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Inabilitado, Berlusconi aponta seu candidato a premiê na reta final da eleição

Antonio Tajani, que é presidente do Parlamento Europeu, evita se pronunciar. Nome foi escolhido para enviar uma mensagem de moderação e centrismo

Daniel Verdú
O líder do Força Itália, Silvio Berlusconi, ao lado do candidato da centro-direita ao Governo da Lombardia, Attilio Fontana.
O líder do Força Itália, Silvio Berlusconi, ao lado do candidato da centro-direita ao Governo da Lombardia, Attilio Fontana.PIERO CRUCIATTI
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Editorial | Incerteza italiana
Editorial | Humilhação socialista

Inelegível por fraude fiscal até 2019, Silvio Berlusconi não pode participar das eleições do próximo domingo. No entanto, à base de ambiguidades e tenacidade, conseguiu parecer que sim. Até o último minuto ele deixou vago o posto de candidato a primeiro-ministro, erigindo-se ele mesmo como figura-chave para a batalha eleitoral. Até nas cédulas, em que seu nome aparece. Mas seu percurso termina e, nesta terça-feira ele acabou com as dúvidas enquanto exercia pressão sobre o escolhido. Antonio Tajani, presidente do Parlamento Europeu, será seu homem se a centro-direita formar Governo.

O ex-cavaliere, três vezes primeiro-ministro da Itália, que reencarnou agora no papel de estadista internacional capaz de conter o impulso do populismo, continua a tecer sua rede para o próximo domingo. Na terça-feira, depois de muitas insinuações, ele mostrou a carta mais esperada, apontando-o, sem chamá-lo pelo nome, como seu candidato a primeiro-ministro. “Me compromete o altíssimo cargo que tem na hora de pronunciar seu nome e só o farei quando me der sua autorização.” Mas disse em seguida: “É o presidente da instituição europeia que os cidadãos elegem diretamente, a mais importante. E todos os parlamentares, sejam de esquerda ou de direita, o consideram o melhor presidente da Assembleia Europeia”.

Não é oficial. Mas a carta Tajani permite que Berlusconi envie uma mensagem de moderação ao seu eleitorado e um aceno aos pesos-pesados da União Europeia, os mesmos que lhe deram o golpe de misericórdia em 9 de novembro de 2011, com um prêmio de risco de 574 pontos e indicadores econômicos de colapso total. Na Itália e em Bruxelas há uma sensação de que uma liderança na sombra do ex-cavaliere seria um mal menor diante de uma possível coalizão entre a Liga e o Movimento 5 Estrelas.

Mas o jogo está muito aberto. Ou o bloqueio parlamentar cada vez mais próximo, dependendo de como forem olhadas as pesquisas. E para que o candidato do Força Itália seja primeiro ministro — seja com a centro-direita ou formando uma grande coalizão com a centro-esquerda — vários elementos devem estar alinhados. Nesse cenário, Berlusconi agirá mais rápido do que ninguém. Mas Tajani, que foi seu porta-voz e o conhece bem, é cauteloso e prefere que seu nome não seja oficializado até que a jogada seja esclarecida. Ele está há apenas um ano à frente do Parlamento Europeu — substituiu Martin Schulz em um movimento parecido — e seu mandato termina em maio de 2019. “Estou honrado e orgulhoso das boas palavras que Berlusconi frequentemente me dedica, pelo apreço ao trabalho que realizo na Europa. Mas nunca participei dessa campanha eleitoral, não sou candidato e nunca disse uma palavra sobre esse assunto”, afirmou sem se descartar.

A opção Tajani também poderia se encaixar em uma hipotética grande coalizão com a centro-esquerda. Se os números forem convenientes — as pesquisas não lhe dão poucas chances — e Berlusconi e Matteo Renzi (Partido Democrático) iniciarem negociações para formar Governo, o presidente do Parlamento Europeu poderia ser uma figura digerível, também pelo presidente da República, Sergio Mattarella. Seu caráter europeísta e a experiência em Bruxelas ajudariam essa convergência em uma Itália obscurecida pela sombra do populismo e pelo desprezo pela política econômica da UE.

O presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, admitiu preocupação na semana passada sobre as possíveis combinações e se prepara para um “Governo não operacional”. Berlusconi fareja esse medo e insiste: Tajani “seria excelente porque a Itália hoje não conta nada na Europa e no mundo. E com ele contaríamos muito mais”. Mas essa virtude é a mesma que desconcerta seus parceiros atuais. Se a centro-direita obtiver por si só os votos necessários para a maioria parlamentar, quem acompanha Berlusconi — a Liga de Salvini e Irmãos da Itália, de Giorgia Meloni — dificilmente engoliria uma figura tão ligada a uma instituição europeia. Há muito nervosismo e ambos já pediram que Berlusconi mostre a carta o quanto antes e lhes permita jogar em igualdade de condições.

Mas Berlusconi, cuja inelegibilidade termina em 2019, ganha em quase todos os cenários. Nesta terça-feira introduziu outra variável. Se as eleições tiverem de ser repetidas, lançou ele, propõe continuar por alguns meses com o Governo de Gentiloni, reformar a lei eleitoral para evitar bloqueios e, de passagem, ganhar tempo para que sua inelegibilidade termine. Nesse caso, diz ele, estará disponível.

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