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Morre Sudan, o último macho de rinoceronte branco do norte que restava no mundo

Continuam vivas apenas duas fêmeas dessa subespécie, e a única esperança contra a sua extinção passa pela reprodução assistida

Fotografia de arquivo do último macho de rinoceronte branco do norte que restava junto ao povo massai, em junho do ano passado
Fotografia de arquivo do último macho de rinoceronte branco do norte que restava junto ao povo massai, em junho do ano passadoTONY KARUMBA (AFP)

Morreu Sudan, o último macho de rinoceronte branco do norte que ainda havia no mundo. A subespécie desse mamífero originária da África central está com os dias contados. Restam agora apenas duas fêmeas: Najin, filha de Sudan, e Fatu, sua neta. As duas vivem na reserva natural de Ol Pejeta, no Quênia, onde estava desde 2009 aquele que passará à história como o último macho de rinoceronte branco do norte autêntico que pisou na Terra. Seu sêmen foi preservado para uma tentativa de inseminação que permitiria que a espécie não seja extinta. Mas é muito difícil que dê certo.

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O estado de saúde de Sudan, de 45 anos, havia se agravado nos últimos meses. O animal não tinha conseguido se recuperar totalmente da infecção que sofria em sua pata traseira direita. “Sua doença piorou significativamente nas últimas 24 horas; era incapaz de ficar de pé e estava passando muito mal”, informou nota da reserva Ol Pejeta divulgada nesta terça-feira. A equipe desse recinto natural, junto com um veterinário do zoológico tcheco Dvůr Králové e o Serviço Queniano da Vida Selvagem (KWS), decidiram submetê-lo à eutanásia nesta segunda.

“Sudan será recordado por sua vida memorável e incomum”, disse a reserva, relatando que nos anos setenta ele conseguiu sobreviver à extinção de sua espécie e foi transferido ao zoo de Dvůr Králové, na República Tcheca. Já no final da sua vida, foi devolvido à África, mais especificamente à reserva natural situada em Laikipia, no centro-oeste do Quênia, onde morreu.

Sudan alcançou grande popularidade depois de uma campanha lançada pelo Ol Pejeta na rede social de relacionamentos amorosos Tinder, com o objetivo de angariar nove milhões de dólares (cerca de 30 milhões de reais), o valor necessário para desenvolver técnicas de fertilização assistida adequadas a esses animais.

“Sou único. Sou o último rinoceronte branco macho no planeta Terra. Não quero parecer um aproveitador, mas o destino da minha espécie literalmente depende de mim. Ajo sob pressão. Meço 1,82 metros e peso 2.267 quilos, caso isso interesse”, descrevia o bicho no seu perfil.

Durante anos, a caça furtiva desses animais contribuiu para a sua iminente extinção, já que seus chifres alcançam uma cotação superior à do ouro nos mercados asiáticos, devido a supostas propriedades curativas e afrodisíacas.

Em dezembro de 2017, um comitê com profissionais do Quênia, República Tcheca, Reino Unido e África do Sul, composto por veterinários, ecologistas e especialistas em fauna selvagem, se reuniu para tentar salvar a vida do último espécime vivo de um macho de rinoceronte branco do norte. Sudan era muito velho para acasalar, por isso a única esperança para manter a espécie com vida era a fecundação artificial, algo que até hoje nunca foi tentado com rinocerontes.

Uma esperança agora é que as duas fêmeas restantes possam ser inseminadas com sêmen procedente de machos de rinoceronte branco do sul, embora a reserva tenha anunciado em sua conta do Twitter que o material genético de Sudan também foi armazenado com o objetivo de “tentar a reprodução do rinoceronte branco do norte através das tecnologias celulares avançadas”. A espécie da África meridional goza de melhor saúde que a do norte, e seu número se mantém, embora com dificuldades.

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