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A cronologia da investigação que levou Lula à prisão

Do início da Operação Lava Jato à decisão do Supremo que rejeitou o último recurso do ex-presidente

Bonecos infláveis alusivos ao juiz Sérgio Moro e ao ex-presidente Lula em frente à sede da Polícia Federal em Curitiba.
Bonecos infláveis alusivos ao juiz Sérgio Moro e ao ex-presidente Lula em frente à sede da Polícia Federal em Curitiba.Leo Correa (AP)

A novela que terminou na prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na noite deste sábado, dia 7 de abril, é longa e cheia de reveses. Começou há quatro anos, com o início da operação Lava Jato, e nada garante que já chegou ao fim. Passa pela prisão de grandes figurões da política e do empresariado brasileiro, batalhas judiciais, performances midiáticas e até pela morte de um ministro do Supremo Tribunal Federal. O EL PAÍS destacou os principais acontecimentos desse enredo que, por ora, afasta das urnas um dos principais atores da política nacional nas últimas décadas. 

2014

Março: Começa o caso Petrobras

Em uma operação praticamente rotineira sobre crimes financeiros, a polícia detém várias pessoas, entre elas um homem chamado Alberto Yousseff. Uma vez na prisão, esse homem com antecedentes criminais, mas também contatos importantes entre a elite, diz que poderia derrubar a República com as informações que tinha. Em pouco tempo, prendiam Paulo Roberto Costa, diretor de Abastecimento da Petrobras entre 2004 e 2012. A operação, chamada de Lava Jato, torna-se algo mais complicado que revela um gigantesco esquema de corrupção na petroleira estatal. No exterior, a operação ficou conhecida como 'Caso Petrobras'.

2015

5 de fevereiro: O tesoureiro do PT é interrogado

Agentes policiais e promotores interrogaram de surpresa João Vaccari Neto, tesoureiro nacional do Partido dos Trabalhadores (PT), conduzido de forma coercitiva à delegacia. Os policiais federais tiveram que pular o muro para entrar em sua casa em São Paulo, porque foram proibidos de entrar. Vaccari estava no cargo político mais alto entre os interrogados até então.

6 de março: Investigação de senadores e deputados

O Supremo Tribunal Federal (STF) autoriza a investigação de 12 senadores e 22 deputados por corrupção na Petrobras.

Marcelo Oderbrecht, em 2015.
Marcelo Oderbrecht, em 2015.REUTERS

19 de junho: Marcelo Odebrecht é preso

O empresário Marcelo Odebrecht, presidente da todo-poderosa construtora que leva seu sobrenome, é preso. Depois, seria condenado a 19 anos e quatro meses de prisão. Tenta diminui a pena em troca de revelar todos os subornos que fez a políticos brasileiros, de todas as vertentes, durante décadas.

3 de agosto: Preso um ex-ministro de Lula

José Dirceu, ex-chefe de Gabinete de Lula, e um dos nome mais importantes do PT, é preso. No ano seguinte seria condenado a duas penas de prisão, de 20 anos e 10 meses, e de 11 anos.

25 de novembro: Envolvimento de Lula e Dilma

O senador do PT Delcídio Amaral é preso por obstruir a investigação sobre o esquema de corrupção na Petrobras. Amaral decide confessar e implica na trama a então presidenta Dilma Rousseff e Lula.

2016

5 de fevereiro: Polícia investiga Lula por tráfico de influência

Um documento entregue à Justiça pela Polícia Federal informava que o ex-presidente estava sendo investigado na operação de “venda” de medidas provisórias – projetos de lei com caráter de urgência, aos quais o Parlamento deve dar prioridade – que beneficiaram fabricantes de automóveis.

26 de fevereiro: Lula apresenta sua defesa por escrito

O ex-presidente Lula apresentou sua defesa por escrito ao Ministério Público de São Paulo que o investigava por suspeita de envolvimento no esquema de corrupção da Lava Jato.

4 de março: Lula é acusado de enriquecer ilicitamente

Lula recebeu nesse dia o que seria, até então, o golpe mais duro de sua carreira. Às seis da manhã de sexta-feira, a polícia chegou à casa do ex-presidente em São Bernardo do Campo, no ABC paulista, revistou a residência e levou Lula para depor por suspeita de corrupção. Não saiu nada digno de nota daquela confissão.

