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Brasil terá 30 dias para negociar aço com Trump e setor prevê dura queda de braço

EUA também confirmaram suspensão temporária de novas tarifas para Coreia do Sul, Argentina, Austrália e a União Europeia

Robert Lighthizer em seu depoimento ante o Senado de EUA
Robert Lighthizer em seu depoimento ante o Senado de EUAKEVIN LAMARQUE (REUTERS)
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O Brasil vai ter um pouco mais de um mês para tentar convencer os Estados Unidos de excluírem o país definitivamente da cobrança da sobretaxa de importação sobre o aço e o alumínio vendidos aos norte-americanos. Nesta quinta-feira, o representante de Comércio Internacional dos EUA, Robert Lighthizer, confirmou que Brasil, Coreia do Sul, Argentina, Austrália e a União Europeia estarão isentos temporariamente das tarifas de importação enquanto Washington negocia com cada um possibilidade de exclusões definitivas. A ideia é encerrar a negociação, segundo indicou o representante, até o final de abril. O Governo de Donald Trump anunciou a pausa um dia antes da medida protecionista entrar em vigor. Na véspera, o presidente Michel Temer já tinha dito, em referência a uma mensagem da Casa Branca, que o Brasil estaria temporariamente na lista dos países isentos da tarifa de importação.

O Instituto Aço Brasil, que representa a indústria do aço, avalia que o anúncio da suspensão temporária é uma "notícia boa", no entanto, não deve ser analisada como uma vitória, uma vez que ainda não se trata de uma exclusão definitiva. Marco Polo de Mello Lopes, presidente do instituto, afirmou a jornalistas que um telefonema do presidente Michel Temer para Trump é "imprescindível" para que a suspensão temporária se transforme em uma ação definitiva, já que no momento há apenas uma "janela de 30 dias". "Os EUA não montaram esse processo todo para dar um carimbo de aprovado para todos os países. Vamos ter um endurecimento nas negociações, eles vão querer algo em troca", explica Lopes. Ainda segundo ele, o presidente americano é o único que pode eliminar definitivamente as tarifas. "A única pessoa com canal direto com ele é o presidente Temer", explica.

Mesmo que o Brasil consiga ser excluído das novas taxas, o fechamento americano a outros exportadores importantes pode causar o redirecionamento de fluxo do aço excedente, o que pode afetar o mercado brasileiro. "Tratamos desse assunto com Temer, que assegurou que que o Brasil vai monitorar a importação de aço para ver se há uma variação significativamente", disse Lopes.

O imposto que entra em vigor nesta sexta-feira significa uma penalização de 25% aos produtos de aço que entrem pela fronteira norte-americana e de 10% ao alumínio que chega do exterior. O anúncio desta quinta implica que quatro dos grandes países exportadores de aço aos EUA e sete de alumínio fiquem à margem da medida enquanto os detalhes são acertados, produto por produto.

Lighthizer admitiu que essa suspensão temporária pretende evitar uma disrupção repentina na cadeia de fornecimento enquanto tentam encontrar uma solução permanente. Trump anunciou o imposto em 8 de março sob o argumento de segurança nacional. Nesse momento foi estabelecido um período de indulto de duas semanas nas quais os países exportadores dos dois metais poderiam solicitar isenções. O presidente é quem decide quem fica de fora.

Desde que a possibilidade do aumento da tarifa entrou na pauta americana, o Governo brasileiro e o setor siderúrgico têm argumentado com os americanos que o Brasil é bastante diferente dos outros países. A peculiaridade é que 80% das exportações de aço brasileiro são de produtos semiacabados, que ainda precisam ser reprocessados antes de chegar no consumidor final. Os EUA hoje são os maiores consumidores do aço produzido no Brasil, com importação anual de 2,6 bilhões de dólares.

União Europeia

Nesta semana, a comissária europeia de Comércio, Cecilia Malmström, se reuniu com o norte-americano Wilbur Ross para aproximar as posições. Acertaram a “identificação” dos pontos em que podem chegar a uma solução aceitável “o quanto antes”. O presidente Donald Trump também tratou da questão com seu homólogo francês Emmanuel Macron em uma conversa por telefone, informou a Casa Branca.

A UE ameaçou responder com medidas de represália. O senador republicano Orrin Hatch não escondeu no debate sua preocupação pelo dano que o imposto pode causar à economia. “É um passo na direção errada”, disse, ao mesmo tempo em que indicou que é um problema causado pelas ações da China. O democrata Ron Wyden disse por sua vez que a falta da estratégia está causando “caos”. O imposto será ativado para a Rússia, China, Japão, Turquia e Taiwan.

Lighthizer deixou claro que os EUA não querem guerras comerciais. “Ninguém as vence”, comentou em uma clara contradição com Trump. Mas reiterou que o déficit comercial com a União Europeia é “um grande problema”. “Depois da China, é literalmente o maior”, afirmou na conversa com os congressistas, a quem explicou que a prioridade de Trump é tentar diminuí-lo e por isso está disposto a adotar as medidas necessárias para defender seus direitos.

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