas.
A sede de Banesco em Caracas.Marco Bello (Reuters)

O procurador-geral, Tarek William Saab, que foi designado pela Assembleia Constituinte da Venezuela, anunciou nesta quinta-feira a detenção de 11 membros da junta diretora do Banesco, o principal banco privado do país, acusados de favorecer, “por ação ou omissão”, uma rede de transações cambiais ilegais existente na fronteira com a Colômbia, alimentada pelo dólar do mercado negro e através da qual muitos emigrantes venezuelanos estavam enviando remessas a seus familiares. O Banesco é propriedade de Juan Carlos Escotet, venezuelano filho de espanhóis, proprietário da sociedade financeira Abanca.

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Em seu pronunciamento, o procurador-geral deixou entrever que tais operações formam parte do “ataque sistemático à moeda nacional” levado adiante pelas “máfias econômicas”, por intermédio das quais, segundo ele, são realizadas gestões clandestinas para extrair de circulação o papel-moeda do país, que neste momento é quase inexistente.

Os dirigentes presos integram o topo da hierarquia das instituições: Oscar Doval, presidente-executivo; Marco Tulio Ortega, consultor jurídico; Jesús Guillermo Irausquín, vice-presidente; Teresa Di Prisco Pascale, oficial de supervisão das normas bancárias; Liz Sánchez, diretora; Carmen Teresa Lorenzo, oficial de supervisão das normas bancárias; Carlos Martín Lorenzo, vice-presidente; Pedro Pablo Pernía, vice-presidente; Belinda Payares, vice-presidente; Davis Antonio Romero, gerente; e Cosme Betancourt, gerente. Eles, segundo Saab, são acusados e investigados “por descumprimento de suas funções”. O procurador-geral informou que, no total, estão detidas 134 pessoas e há ordem de apreensão de outras 394.

Os dirigentes do Banesco foram levados a prestar depoimento na noite anterior sobre este caso, mas não a tribunais comuns, e sim à Direção de Contrainteligência Militar (DGCIM). Segundo os relatos, antes tinham sido convidados a uma reunião, aparentemente de rotina, na Superintendência de Depósitos Bancários, a Sudeban, e depois foram levados de surpresa à sede da Inteligência Militar, com o objetivo de prestar contas de seus atos.

Houve, então, fortes rumores em torno de sua possível detenção, negados pela própria direção do Banesco, instituição que havia emitido uma declaração em sua conta de Twitter na qual assinalava que os executivos simplesmente colaboravam com as autoridades no esclarecimento do caso e que todos estavam completamente tranquilos, em virtude de que “nossas ações sempre estiveram ajustadas ao direito e à legalidade”. Parte importante desses dirigentes já estava presa quando Saab fez o anúncio oficial correspondente.

A Procuradoria-Geral da República não estaria acusando essas pessoas de orquestrar a existência desses grupos, mas de não terem cumprido seu dever. A Vice-Presidência da República emitiu um comunicado no qual afirma que elas “omitiram uma série de irregularidades que não foram notificadas à Superintendência de Depósitos Bancários (Sudeban)”.

Um dia antes desse anúncio, o vice-presidente da Venezuela, Tarek El Aissami, apresentou na televisão estatal os detalhes da operação Mãos de Papel, concebida pelo Executivo Nacional “para desmantelar essas redes econômicas clandestinas, que afetam a qualidade de vida dos venezuelanos”, e que operam sob um contexto de estrito controle cambial, em uma economia afundada nos domínios do mercado negro, cujos dígitos inflacionários e cambiais estão completamente fora de controle.

De acordo com a interpretação oficial, a operação desses grupos assesta duros golpes à estabilidade econômica do país. El Aissami afirmou que as investigações obrigaram o Governo a congelar 1.133 contas bancárias ilegais, 90% das quais pertenceriam ao Banesco.

O Governo de Nicolás Maduro mantém em vigor um draconiano regime de controle cambial, herdado dos anos de Hugo Chávez e que está em vigor há 14 anos. Essa medida se transformou na alavanca para a criação de um número sem-fim de negociações ilegais por parte de agentes privados, mas sobretudo de funcionários públicos, ministros, vice-ministros, superintendentes, militantes chavistas e pessoal militar, que puderam multiplicar suas fortunas especulando com a existência de três tipos de câmbio e o contrabando de comida e matérias-primas. Essa circunstância, de caráter crônico, produziu uma enorme sangria de divisas no país e explica em boa medida o estado atual de falência da Venezuela.

El Aissami anunciou também que a partir deste momento está autorizada a operação de casas de câmbio — que há mais de 10 anos deixaram de existir no país —, mas na fronteira e “nas zonas econômicas especiais”, com o objetivo de que os cidadãos possam trocar seus recursos sem inconvenientes.

Acadêmicos e economistas estão há muito tempo pedindo ao Governo que remova os controles e reforme sua estratégia monetária, cambial e fiscal com a finalidade de retomar o caminho do crescimento e impedir a hiperinflação. Depois de a sugestão ter sido totalmente negada, os porta-vozes qualificados chavistas atribuíam o vigor dos vaivéns especulativos com o dólar à existência do site Dolar Today, um portal de caráter oposicionista que opera a partir do exterior, muito ativo nas redes sociais, e que todos os dias viola as normas oficiais, tornando público o preço do dólar no mercado negro, que é aceito na compra e na venda, cuja taxa não é reconhecida pelo Governo e não pode ser decidida em público.

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