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Flamengo, de mais endividado a mais rico do Brasil

Sob nova direção, clube recuperou finanças com estratégia de explorar receitas da torcida. Equipe ainda depende de verbas da TV e não conta com grandes títulos em campo

Diego e Henrique Dourado, duas das principais contratações do Flamengo nos últimos anos.
Diego e Henrique Dourado, duas das principais contratações do Flamengo nos últimos anos.Carl de Souza (AFP)
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Paolo Guerrero, Diego, Conca, Éverton Ribeiro, Diego Alves e Henrique Dourado. Desde 2015, o Flamengo divide o protagonismo no mercado da bola brasileiro com o Palmeiras e reforça seu time com alguns dos nomes mais desejados do Brasil e do exterior. No caso dos rubro-negros, tais contratações só foram possíveis através de uma gestão que prioriza a recuperação financeira do clube, iniciada com a eleição de Eduardo Bandeira de Mello, presidente do Flamengo desde 2013. Em 2012, último ano de administração da presidente Patrícia Amorim, o clube tinha um déficit financeiro na casa dos 20 milhões de reais e, segundo o atual mandatário, sofria com falta de credibilidade. Ele herdou uma dívida de quase 800 milhões de reais – naquela época, a maior entre os clubes brasileiros. “Foi melhorando ano a ano”, conta o dirigente.

Vice-presidente de Finanças do clube carioca, Claudio Pracownik explica, comparando realidades, o impulso financeiro dado pela atual administração. “Em 2012, para cada real que o Flamengo recebia, ele tinha que pagar 3,60 reais de dívida. Hoje, pagamos 0,49 centavos de cada real que entra no clube”. O melhor exemplo vem dos números de receita bruta, que engloba todo o valor arrecadado pelo Flamengo e, quando descontados investimentos, pagamento de dívidas e outras despesas financeiras, resulta no déficit ou no superávit. Em 2013, primeiro ano da atual gestão, o clube acumulou 273 milhões de reais, mas amargou déficit de 20 milhões. Em 2015, a receita bruta já era de 355 milhões, e o lucro foi de 130 milhões. No ano passado, em contas recém-fechadas, Pracownik calcula que a receita tenha chegado aos 650 milhões e, o superávit, aos 145 milhões. “Pensando no futebol brasileiro, não tem comparação. O Flamengo conseguiu algo absolutamente acima da média, inclusive de empresas brasileiras”, diz o vice-presidente.

Para dar esse salto, Claudio Pracownik cita um tripé seguido à risca pelo clube mais popular do país: “Credibilidade, planejamento e criatividade”. Primeiro, segundo o vice-presidente, o foco estava em só prometer o que poderia cumprir. Depois, fazer com que os gastos fossem previsíveis, sabendo quanto e quando deveriam ser pagos. Por fim, a ampliação das receitas alavancada pelo marketing, que foi fundamental para a retomada financeira. “O que nós fizemos do lado da receita foi tentar mobilizar o grande ativo não contabilizado que sempre tivemos: a torcida do Flamengo”, afirma Eduardo Bandeira de Mello. “Neste sentido, o aumento dos valores dos patrocínios e a criação de um programa de sócio-torcedor e licenciamento de produtos foram essenciais para o sucesso”. Do lado das dívidas, o corte de gastos no primeiro mandato de Bandeira de Mello, com uma rígida política de austeridade que fez contratações de craques como Ronaldinho Gaúcho minguarem, e a aprovação da Lei Profut, sancionada em 2015 pela presidenta Dilma Rousseff para renegociar débitos fiscais com times de futebol, foram os principais responsáveis. “Praticamente zeramos as dívidas trabalhistas. A dívida tributária, maior delas, foi escalonada num prazo de 20 anos, de maneira que podemos pagar tranquilamente, graças ao Profut. Só resta ela e o remanescente de dívida bancária”, comenta o presidente. Atualmente, todos os débitos somados batem na casa dos 350 milhões de reais, menos da metade da dívida herdada no começo de gestão.

Bayern brasileiro?

Com as finanças positivas, o Flamengo surge como principal candidato brasileiro a aparecer entre as grandes receitas do futebol mundial. No fim do ano passado, o clube entrou para o top 20 do planeta, mas ainda atrás de equipes como West Ham, Leicester, Southampton e Newcastle. Na ocasião, Rodrigo Capelo, repórter da revista Época, chamou a atenção ao dizer que o objetivo do Flamengo é se tornar o “Bayern brasileiro” – ou seja, um time soberano no cenário nacional. “Eu não acredito e nem acho desejável; a característica do futebol brasileiro é ser competitivo”, diz Bandeira de Mello. “Mas, se um dia isso acontecer, vai ser o Flamengo”.

Apesar da comparação, a realidade rubro-negra, sobretudo nos gramados, em nada se compara à do Bayern, dono de sete títulos alemães nos últimos 10 anos. Desde que a atual gestão está no comando, o Flamengo venceu apenas uma Copa do Brasil (2013) e dois Campeonatos Cariocas (2014 e 2017). Ainda ficaram marcadas duas eliminações na fase de grupos da Libertadores e, com exceção de 2016 (quando foi terceiro colocado), campanhas fora do top 5 do Brasileirão. “A pressão [por resultados] não me preocupa. Compreendo perfeitamente a demanda da torcida”, afirma o mandatário.

Novo estádio

É difícil imaginar que o Flamengo pudesse chegar ao posto de clube mais rico do país sem a popularidade nacional e a maior receita proveniente dos direitos de transmissão – fatura 170 milhões de reais por ano da televisão, sem contar os ganhos com pay-per-view. “[Quando chegamos], a receita de TV era razoável, mas não do patamar que se encontra agora”, ressalta o presidente. Pracownik explica que a menor dependência da televisão só será possível quando o Flamengo tiver um estádio próprio. “Ou a administração do Maracanã”, afirma. “A receita fixa de um estádio é uma meta fundamental do nosso planejamento”. Planejamento, este, que deve ser mantido nos próximos anos, mesmo com Bandeira de Mello impossibilitado pelo estatuto do clube de concorrer pela terceira vez seguida nas eleições. “Acho que vai ser uma transição tranquila. Tenho certeza que o próximo presidente vai seguir a mesma linha de responsabilidade financeira.”

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