9 de março: Ministério Público denuncia Lula

O Ministério Público de São Paulo denunciou o ex-presidente por lavagem de dinheiro e ocultação de patrimônio. O MP-SP acusava Lula e sua esposa, Marisa Letícia, de ocultar a propriedade de um apartamento de luxo no Guarujá, litoral paulista.

Lula acena a militantes na sede do PT
Lula acena a militantes na sede do PTAFP

16-18 de março: De ministro a ex-ministro em um dia

Lula durou apenas um dia como ministro de Dilma. Em 16 de março, a então presidenta nomeou-o ministro, um cargo que lhe oferecia proteção contra uma investigação de lavagem de dinheiro. Lula tomou posse no dia 17 e, apenas um dia depois, o magistrado do STF Gilmar Mendes suspendeu a nomeação. Com isso, automaticamente, tirou-lhe a imunidade de que desfrutam os ministros, e devolveu o processo sobre o ex-presidente ao juiz Sérgio Moro, responsável pela operação Lava Jato em Curitiba.

22 de março: Um sistema de corrupção “profissional” na Odebrecht

Os investigadores descobriram um sistema “profissional” de corrupção baseado no pagamento de subornos da construtora Odebrecht. As suspeitas eram de que altos executivos do grupo operavam um esquema de contabilidade paralela chamado “setor de operações estruturadas” destinado a pagar propinas e que possuía até um sistema eletrônico próprio. Oito executivos foram presos. Havia um departamento inteiro da empresa dedicado a administrar as propinas.

12 de maio: Temer, novo presidente do país

Dilma sofre impeachment acusada de adulterar as contas públicas, um processo que não tem nada a ver com a Lava Jato: muitos suspeitam, porém, que o impeachment foi feito apenas para pôr no poder alguém que, diferentemente de Dilma, estivesse disposto a frear as investigações. Michel Temer, vice-presidente, assume a presidência interina.

Michel Temer, no dia de sua posse
Michel Temer, no dia de sua posse

29 de julho: Lula, indiciado por tentar subornar um acusado da Petrobras

Um juiz de Brasília indiciou Lula, junto a outras cinco pessoas, pelo crime de obstrução de Justiça e o acusou de fazer parte de um esquema que tentou comprar o silêncio de um dos acusados que, segundo o Ministério Público, iria denunciá-los. O promotor pediu uma pena de prisão de três a cinco anos para o petista.

31 de agosto: Impeachment de Dilma

Dilma foi destituída definitivamente pelo Senado, encerrando o processo de impeachment, que pôs fim ao mandato da primeira presidenta do Brasil e a 13 anos do PT no poder. Temer foi empossado como presidente.

20 de setembro: Moro aceita denúncia contra Lula 

O juiz Sérgio Moro considerou que a denúncia apresentada pelo Ministério Público possuía “indícios suficientes de autoria e materialidade” e admitiu o trâmite. O Ministério Público havia denunciado Lula por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Acusava-o de ter recebido 3,7 milhões de reais em propinas da construtora OAS que teriam sido usados na reforma de um apartamento.

26 de setembro: Palocci é preso

A polícia prende o ex-ministro da Fazenda de Lula e ex-chefe de Governo de Dilma Antonio Palocci

13 de outubro: O juiz aceita a terceira acusação contra Lula

A Justiça acata outra denúncia contra Lula. Os promotores solicitaram que o petista fosse condenado por formação de quadrilha e lavagem de dinheiro (crime esse que, segundo os investigadores, cometeu 44 vezes). O caso está relacionado com as obras realizadas pela Odebrecht em Angola com a ajuda de empréstimos do BNDES.

10 de dezembro: Quarta acusação do Ministério Público

Lula é acusado de tráfico de influência na compra de 36 caças. O Ministério Público acredita que o ex-presidente pressionou para que o Governo declarasse a empresa sueca Saab vencedora em uma licitação para a aquisição das aeronaves.

19 de dezembro: Quinta denúncia contra Lula

O juiz aceita a quinta denúncia do Ministério Público contra o ex-presidente no marco da Operação Lava Jato, por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Segundo o promotor, ele recebeu propinas através do ex-ministro Antonio Palocci, hoje na prisão.

