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Ataque de mísseis na Síria deixa 14 mortos em base aérea

Damasco e Moscou acusam Israel pela ação; EUA negam represália por suposto ataque químico

Exército sírio na região do suposto ataque químico em Duma
Exército sírio na região do suposto ataque químico em DumaAFP
Juan Carlos Sanz
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A escalada bélica está ganhando intensidade na Síria. Um ataque de mísseis na madrugada desta segunda-feira fez 14 mortos na base aérea T4, perto de Palmira (centro do país), segundo meios de comunicação estatais, que inicialmente responsabilizaram os Estados Unidos pelo bombardeio. O Pentágono negou ter feito qualquer operação militar na Síria “por enquanto”, apesar da ameaça do presidente Donald Trump de golpear o regime de Damasco pelo suposto ataque químico que aconteceu no sábado em Duma, reduto rebelde na periferia da capital síria. Damasco e Moscou acusaram Israel pela operação, que já havia atacado o mesmo aeródromo militar em fevereiro, em represália à infiltração de um drone em seu espaço aéreo.

“Dois F-15 israelenses atacaram a base (de Palmira) entre 3h25 e 3h53 (21h25 e 21h53 em Brasília, respectivamente) com oito mísseis de cruzeiro disparados do espaço aéreo libanês, sem chegar a entrar no espaço sírio. Cinco mísseis foram interceptados pela defesa aérea síria, mas os três restantes atingiram a base”, informou o Ministério de Defesa da Rússia, reproduzido pelas agências de notícias em Moscou. A agência oficial de notícias síria, SANA, disse também, citando fontes militares: “O ataque de Israel foi executado por caças F-15 que dispararam vários mísseis desde o Líbano”.

O ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergey Lavrov, afirmou que o ataque “é um passo muito perigoso”. “Espero ao menos que assim o entendam os Estados Unidos e aqueles países que participam da coalizão que (Washington) lidera”, advertiu em uma entrevista coletiva em Moscou, mencionada pela France Presse. “Nossos especialistas militares que visitaram o lugar do ataque em Duma não encontraram vestígios de gás de cloro ou de qualquer outra substância química usada contra civis”, acrescentou.

A Organização para a Proibição de Armas Químicas disse no domingo, em um comunicado divulgado em sua sede em Haia, que suas equipes já estão investigando o que aconteceu em Duma. “Uma análise preliminar dos informes do suposto uso de armas químicas foi feita imediatamente após sua divulgação”, disse o organismo ligado à ONU.

Imagem de satélite (Google Maps) do aeroporto atacado
Imagem de satélite (Google Maps) do aeroporto atacado

A agência SANA havia informado anteriormente que tinham sido constadas vítimas, sem especificar seu número, no bombardeio de um aeroporto militar sírio no centro do país. O Observatório Sírio para os Direitos Humanos, uma ONG com informantes no terreno, disse que 14 pessoas morreram, entre elas vários combatentes iranianos. Nenhum militar russo foi afetado pelo ataque, segundo Moscou.

A televisão estatal confirmou que houve “uma agressão israelense com vários impactos de mísseis contra a base T4, provavelmente de origem norte-americana”. Fontes do Exército afirmaram que os sistemas de defesa antiaérea da Síria interceptaram vários foguetes disparados contra o aeródromo, onde também estão mobilizadas forças russas, iranianas e da milícia xiita libanesa Hezbollah.

Depois de desmentir sua intervenção na Síria, o Departamento de Defesa dos EUA precisou: “Continuamos acompanhando de perto a situação e apoiamos os esforços diplomáticos em andamento para fazer com que aqueles que usam armas químicas, na Síria e onde for, sejam responsabilizados”, acrescentou. No domingo, Trump condenou o suposto ataque químico que fez dezenas de mortos perto de Damasco e alertou que os responsáveis “pagariam um alto preço”.

O Conselho de Segurança da ONU deve se reunir com urgência nesta segunda-feira para analisar a situação na Síria depois do suposto ataque químico. Tanto as autoridades sírias quanto a Rússia e o Irã negaram o uso de armas proibidas nos bombardeios de Duma. Os países ocidentais estão reunindo imagens de satélite, vídeos e depoimentos das vítimas para apresentá-los como provas da agressão perante as Nações Unidas.

O presidente da França, Emmanuel Macron, e Trump trocaram informações no domingo para confirmar o uso de armas químicas na Síria e coordenar suas ações na reunião do Conselho de Segurança, de acordo com um comunicado do Palácio do Eliseu. Com os dados disponíveis, os dois presidentes concluíram que armas químicas haviam sido usadas em Duma, embora ainda seja necessário estabelecer a responsabilidade pelo ataque. Paris também negou sua intervenção no bombardeio de Palmira.

Fontes militares israelenses se recusaram a comentar o ataque de mísseis registrado nesta madrugada na Síria. No incidente mais grave em que o Estado hebreu se viu envolvido em sete anos de guerra civil no vizinho país árabe, aviões militares israelenses bombardearam o mesmo aeroporto T4 perto de Palmira em fevereiro passado. Oito caças F-16 atacaram a base de drones da qual partira um aparelho não tripulado de fabricação iraniana que entrou no espaço aéreo do norte de Israel antes de ser interceptado. Um dos F-16 foi derrubado pela defesa antiaérea síria, embora seus dois tripulantes tenham escapado. Israel realizou mais de uma centena de incursões em território sírio desde o início da guerra, principalmente contra depósitos e comboios de armas da guerrilha libanesa Hezbollah.

Israel continua tecnicamente em estado de guerra com a Síria desde que em 1949 selou um armistício com os países árabes que tentaram impedir pela força a criação do Estado judeu. A situação de conflito sem hostilidades se manteve depois das guerras de 1967 (Seis Dias) e 1973 (Yom Kippur), em que Damasco tentou, sem sucesso, recuperar as Colinas de Golã, que foram posteriormente anexadas por Israel sem a aprovação internacional.

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