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Irã chama Netanyahu de “mentiroso inveterado”

Teerã rejeita acusações de Israel sobre suposto programa nuclear secreto e UE diz que caso deve ser avaliado pela AIEA

Ángeles Espinosa
A Guarda Revolucionária mostra um míssil balístico em manifestação a favor da Palestina, em junho de 2017.
A Guarda Revolucionária mostra um míssil balístico em manifestação a favor da Palestina, em junho de 2017.Vahid Salemi (AP)
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O Irã tachou o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, de "mentiroso inveterado", em resposta nesta terça-feira às acusações de que a República Islâmica continua escondendo um programa de armas atômicas. A reação oficial, divulgada pelo Ministério de Relações Exteriores, afirma que essas alegações são "velhas, sem conteúdo e vergonhosas". Além da irritação produzida em Teerã, a encenação de Netanyahu tampouco parece ter influenciado a postura dos demais signatários do acordo nuclear.

"Os líderes sionistas não veem outros meios de garantir a sobrevivência de seu regime ilegal a não ser ameaçar os outros por meio do charlatanismo", afirmou em comunicado o porta-voz do Ministério de Relações Exteriores do Irã, Bahram Qasemi. "Netanyahu e o tristemente célebre regime sionista assassino de crianças deveriam, no entanto, entender que a opinião pública mundial está suficientemente formada [para acreditar neles]", conclui o texto com a habitual retórica iraniana.

O primeiro-ministro israelense afirmou na segunda-feira que dispõe de "provas conclusivas" sobre a existência de um plano "secreto" que o Irã pode ativar a qualquer momento para adquirir uma bomba atômica. Suas suspeitas, que não são novas, assumem particular relevância às vésperas da decisão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, em 12 de maio, sobre a saída de seu país do acordo nuclear com o Irã, assinado com outras grandes potências em 2015, como vem ameaçando desde antes de sua eleição.

Pouco depois da apresentação televisionada de Netanyahu, o chanceler iraniano Mohammad Javad Zarif tuitou que o "garoto que gritava que o lobo está chegando" estava tentando convencer Washington a sair do acordo nuclear. Foi a mesma impressão de vários analistas, em parte porque usou o inglês em vez do hebraico, e também porque não parecia haver novos documentos além de seu PowerPoint. E, se houvesse, não deveria ter compartilhado esses documentos com seus aliados norte-americanos de maneira mais discreta?

Apenas convenceu os convencidos. "O que aconteceu hoje e o que aconteceu recentemente e o que temos conhecimento mostram que estou 100% certo", declarou Trump quando perguntado sobre os documentos. Já para o presidente da França, Emmanuel Macron, que na semana passada tentou convencê-lo da importância do acordo, as declarações de Netanyahu reforçam "a relevância de mantê-lo".

No início deste ano, Trump deu ao Reino Unido, França e Alemanha, os três países europeus signatários do pacto nuclear com o Irã, juntamente com os EUA, Rússia e China, até 12 de maio para "consertar as falhas" do Plano Abrangente de Ação Conjunta (PAAC), seu nome oficial. Trump critica que o pacto não inclua o programa iraniano de mísseis balísticos (possivelmente capazes de transportar ogivas nucleares), limite o acesso de inspetores aos centros militares e permita o enriquecimento de urânio ao término do acordo. Teerã, por sua vez, considera intolerável que Washington queira revisar unilateralmente um acordo multinacional.

"Se algum país tiver informações sobre qualquer violação de qualquer tipo, pode e deve encaminhá-las para os mecanismos apropriados, a AIEA [Agência Internacional de Energia Atômica] e a Comissão Conjunta [do PAAC] para monitorar o acordo nuclear que presido", declarou a alta representante da UE para Política Exterior, Federica Mogherini. "O PAAC não é baseado em suposições de boa-fé ou confiança, e sim em compromissos concretos, mecanismos de verificação e um controle muito rigoroso dos fatos realizados pela AIEA", enfatizou antes de recordar que a agência publicou, em 5 de março, dez relatórios certificando que o Irã cumpriu integralmente seus compromissos.

Como de costume, a AIEA se recusou a comentar as acusações de Netanyahu. No entanto, em comunicado para responder às consultas dos jornalistas, fez referência ao relatório publicado em dezembro de 2015, menos de um mês antes do acordo entrar em vigor, segundo o qual o Irã havia pesquisado sobre armas nucleares antes de 2003, mas não foi além da fase de estudo e viabilidade de um dispositivo explosivo. O mesmo texto constatava que não havia indicação de que essa iniciativa tivesse sido prolongada além de 2009.

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