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Dois de cada três ativistas assassinados em 2017 eram latino-americanos

Relatório da ONG Front Line Defenders registra pelo menos 212 vítimas na região Brasil ficou em segundo lugar, atrás da Colômbia, com 58 ativistas mortos

Pelo menos 212 defensores dos direitos humanos foram assassinados no ano passado na América Latina, de acordo com um relatório da ONG Front Line Defenders, com sede em Dublin (Irlanda). O documento demonstra que a maioria dos crimes na região ocorreu na Colômbia e no Brasil, que juntos registraram 156 vítimas (73,5%). A soma desse tipo de assassinato no continente representa mais de dois terços do total mundial registrado pela organização internacional (312).

Protesto contra a visita de Judith Butler em São Paulo, dia 7 de novembro.
Protesto contra a visita de Judith Butler em São Paulo, dia 7 de novembro.N. ALMEIDA (AFP-GETTY)
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A particularidade do caso colombiano se encontra no fato de que enquanto os guerrilheiros das FARC entregaram as armas em 2017 como parte dos acordos de paz com o Governo de Juan Manuel Santos, os grupos criminosos e paramilitares se mobilizaram para perseguir e assassinar líderes sociais, principalmente nas regiões em as FARC operavam. As Nações Unidas registraram até 20 de dezembro 105 assassinatos de defensores dos direitos humanos no país sul-americano; 59% deles cometidos por pistoleiros.

“A violência contra os defensores dos direitos humanos se intensificou com a crise política e econômica na Venezuela, Brasil, Guatemala, Paraguai, Honduras e Argentina”, frisa o relatório da Front Line Defenders, que conta com a ajuda de uma rede de organizações na América Latina para coletar os dados de cada país.

A Venezuela é o caso mais emblemático entre os enumerados pela organização. O país sul-americano viveu uma onda de protestos entre abril e julho contra os ataques do regime ao Parlamento, de maioria oposicionista, em que ocorreram mais de 120 mortos, de acordo com a Promotoria. A ofensiva antidemocrática do regime de Nicolás Maduro foi a responsável pelo estabelecimento, em agosto, de uma Assembleia Constituinte formada unicamente pelo chavismo que usurpou as funções do Parlamento oposicionista.

“No Brasil ocorreu um aumento da violência e da participação [nela] das forças de segurança do Estado”, afirma o documento sobre o segundo país com o maior número de assassinatos na região, atrás da Colômbia. “Em maio, 10 defensores pacíficos do direito à terra foram mortos a tiros pela polícia em Pau-d’arco [no Pará]. Seis semanas depois, uma testemunha do massacre que havia se escondido também foi assassinada”, diz o texto, que aponta os ativistas pelos direitos dos povos indígenas e da defesa pela terra como as principais vítimas do país.

Onda ultraconservadora

Mas o relatório alerta: “A violência [...] se estendeu a outros setores e inclui ataques em áreas urbanas, por exemplo, contra defensores dos direitos humanos que trabalham nas favelas do Rio de Janeiro e grupos LGBTI em Curitiba”.

Em relação a esse último ponto, o diagnóstico da ONG chega ao mesmo tempo em que ocorre o aumento de uma onda ultraconservadora no gigante sul-americano que inclui tentativas de agressão contra a filósofa norte-americana Judith Butler e o boicote de uma exposição artística sobre gênero e diversidade sexual em um museu de Porto Alegre.

A Front Line Defenders também chama a atenção sobre o caso do México, que poucos dias antes do final de 2017 ameaçava terminar seu ano mais violento em duas décadas. “2017 também presenciou o maior número de assassinatos de ativistas ambientais e jornalistas registrados [no país] nos últimos anos”, diz o relatório. E acrescenta: “A aprovação em dezembro de uma nova Lei de Segurança Interna que permite a intervenção das Forças Armadas em assuntos de segurança pública é particularmente preocupante pela ambiguidade do texto, sua provável implementação arbitrária e seus possíveis efeitos negativos nos protestos sociais”.

A REGIÃO MAIS PERIGOSA DO MUNDO

Assassinatos. 212 defensores dos direitos humanos foram assassinados em 2017 na América Latina, 67,9% do total global (312), de acordo com a ONG Front Line Defenders.

Colômbia. É o país com o maior número de vítimas; registrava até 20 de dezembro 105 assassinatos de ativistas, de acordo com a contagem das Nações Unidas.

Diminuição. O número de 2017 é um pouco menor do que o de 2016, quando a organização registrou 217 crimes desse tipo na região (77,2% do número mundial, 281 assassinatos).

Distribuição. Em 2016, o número de assassinatos de ativistas se dividiu assim: Colômbia (85), Brasil (58), Honduras (33), México (26), Guatemala (12), El Salvador (1), Peru (1) e Venezuela (1).

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