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Alto funcionário de Macri na mira do escritório anticorrupção na Argentina

Órgão entra com investigação contra servidor que pode ter escondido dinheiro em Andorra. Funcionário nega ter feito algo errado enquanto a oposição pede sua destituição

Carlos E. Cué
O subsecretário-geral da Presidência da Argentina, Valentín Díaz Gilligan.
O subsecretário-geral da Presidência da Argentina, Valentín Díaz Gilligan.EFE

A publicação no EL PAÍS da informação sobre a conta com 1,2 milhão de dólares (4 milhões de reais) que o subsecretário-geral da Presidência da Argentina, Valentín Díaz Gilligan, manteve em Andorra causou um impacto importante na política local e provocou a abertura de uma investigação por parte do Escritório Anticorrupção. A notícia foi o principal assunto da entrevista coletiva do Governo que está atualmente reunido em sua totalidade em Chapadmalal, no litoral argentino. O Executivo apoia Díaz Gilligan, que afirma que não fez nada de errado porque o dinheiro não era seu, mas aumentam as críticas na oposição e nas redes sociais e os que pedem sua destituição.

A equipe do Escritório Anticorrupção dirigida por Laura Alonso, especializada em questões de ética pública nomeada a esse posto por Mauricio Macri, afirmou em um comunicado que “o Escritório Anticorrupção pedirá esclarecimentos ao funcionário, solicitará autorização para realizar a abertura dos anexos reservados das declarações juramentadas do funcionário, solicitará informação à Unidade de Informação Financeira, pedirá que o Governo da Cidade de Buenos Aires informe se, nesse âmbito, o funcionário era obrigado a apresentar declarações juramentadas e enviar cópias das mesmas, e solicitará a informação à Banca Privada d’Andorra (BPA)”. Se Díaz Gilligan assumiu o cargo em 2015, quando Macri chegou ao poder, deveria ter comunicado esse dinheiro na declaração porque foi feita sobre o ano anterior, 2014. A questão fundamental está nos dados que a Unidade de Informação Financeira pode ter sobre esse assunto.

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Díaz Gilligan afirma que esses fundos não eram seus, mas de um amigo, apesar de figurar ao banco como representante da empresa proprietária da conta e acionista. O funcionário, que deu explicações públicas, afirma que não obteve nenhum rendimento e por isso não tinha motivos para declarar esse dinheiro. “Por solicitação dos donos da empresa GolTV, na qual trabalhava à época como assessor, em 2012 assumi como diretor da empresa britânica Line Action LTD, dedicada à intermediação esportiva. Meu vínculo com essa empresa acabou em 2014, por conta de minha nomeação como Diretor de Promoção Turística da Entidade de Turismo da Cidade de Buenos Aires. A informação de que sou acusado de esconder um milhão de dólares é falsa já que não obtive compensação alguma por parte da empresa mencionada. Nem salário, nem honorários, nem dividendos. Nem durante esse período, muito menos posteriormente. Por essa razão não tive rendimentos a declarar na Argentina”, afirmou.

O Governo decidiu apoiá-lo e seu superior direto, Fernando de Andreis, homem essencial na equipe de Macri, afirmou que Díaz Gilligan “não tem uma empresa off shore, foi assessor de várias empresas, e é uma situação anterior a ser funcionário público, de índole privada. Está tudo à disposição da Justiça. Estamos tranquilos com as explicações que ele está fornecendo. É uma sociedade não off shore que tem todos os documentos em ordem”.

A notícia causou muitas reações nas redes sociais, onde Andorra se transformou em um dos assuntos mais comentados. “O Governo de Macri mente! Outro funcionário com contas ocultas. É a imprensa da Espanha que o diz, @mauriciomacri, na capa do jornal El País. Prometeu verdade, mas sempre mente. Manipula juízes e promotores para que não investiguem”, disse o deputado kirchnerista Fernando Espinoza. “O Governo mais corrupto da história volta a ser notícia no mundo pela característica que divide com a maioria de seus funcionárixs, começando pelo próprio presidente e seu entorno íntimo: a manipulação de dinheiro sujo”, finalizou Martín Sabatella, outro conhecido kirchnerista.

As notícias sobre contas no exterior dos funcionários de alto escalão do Governo de Macri foram frequentes nesses dois anos. O próprio presidente, um multimilionário membro de uma das famílias de empresários mais conhecidas e polêmicas do país, apareceu nos Papéis do Panamá por uma sociedade nas Bahamas. A Justiça por fim o absolveu e ele decidiu trazer todo o seu dinheiro à Argentina. Muitos ricos e não tão ricos argentinos têm seu dinheiro fora do país, calcula-se que até 400 bilhões de dólares (1,3 trilhão de reais). Argumentam que o país do corralito (retenção dos depósitos bancários) é inseguro, mas para os ministros é muito mais difícil dizer isso. A metade do dinheiro que os ministros declararam oficialmente, entretanto, está no exterior.

O titular de Economia e o do Banco Central têm quase toda sua fortuna nos Estados Unidos, ou pelo menos tinham até metade do ano passado, a última vez em que falaram do assunto porque causou uma importante polêmica. O ministro das Finanças, Luis Caputo, está justamente nessa semana em meio a um grande escândalo ao ser publicada a informação de que ele não informou que era o dono de 75% de uma empresa especializada em movimentar fundos off shore que abandonou quando foi nomeado ministro. O Escritório Anticorrupção também abriu uma investigação nesse caso.

Enquanto isso, o ex-governador de Neuquén, Jorge Sapag, também fez uma declaração negando a tentativa de depositar cinco milhões de dólares (16 milhões de reais) em Andorra, a outra parte da informação do EL PAÍS sobre políticos argentinos com dinheiro no pequeno principado dos Pirineus. O Escritório Anticorrupção só se ocupa de casos de funcionários de alto escalão do Governo central, de modo que Sapag está fora de seu raio de atuação.

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