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LIONEL MESSI
Coluna
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Quando impediram Deus de entrar na igreja

Como Messi reinventou o modelo de La Masía para fazer história no Barça

Messi celebra seu gol diante do Atlético de Madrid.
Messi celebra seu gol diante do Atlético de Madrid.Alejandro García (EFE)
Manuel Jabois

Uma das coisas que mais gosto sobre Lionel Messi, antes de que o mundo soubesse que era Lionel Messi, é que quando estava fazendo testes no Barcelona, com 13 anos, seu pai tentou arranjar ingressos para ver um jogo entre Barça e Milan e não conseguiu. Fico imaginando Messi tão atordoado como Deus brigando com o porteiro de uma igreja por não poder entrar de sandálias: nem sequer queria celebrar a missa, apenas ouvi-la. Pelo menos o Milan venceu por 2 a 0; o diabo sempre está nos detalhes.

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Lembrei desta história após o nascimento do terceiro filho de Messi, porque eu sou madridista, mas, antes de tudo, também sou pai. E ainda conservo a capacidade de me impressionar pelo passo do tempo, que é a medida mais estúpida e constante da humanidade. Na biografia que Guillem Balagué publicou sobre Messi, intitulada “criptamente” de Messi, o autor relembra as semanas em que o hoje pai de três filhos era uma criança com graves problemas de desenvolvimento, que chegou vomitado a Barcelona após voar pela primeira vez de avião e encontrou um comitê de boas-vindas no vestiário que lhe chamava de anão pelas costas e ria dele porque enfaixava os tornozelos. “Era um frangote, um tampinha, todos pensávamos”, diz Cesc Fàbregas no livro. “Não entrem firme nele porque é muito pequeno”, ordenava o treinador aos jogadores sem que o argentino escutasse.

Messi teve a má sorte de ir ao campo de treinamento com Piqué – media 1,48m e mal alcançava a cintura do zagueiro. No alambrado, incrédulos, os que foram ver àquela avis rara pela qual o Barça fazia algo tão absurdo como pagar uma passagem da Argentina para testá-la por duas semanas levaram as mãos à cabeça. Os risos duraram só uns minutos.

A primeira coisa que La Pulga fez foram embaixadinhas, até lhe pedirem que parasse (semanas antes, em Rosário, ele havia feito 113 embaixadinhas com uma laranja e 140 com uma bolinha de tênis). Depois, quase deu um nó em Fàbregas nos duelos de um contra um (“me entortou uma vez, e outra, e outra...”). E a terceira coisa que fez Leo Messi em La Masía foi, de forma bem direta, se encarregar do modelo de jogo. “Dizíamos aos garotos: um toque, dois toques”, conta seu ex-treinador, Rodo. “Mas eu dizia ao Leo: faça o que fazia lá [na Argentina]. Pega a bola, não passe para ninguém e leve-a até o gol”, recorda seu pai. Fez isso outras tantas vezes que tiveram que aceitá-lo assim, embora atentasse contra a Bíblia das categorias de base barcelonistas. Gosto de pensar que, como não podia conseguir ingressos para o Camp Nou, Messi achou um jeito de entrar à sua maneira.

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