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Cúpula de Davos alerta sobre distribuição desigual da recuperação global

Fórum Econômico Mundial propõe índice para medir desempenho da economia de forma mais inclusiva

Alicia González (Enviada Especial)
Participantes do Fórum de Davos chegam à Suíça sob forte neve.
Participantes do Fórum de Davos chegam à Suíça sob forte neve.FABRICE COFFRINI (AFP)
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Agora que a crise financeira ficou para trás e que o crescimento voltou de forma generalizada às principais economias mundiais, é ainda mais evidente que a recuperação não está chegando para todos. O Fórum de Davos, consciente dos riscos de uma crescente desigualdade, adverte que o crescimento dos últimos cinco anos não serviu para reduzir a pobreza nem para aumentar a renda familiar. Mas sua única receita é uma nova forma de medir o desenvolvimento econômico. “Se não o medirmos, não podemos resolvê-lo”, justifica.

“A lenta melhoria do nível de vida e a crescente desigualdade contribuíram para a polarização política e a erosão da coesão social em muitas economias avançadas e emergentes”, admite o Fórum Econômico Mundial. Para medir essa disparidade, a reunião de Davos implementou o Índice de Crescimento Inclusivo, que leva em conta outros indicadores para avaliar a evolução das economias. Entre eles, as chances de encontrar emprego, a expectativa de vida, a renda familiar média, a taxa de pobreza, o uso de carvão da economia e o peso da dívida pública.

Segundo esses dados, a Noruega é o país mais inclusivo, com avanços constantes tanto nos níveis de desenvolvimento como na incorporação dos mais lentos no processo de recuperação e na sustentabilidade do modelo de crescimento. Em seguida vêm Islândia, Luxemburgo, Suíça e Dinamarca. Entre os emergentes, destacam-se os bons desempenhos de Lituânia, Hungria, Letônia e Polônia.

A Espanha não está bem posicionada no novo índice: ocupa o posto 26 entre os 29 países desenvolvidos, abaixo da posição 23 (que ocupa em termos de PIB per capita) e na frente apenas de Itália, Portugal e Grécia. A Espanha se vê afetada pela elevada taxa de desemprego, o alto índice de pobreza para os padrões de um país desenvolvido, uma dívida pública quase equivalente a 100% do PIB, a distribuição desigual da renda líquida e uma baixa taxa de poupança.

A margem de melhora é considerável para todos os grupos de países: frente a um crescimento médio do PIB de 5,3% nos países desenvolvidos nos últimos cinco anos, sua taxa de inclusão melhorou apenas 0,01%. E somente 12 das 29 economias consideradas ricas viram uma redução da pobreza nesse período. Entre os emergentes, embora as economias de renda média elevada tenham registrado um crescimento de 7%, a inclusão só aumentou 4,6%. São cifras que ratificam a denúncia da ONG britânica Oxfam.

Houve até agora várias as tentativas de substituir o Produto Interno Bruto (PIB) como a principal forma de medir o desempenho econômico dos países, mas todas foram em vão. O que o Fórum Econômico Mundial propõe é que o PIB seja apenas mais um — não o único — dos indicadores para se levar em conta na hora de analisar a evolução das economias, de modo que as autoridades sejam conscientes das deficiências de suas atuais políticas e tomem medidas a respeito, segundo o relatório do Fórum. “Como muitas economias experimentaram, e o índice de desenvolvimento inclusivo comprova, o crescimento é uma condição necessária, mas não suficiente, para elevar o nível de vida das pessoas”, afirma o documento. “Os líderes políticos e empresariais não devem esperar que um crescimento mais alto seja a panaceia para suas frustrações sociais, incluindo as das gerações mais jovens, que sacudiram a política de muitos países nos últimos anos.”

No momento, nenhum Governo nem organismo internacional — entidades que todo mês, todo trimestre e todo ano supervisionam a evolução das economias — mostrou vontade de mudar a forma de medir o desenvolvimento econômico.

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