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Equador deixa Assange incomunicável por interferir na política internacional

Fundador do Wikileaks deu entrevista aclamando a liderança de Putin na Rússia. Ele ainda respondeu nas redes ao qualificativo de “triste verme”

Assange na sacada da Embaixada equatoriana em Londres, em maio do ano passado.
Assange na sacada da Embaixada equatoriana em Londres, em maio do ano passado.Frank Augstein (AP)
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Nem Internet, nem telefone, nem qualquer outro tipo de comunicação com o exterior. O Governo equatoriano voltou a cortar na terça-feira todos os sistemas que permitiam a Julian Assange fazer comentários e acessar informações internacionais, para evitar que ele interfira nos assuntos de outros países. A decisão se deve aos últimos pronunciamentos do fundador do Wikileaks sobre a Rússia — ele elogiou o comando de Vladimir Putin recentemente em entrevista —, o Reino Unido e o vazamento de dados da Cambridge Analytica.

Segundo um comunicado oficial do Equador nesta quarta-feira, Assange descumpriu “o compromisso escrito que assumiu com o Governo no final de 2017, pelo qual se obrigava a não emitir mensagens que representassem uma ingerência em relação a outros Estados”. Por isso, teve a Internet cortada e ainda pode ser submetido a outras medidas dentro da embaixada do Equador em Londres, onde se refugiou em 2012 para fugir da Justiça local.

Desde que tomou posse, em maio de 2017, o novo presidente do Equador, Lenín Moreno, abandonou a indulgência de seu antecessor Rafael Correa e advertiu ao hacker que não aceitaria que ele colocasse em risco as relações diplomáticas de Quito com outros Governos. Moreno propôs inclusive estabelecer uma mediação com o Reino Unido para acelerar sua saída do edifício diplomático.

No final do ano passado, depois que Assange disparou meia centena de mensagens nas redes sociais sobre a crise separatista catalã, Moreno lhe exigiu que se comprometesse por escrito a se manter afastado da política internacional a partir de então. Em troca, o presidente lhe garantiu proteção do Estado e a manutenção do status de refugiado. Esses benefícios foram preservados até agora, apesar de Assange não ter deixado de publicar mensagens e reproduzir informações sobre outros países na sua conta do Twitter, culminando com o corte na sua conexão nesta quarta-feira.

Nas suas últimas postagens, o fundador do Wikileaks respondeu ao secretário de Estado de Relações Exteriores do Reino Unido, Alan Duncan. Na segunda-feira, Duncan descreveu o hacker como “um triste e pequeno verme” e lhe sugeriu que deixe a Embaixada do Equador em Londres e se entregue às autoridades britânicas. Assange se pronunciou um dia depois, afirmando ser “um preso político” detido “sem acusações” e ao arrepio do marco normativo das Nações Unidas.

Numa entrevista ao jornal italiano La Repubblica, publicada nesta quarta, Assange insiste em que ele quer prestar depoimento à CPI britânica que investiga o caso da Cambridge Analytica, mas que houve pressões políticas sobre esse organismo. A consultoria Cambridge Analytica é acusada de obter irregularmente dados de usuários do Facebook e de usá-los para ajudar as campanhas pela eleição de Donald Trump nos EUA e pela saída do Reino Unido da União Europeia.

“Meu nome e o do Wikileaks foram mencionados por pessoas que apareceram ali, como Alexander Nix, 26 vezes”, acrescenta Assange na entrevista. “Acho apropriado, por exemplo, que eu responda da mesma maneira à difamação do diretor-adjunto do EL PAÍS, David Alandete, que se apresentou perante essa comissão de inquérito para difamar a mim pessoalmente e ao movimento independentista catalão, num momento de intenso conflito político interno na Espanha, que agora produziu numerosos presos políticos e refugiados.”

Alandete depôs em dezembro à CPI britânica para prestar informações sobre a ingerência russa na crise independentista catalã. Assange, que até então nunca havia mencionado a Catalunha no Twitter, falou sobre o assunto 48 vezes em setembro, em plena crise pelo referendo separatista ilegal de 1º. de outubro nessa região espanhola. Nessa rede social, Assange dizia que “Hitler também usou uma minoria étnica para conquistar maiorias” e que “a Catalunha será independente ou haverá outra guerra civil”.

Mensagens desse tipo, segundo o Governo equatoriano, “colocam em risco as boas relações que o país mantém com o Reino Unido, com o resto dos Estados da União Europeia e com outras nações”. Por isso, tomou a decisão de cortar qualquer tipo de comunicação de Assange com o exterior enquanto ele permanecer na Embaixada em Londres, “a fim de evitar potenciais prejuízos”.

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