2017

19 de janeiro: Teori Zavascki morre em acidente aéreo

O ministro Teori Zavascki, relator da Lava Jato no STF, morre na queda do avião em que viajava no Rio de Janeiro

17 de abril: Revelações da Odebrecht afetam o mito Lula

A temida confissão dos executivos da Odebrecht se torna pública. Setenta e oito das pessoas mais poderosas do setor privado do pais contam às autoridades como compravam favores, contratos e leis de toda a classe política brasileira, durante anos. Ninguém se salvou, nem da direita nem da esquerda, nem da oposição nem do Governo. Mas atingiu sobretudo Lula, ou melhor, o mito de Lula; a fábula de um incorruptível engraxate, amigo dos pobres e não do dinheiro, que acabou presidindo o país entre 2002 e 2010 e tirando 30 milhões de pessoas da pobreza.

28 de abril: Lula devolve presentes

Um juiz ordena que Lula devolva 26 presentes, entre eles uma escultura de Miró, que recebeu como chefe de Estado e que, em sua opinião, pertenceriam ao acervo oficial da Presidência da República

10 de maio: Lula depõe perante o juiz Moro

O ex-presidente negou as acusações de corrupção que o colocariam dentro da Lava Jato em uma audiência de cinco horas com o juiz Sérgio Moro em Curitiba. Depois do encontro, o ex-presidente se dirigiu à praça onde cerca de cinco mil simpatizantes – segundo dados da polícia – se manifestavam em seu apoio. Em cima do palco, de microfone na mão, Lula declarou, referindo-se a si mesmo: “Se a elite não tem competência de consertar este país, um metalúrgico com quarto ano primário vai consertar.”

22 de maio: Nova denúncia do Ministério Público

Lula é novamente denunciado no marco da Operação Lava Jato. Desta vez, os promotores o acusam de corrupção e lavagem de dinheiro junto com outras 12 pessoas, por supostos benefícios ilegais na reforma, paga por duas construtoras, de um sítio em Atibaia, no interior de São Paulo

12 de julho: Lula condenado a nove anos da prisão

O juiz Sérgio Moro condena Lula a nove anos da prisão ao considerá-lo culpado de aceitar e reformar um triplex avaliado em 3,7 milhões de reais no litoral de São Paulo, pago pela construtora OAS em troca de contratos públicos. Cabia recurso na segunda instância.

13 de julho: Lula não desiste da candidatura nas eleições de 2018

O ex-presidente desafia o juiz: “Esta sentença não me deixa fora do jogo”. O ícone da esquerda brasileira não renuncia a sua candidatura nas eleições de 2018. A condenação de Lula por corrupção – contra a qual cabe recurso – complicou ainda mais o já complexo panorama político brasileiro, mas o ex-dirigente insiste que esse é apenas um obstáculo no caminho.

19 julho: Justiça brasileira bloqueia quatro contas bancárias de Lula

O Banco Central bloqueia 606.727 reais de quatro contas bancárias pertencentes ao ex-mandatário. A decisão, que impede Lula de fazer uso desses recursos, foi tomada pelo juiz federal Sergio Moro. O magistrado também pediu o bloqueio de outros bens do ex-presidente: dois carros, três apartamentos em São Bernardo do Campo e um terreno.

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12 setembro: Segunda denúncia do promotor contra Lula em menos de uma semana

O Ministério Público apresenta uma nova denúncia contra Lula, a segunda em menos de uma semana, acusado de favorecer empresas privadas em troca de recursos para o Partido dos Trabalhadores.

13 de setembro: Lula volta a depor perante Moro e diz ser vítima de uma “caça às bruxas”

Pela segunda vez em quatro meses, o ex-presidente do Brasil voltou a ficar frente a frente com Sérgio Moro. Lula depôs durante duas horas. Nessa nova audiência, o ex-presidente enfrentava acusações similares, suspeitas de doação de terrenos para o Instituto Lula e de outro imóvel por parte da construtora Odebrecht. Lula negou tudo e voltou a se mostrar desafiante perante o juiz. Acusou-o de promover uma “caça às bruxas” contra ele.

