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Os sete fundamentos para entender a Bienal 2018

Pela primeira vez em muitos anos, o formato se afasta da visão de um único curador e convida sete artistas para montar suas próprias exposições

Tom C. Avendaño

Friedrich Fröbel educava crianças na Alemanha do século XIX de uma maneira um pouco diferente. Convencido da unidade da natureza e do mundo, ele pedia aos alunos que representassem pássaros, casas e desenhos abstratos com cubos, paus e aros de metal: isso foi na década de 1830 e até o final do século essa técnica se espalhou a vários jardins da infância (kindergarden, para usar um termo que ele mesmo cunhou) da Europa e dos Estados Unidos. Braque, Lloyd Wright e Mondrian aprenderam com ela e há quem suspeite que daí lhes veio a sensibilidade pela geometria que mais tarde desembocou nas vanguardas. O artista espanhol Antonio Ballester Moreno é um deles. “Existem provas mais que consistentes de que Paul Klee estudou isso, e não somente pintores, mas também arquitetos como Le Corbusier”, explica por telefone. E isso, acrescenta, é o que motivou Ballester Moreno a trazer obras de Fröbel a São Paulo, na exposição que curou na Bienal de São Paulo.

'Generators', de Wura-Natasha Ogunji
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Antonio Ballester Moreno, um dos nomes da nova pintura espanhola, é um dos sete artistas que darão forma à edição mais imprevisível da Bienal de São Paulo, que acontece de 7 de setembro a 9 de dezembro no Pavilhão Ciccillo Matarazzo, no Parque do Ibirapuera, organizada pelo espanhol Gabriel Pérez-Barreiro. A mostra muda o que era o normal, a visão única de um curador sobre um tema, para dar lugar a algo até agora inédito: uma série de exposições diferentes com curadoria de artistas de diversos países, que trazem os autores que acham mais convenientes. No que diz respeito a Ballester Moreno, além de Froebel, um educador do século XIX, trará Mark Dion, um norte-americano que organizará uma oficina de ilustração de árvores e flores do Parque do Ibirapuera. E também a alemã Andrea Buttner: “Ela trabalha questionando temas relacionados ao contexto e como os corpos se relacionam com ele”, diz Ballester Moreno. “Por exemplo, ela tem uma obra na qual pinta até onde seu braço alcança, uma demonstração do limite do natural.”

Tudo isso responde ao próprio tema proposto por Ballester Moreno: nossa relação com a natureza. “É sobre como nos relacionamos com a natureza, relação que nos últimos séculos foi um pouco abandonada. A arte nos trata como seres isolados, e eu compartilho isso, mas também temos muitas coisas em comum que foram deixadas de lado”. Daí o nome da sua exposição, sentido/comum. “Com uma barra no meio, como forma gráfica de ver que esse sentido comum está separado, mas está aí.”

'Foreigners', de Claudia Fontes
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Assim são atendidos os dois únicos requisitos que as exposições devem ter: obedecer ao tema Afinidades Afetivas e, logicamente, incluir alguma de suas obras. É o mesmo que fez Claudia Fontes, que em O Pássaro Lento estuda o conceito de lentidão: “Perguntei se um pássaro sentiria vertigem e em quais ocasiões. Ocorreu-me que um pássaro deve sentir vertigem quando a velocidade em que voa é tão lenta que corre o risco de cair. Assim surgiu a imagem”, explica. Para a ocasião, Fontes solicitou obras ao inglês Ben Rivers, ao búlgaro Daniel Bozhkov e aos argentinos Paola Sferco e Sebastián Castagna.

As outras cinco exposições seguem as mesmas regras. O uruguaio Alejandro Cesarco explora a relação do passado com o presente com uma mostra chamada Aos Nossos Pais, que terá trabalhos de Louise Lawler e Cameron Rowland. Stargazer II, de Mamma Andersson, abre a porta para outsiders como Henry Darger e o piloto de caça e artista sonoro Ake Hodell. Em A Infinita História das Coisas ou o Fim da Tragédia do Um, a brasileira Sofia Borges reflete sobre a tragédia grega com obras de Isaac Hadad, Jennifer Tee e Sarah Lucas. Outro brasileiro, Waltercio Caldas, indaga sobre “a poética das formas e das ideias”. Finalmente, Wura-Natasha Ogunji encomendou obras da sul-africana Lhola Amira, da norte-americana Nicole Vlado e da libanesa Youmna Chlala.

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