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“Peço que o ódio não se espalhe”, diz mãe de garoto assassinado pela madrasta na Espanha

Patricia Ramírez afirma que sempre suspeitou de Ana Julia: “temia que fosse assim”

Patricia Ramírez em uma manifestação em Almería em favor de seu filho, Gabriel Cruz.
Patricia Ramírez em uma manifestação em Almería em favor de seu filho, Gabriel Cruz.©GTRESONLINE
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Patricia Ramírez, mãe de Gabriel Cruz, pediu nesta segunda-feira, “em memória de ‘Pescaíto’”, como era conhecido o menino cujo corpo foi localizado neste domingo em Almería, na Espanha, depois de 12 dias de busca, “que o ódio não se espalhe, que não se fale mais dessa mulher e que fiquem as boas pessoas”, em referência à mulher que foi presa como suposta autora do crime, Ana Julia Quezada.

O corpo do menino, de oito anos, foi encontrado enrolado em um cobertor no porta-malas do carro de Quezada, de 43 anos, companheira do pai do garoto e única suspeita do crime. De acordo com fontes da investigação, a suspeita, que se supõe ter agido sozinha, retirou o corpo de um poço por medo de que fosse encontrado. A autópsia realizada no corpo do garoto concluiu, nesta segunda, que Gabriel morreu estrangulado no dia do seu desaparecimento, 27 de fevereiro.

A mãe falou na manhã de segunda-feira ao vivo em uma rádio local, quando agradeceu as demonstrações de carinho e solidariedade e expressou seu desejo de que cessem as mensagens de ódio contra Quezada. Em sua opinião, a namorada de seu ex-parceiro “não merece que lhe seja dada cobertura e não merece que se fale dela”. “Que ninguém fale mais de Ana Julia. Que não apareça em lugar nenhum e que ninguém retuíte mensagens de ódio, pois meu filho não era assim e eu também não sou. Que pague quem tenha de pagar, mas que o que fique desse caso seja a fé e as boas ações que vieram de todos os lados e trouxeram as coisas mais bonitas das pessoas. Não pode ficar tudo no rosto dessa mulher e em palavras de ódio”, disse na entrevista.

“Não quero que tudo termine com o ódio que essa mulher semeou. Gostaria que acabasse nesse mar de gente que se mobilizou: todos por Gabriel”, pediu, enquanto agradeceu o apoio e as mensagens de carinho que recebeu desde que a criança desapareceu: “Embora não tenha havido final feliz, o ‘Pescaíto’ foi nadando para o céu”.

A mãe esclareceu que desde o desaparecimento da criança ela só se mostrou na página do Facebook criada por familiares para ajudar na busca, Todos Somos Gabriel, bem como na conta do Twitter associada à iniciativa, e pediu que aqueles que estão usurpando sua identidade nas redes sociais, difundindo em seu nome imagens de luto, deixem de fazê-lo.

“Àquelas pessoas que usaram minha foto pelo bem de Gabriel e fizeram belas montagens, agradeço de coração, mas neste momento há pessoas no Facebook e no Instagram que estão falando em meu nome, como Patricia Ramírez, e postando fotos para que todo mundo compartilhe”, denunciou.

Ramírez pediu a essas pessoas que “estão usando a morte” do filho “para serem seguidas” nas redes sociais, que “reflitam e fechem essas contas porque não o merecem” seu filho, ela e o pai, “que está destruído”. “Estão me causando dor, porque eu não quero ver essas fotos de perda que postam e, claro, não quero que falem por mim”, acrescentou. A mulher enfatizou que não postou “nem uma única foto para ser compartilhada, nem um único vídeo para ser compartilhado” com imagens de luto e dor e no dia que tiver de fazê-lo, será ela que compartilhará sua própria fotografia.

Ela também agradeceu “a todos que se dedicaram tanto para ajudar fisicamente” na busca “como na investigação ou mandando muitas de mensagens de carinho”. “Não tenho palavras para agradecer a todas as pessoas e todas as belas ações que vieram”, disse Patricia, que pediu para colocar nas janelas, por mais um dia, um “peixinho” com “uma palavra bonita” pela memória de Gabriel.

Patricia também disse ter sempre suspeitado que Ana Julia estava por trás do desaparecimento de seu filho: “Eu temia que fosse assim. Não podia dizer nada, pois fazia parte da investigação”, afirmou. “Tinha esperança que ela se enternecesse e que desmoronasse. Que em algum momento o soltasse. Por isso apelamos à consciência dela em nossas declarações”, disse.

A mãe também explicou que seu ex-marido está sofrendo muito depois de saber que a atual companheira é a principal suspeita. “Ele é uma pessoa maravilhosa, que ninguém duvide dele. Estarei ao lado dele porque temos de superar isso os dois juntos. Ele está destruído, mas é muito difícil digerir a perda de um filho sabendo que quem o matou é a pessoa que ama”, explicou sobre Ángel Cruz.

Os investigadores da Guarda Civil estão aguardando a autópsia de Gabriel, enquanto prossegue o interrogatório de Quezada no Comando da Guarda Civil de Almeria. A grande questão é por que ela fez isso. A suspeita, de origem dominicana, havia acompanhado o pai durante as buscas pela criança e se mostrou emocionada aos meios de comunicação com o que aconteceu. O único rastro encontrado da criança foi a camiseta que supostamente usava e que Quezada disse ter encontrado em uma das batidas na montanha, quatro dias depois do desaparecimento. A descoberta, ao invés de confundir os pesquisadores, colocou o foco diretamente sobre ela. Nos últimos dias, a mulher esteve sob estreita vigilância.

Nesta segunda-feira se soube que a menina de quatro anos que morreu em Burgos era filha de Ana Julia e não outra menina que estava sob seus cuidados. A menor morreu depois de cair de uma janela no pátio interno do prédio em que morava, há 22 anos. A morte da menina foi investigada pela Polícia Nacional e concluiu-se que foi um acidente. Naquela época, Ana Julia tinha 21 anos e morava no bairro de Gamonal com sua outra filha, que tinha dois anos, e com o marido, que havia adotado as crianças, de acordo com fontes da investigação. Depois da prisão da mulher, a Polícia Nacional está reexaminando o caso.

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