20 de dezembro: Lula dispara nas pesquisas enquanto avança o processo que pode torná-lo inelegível

A popularidade do ex-presidente cresceu 16 pontos percentuais desde junho até situar-se em 45%, mais que o dobro de seus potenciais adversários, o ultradireitista Jair Bolsonaro e o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, de centro. “Eu tenho a tranquilidade de que vou ser absolvido porque para um cidadão ser condenado ele tem que ter cometido um crime. E não tem [crime]. Eu duvido que nesse país tenha alguém com a consciência mais tranquila do que a minha. A minha condenação será a negação da Justiça”, declarou o ex-presidente.

2018

24 de janeiro: Segunda instância julga Lula e aumenta sua pena

Três juízes da segunda instância revisam a condenação de nove anos de prisão contra Lula. Para muitos, o julgamento tem nuances políticas e busca julgar a honestidade e a personalidade de quem foi referência da esquerda de toda a América Latina. Os magistrados ratificaram por unanimidade sua condenação por crime de corrupção e lavagem de dinheiro, e aumentaram a pena de 9 para 12 anos da prisão. A expectativa em todo o país foi evidente e a sessão do tribunal, de mais de seis horas, foi transmitida pela televisão e internet.

3 de fevereiro: Juiz devolve o passaporte do ex-mandatário

Depois de duas semanas de reveses judiciais, o ex-presidente conseguiu celebrar uma pequena vitória. Um magistrado lhe devolveu o passaporte que havia sido retido. Uma decisão que não lhe permitiu comparecer a um evento da ONU na Etiópia. Depois disso, a defesa de Lula apresentou um 'habeas corpus' para tentar evitar a prisão.

Lula no último dia 1º de março
Lula no último dia 1º de marçoAFP

7 de março: Justiça rejeita primeiro recurso apresentado por Lula

O STJ, a penúltima instância judicial do país, rejeitou o pedido de habeas corpus apresentado pela defesa do ex-mandatário. Com esse movimento, Lula pretendia frear a execução imediata da sentença que o condenou a 12 anos de prisão. A decisão foi tomada por unanimidade.

27 de março: Luz verde para o ingresso na prisão

O mesmo tribunal que ratificou sua condenação dois meses antes ordenou que o magistrado Sérgio Moro levasse a cabo o ingresso de Lula na prisão. Moro, responsável por julgar o ex-mandatário, foi quem proferiu a primeira condenação. O prazo para acatar a ordem do tribunal era de 12 dias, uma vez esgotados os prazos para recorrer (de dez dias) e de responder aos recursos (48 horas).

28 de março: Tensão política provoca uma escalada de violência nas ruas

A figura de Lula, com tudo o que acontece em torno dele, provocou uma convulsão social no Brasil em um ambiente político polarizado. Um dos incidentes ocorreu quando três disparos alcançaram dois ônibus de uma caravana eleitoral do ex-presidente, sem fazer vítimas. Lula deu por encerrada a excursão eleitoral 24 horas depois do acontecido. “Nossa caravana está sendo perseguida por grupos fascistas. Já jogaram ovos, pedras. Hoje, até atiraram contra um ônibus”, indicou o próprio Lula.

Manifestantes protestam contra a chegada do ex-presidente do Brasil, Luiz Inacio Lula da Silva, no estado de Paraná o passado 26 de março.
Manifestantes protestam contra a chegada do ex-presidente do Brasil, Luiz Inacio Lula da Silva, no estado de Paraná o passado 26 de março.AFP

4 de abril: Militares lançam ofensiva nas redes sociais

A cúpula do Exército entrou totalmente na campanha de pressões ao sistema judiciário do país com mensagens de advertência sobre a decisão do Supremo quanto ao 'habeas corpus' do ex-presidente. O chefe das Forças Armadas chegou a escrever no Twitter: “o Exército Brasileiro julga compartilhar o anseio de todos os cidadãos de bem de repúdio à impunidade e de respeito à Constituição”. Outros generais, em tom mais exaltado, publicaram mensagens como “Comandante! Estamos juntos na mesma trincheira” ou “aguardo suas ordens”.

5 de abril: STF rejeita o último recurso de Lula

Por uma estreita margem de seis votos a cinco, os magistrados do STF rejeitaram o último recurso de Lula.

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