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Trump ameaça fazer Assad “pagar um alto preço” por suposto ataque químico

Capacetes Brancos mostram imagens de vítimas com sintomas de asfixia no último bastião rebelde próximo a Damasco

Juan Carlos Sanz
Crianças afetadas após um ataque com gás em Duma.
Crianças afetadas após um ataque com gás em Duma.AP
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Os tambores de guerra tocam novamente na Casa Branca. O suposto ataque químico perpetrado no sábado na cidade síria de Duma, com dezenas de civis mortos, desencadeou uma resposta trovejante do presidente Donald Trump. Depois de tomar vantagem para responsabilizar a Rússia e o Irã, ele considerou o "animal [Bashar] Al-Assad" culpado e o ameaçou com represálias. "Ele vai pagar um preço alto", tuitou.

O governo de Damasco rejeita as crescentes acusações dos rebeldes entrincheirados em Duma, a única cidade na periferia da capital que eles controlam. A ameaça de Trump é suportada pela história recente. Um ano atrás, os Estados Unidos lançaram um golpe devastador contra o regime após um ataque de gás tóxico contra a população civil. Um ataque de 59 mísseis Tomahawk atingiu a base aérea de Shayrat (Homs, norte da Síria) em retaliação a uma bomba química que matou 86 pessoas na cidade de Jan Sheijun. A intervenção dos EUA marcou uma divisão. Até então, Trump havia rejeitado qualquer ataque a Assad e até criticou Barack Obama em 2014 por pesar essa possibilidade.

Essa doutrina, muito consistente com o isolacionismo do republicano, foi quebrada pelo bombardeio químico. As imagens de crianças mortas abalaram o planeta e impactaram o próprio presidente. Sua resposta foram as bombas. A base da qual os aviões sírios partiram foi severamente danificada e seis soldados do regime morreram. A mensagem de Trump na forma de uma chuva de mísseis de cruzeiro foi esclarecida há um ano. Assad não era um mal menor, mas um ditador e um assassino. E os Estados Unidos estavam dispostos a dobrá-lo se ele usasse armas químicas.

Neste sábado, as equipes de resgate Capacetes Brancos, socorristas voluntários que operam nas áreas rebeldes da Síria, denunciaram que um ataque do regime com armas químicas no último bastião insurgente de Guta Oriental, próximo a Damasco, causou dezenas de mortos. Os Capacetes Brancos divulgaram imagens nas redes sociais que mostram pessoas com supostos sintomas de intoxicação por inalação de gases, assim como vários cadáveres amontoados na noite de sábado para domingo. O Governo sírio considera as acusações uma montagem pela qual responsabilizou os insurgentes islâmicos entrincheirados em Duma, a principal cidade do enclave que ainda não foi reconquistada pelo Exército.

Não há nenhuma confirmação independente do ataque com armamento proibido. A Organização para a Proibição das Armas Químicas, ligada à ONU, está investigando a denúncia, de acordo com a BBC. “Essas informações, se confirmadas, são pavorosas e exigem uma resposta imediata por parte da comunidade internacional”, afirmou a porta-voz do Departamento de Estado dos Estados Unidos, Heather Nauert, que pediu a Moscou que acabe “imediatamente” com seu “apoio incondicional” ao regime do presidente Bashar al-Assad. “A Rússia não cumpriu seus compromissos com a ONU e traiu a Convenção sobre Armas Químicas”, alertou a porta-voz diplomática norte-americana.

A agência oficial de notícias síria, SANA, negou qualquer responsabilidade das forças sírias nos fatos e afirmou que “as denúncias do uso das substâncias químicas em Duma são uma clara tentativa de impedir o avanço do Exército”. As milícias do grupo rebelde “Jaish al Islam (Exército do Islã) estão prestes a ser derrotadas”, disse a mesma fonte.

Os Capacetes Brancos e outros grupos ligados à oposição ao regime elevaram a 80 o número de mortos no suposto ataque químico em Guta Oriental, e a mil os afetados pelos gases tóxicos, que apresentavam quadros de convulsões e vômitos. Afirmam que no final da noite de sábado um helicóptero do regime lançou um barril-bomba que continha gás sarin, que age no sistema nervoso e pode ser letal, e gás de cloro, altamente tóxico.

A Organização para a Proibição das Armas Químicas constatou em agosto de 2013 a existência de um ataque com foguetes que continham gás sarin que causou centenas de mortos e deixou milhares de afetados exatamente em Duma. A ONU, entretanto, não pôde atribuir a responsabilidade do ataque a nenhuma das partes em confronto na guerra civil na Síria. Após um acordo entre os Estados Unidos e a Rússia, a comunidade internacional forçou o regime de Al Assad a entregar seu arsenal químico à ONU para que fosse destruído. Fontes da inteligência militar israelense afirmam que Damasco conservou até 2% de suas armas químicas.

Em abril do ano passado, mais de 80 pessoas morreram em um suposto ataque com gás sarin em Khan Shaykhun, uma cidade do norte da Síria em poder dos rebeldes. Os Estados Unidos responderam com um bombardeio com mísseis de cruzeiro contra o aeroporto do regime de onde decolou o avião que lançou o ataque químico.

O regime sírio realizou durante o final de semana intensos bombardeios aéreos contra Duma, o último bastião rebelde nas proximidades de Damasco. Trinta civis, entre eles oito crianças, morreram durante o sábado nos ataques aéreos, de acordo com um balanço do Observatório Sírio dos Direitos Humanos. No dia anterior os bombardeios mataram 40 pessoas.

O regime de Al-Assad lançou uma ofensiva em 18 de fevereiro para reconquistar o reduto insurgente na periferia da capital. Após vários acordos à evacuação de rebeldes armados e civis, recuperou o controle sobre 95% do território de Guta Oriental. Em Duma ainda resistem aproximadamente 10.000 combatentes do grupo Jaish al Islam.

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