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Linha dura de Trump dificulta negociação para reabrir a Administração dos EUA

Equipe do presidente lança vídeo acusando democratas de serem cúmplices dos crimes cometidos por “imigrantes ilegais”

J. M. AHRENS
O líder republicano no Congresso, Paul Ryan, no centro.
O líder republicano no Congresso, Paul Ryan, no centro.AP
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A briga continua. Republicanos e democratas correm contra o tempo para tentar reverter o fechamento da Administração federal norte-americana. Depois da fracassada votação da sexta-feira à noite, ambas as forças procuram uma via para evitar que o apagão burocrático se prolongue até a próxima segunda. As possibilidades de um acordo existem, mas o bloqueio é evidente. Nenhum dos partidos cedeu nem um milímetro neste sábado. E as diferenças são amplas.

Os republicanos continuam rejeitando a principal exigência democrata: devolver a proteção aos imigrantes que entraram nos EUA ainda como menores de idade e gozavam de cobertura legal graças a um programa instituído no Governo de Barack Obama. Já os trumpistas se recusam a validar qualquer pacto sobre “imigrantes ilegais” sem o restabelecimento prévio do financiamento federal. É isso ou nada. Um jogo binário, no qual o presidente - a quem a paralisação azedou o primeiro aniversário de sua posse - participou ativamente ao longo do sábado. “Os democratas estão utilizando nossos militares como reféns para seus desejos de terem imigração ilegal sem vigilância. Não podemos deixar que isso aconteça”, afirmou Trump.

Para reforçar essa posição, o líder republicano no Senado, Mitch McConnell, convocou uma votação para a 1h da madrugada desta segunda-feira. A proposta que ele apresentará estará isenta de qualquer emenda. Conterá apenas uma prorrogação do financiamento federal até 8 de fevereiro. O objetivo é inverter o sinal e deixar a responsabilidade nas mãos dos democratas. Ou seja: se votarem contra, poderão ser apresentados à opinião pública como os culpados pelas repartições fechadas.

“O povo norte-americano não consegue entender por que os líderes democratas acreditam que todo o Governo deve permanecer fechado até que se concorde com o que querem em termos de imigração ilegal”, disse McConnell. “É um fechamento desnecessário. Não façamos os cidadãos pagarem. Em Washington fazemos coisas estranhas, mas isto é uma completa loucura”, atacou o líder do partido governista na Câmara, Paul Ryan.

Essa pressão, que gerou a hashtag #Schumershutdown (“fechamento de [Chuck] Schumer”, em alusão ao líder da minoria democrata no Senado), foi completada com uma turva manobra da equipe de campanha de Trump: um anúncio que vincula a imigração à criminalidade e argumenta que os democratas serão cúmplices dos crimes que os indocumentados venham a cometer. O vídeo começa com imagens de Luis Bracamontes, um imigrante clandestino que, ao ser julgado pelo assassinato de dois policiais, riu no tribunal, revoltando a opinião pública. “O presidente está certo: levantemos o muro, deportemos os criminosos, contenhamos a imigração ilegal. Os democratas que se opuserem serão cúmplices de cada assassinato cometido por imigrantes ilegais”, diz o anúncio.

O golpe atinge os democratas em cheio. As eleições para a renovação de toda a Câmara de Representantes (deputados), um terço do Senado e 39 Governos estaduais estão marcadas para novembro, e qualquer passo em falso pode afetá-los. Embora a oposição tenha vencido as cinco eleições estaduais realizadas em 2017, as chances de derrota no pleito de 2018 não desapareceram. Haverá 10 senadores democratas disputando a reeleição em Estados onde Trump venceu Hillary Clinton na última votação presidencial.

Os democratas estão conscientes desse risco. E reagiram com força. Detêm a chave para a maioria qualificada necessária para a prorrogação, mas alegam que já é a quarta vez que se vota a extensão temporária de verbas de federais por causa da incapacidade do Governo de aprovar o orçamento. Sob esse prisma, a responsabilidade do fechamento é dos republicanos, que, no fim de contas, controlam a Casa Branca e as duas Câmaras do Legislativo federal.

A saída para o bloqueio será complexa. A negociação esteve à beira do abismo total, e as exigências de Trump são ainda muito elevadas. Um exemplo disso diz respeito a uma das prioridades do seu mandato: o financiamento do muro na fronteira com o México, em troca de restabelecer a proteção aos jovens imigrantes. Schumer tentou satisfazer esse pedido na fracassada negociação da sexta-feira. Trata-se de algo inconcebível para os progressistas, mas, como explicou o líder da oposição, ele ofereceu isso para salvar os 700.000 imigrantes ameaçados de deportação. A proposta não prosperou porque Trump insistiu em exigir 18 bilhões de dólares (57,5 bilhões de reais) para a obra, uma quantia que os democratas consideraram exorbitante.

O custo do fechamento

Não é a primeira vez que o Governo federal dos EUA fica paralisado. O shutdown já ocorreu em 1994, 1995 e 2013, e com frequência ainda maior nos anos setenta e oitenta, com os presidentes Jimmy Carter e Ronald Reagan. Tampouco significa um fechamento completo. Ele atinge 38% dos funcionários públicos “não essenciais”, mantendo ativos os envolvidos em tarefas de segurança, saúde e defesa, bem como a previdência social. Mas o custo é imenso - chegou a ser estimado em 20 bilhões de dólares nos 16 dias que durou a paralisação de 2013.

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