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Todos sob estresse, menos Xi. Um guia para seguir a política internacional em 2018

Trump enfrenta legislativas; Putin disputa reeleição; Merkel deve formar Governo; O Brexit abala a UE. Estas são as principais pautas geopolíticas do ano

Andrea Rizzi
Donald Trump e Xi Jinping em novembro passado, em Pequim.
Donald Trump e Xi Jinping em novembro passado, em Pequim.Andrew Harnik (AP)
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A grande guinada isolacionista e conservadora dos EUA sob a batuta de Trump; o agressivo protagonismo global da Rússia de Putin; a lenta e tempestuosa saída da UE de uma década de crise; a onda conservadora que varre a América Latina; a aprovação das reformas na Arábia Saudita. Estes e outros fenômenos geopolíticos contemporâneos serão submetidos a testes significativos ao longo de 2018. A seguir, um quadro resumido e não exaustivo dos principais fatos previstos num domínio sempre tão imprevisível como o da política internacional.

EUA, eleições legislativas

O projeto trumpista enfrenta um desafio quase existencial com as eleições legislativas previstas para novembro, nas quais serão renovadas, como de costume, toda a Câmara de Representantes (deputados) e um terço do Senado. O primeiro ano do mandato de Trump foi marcado por uma constante incapacidade de aprovar projetos significativos no Congresso, com a notável exceção da reforma fiscal. No Senado, os republicanos contam com uma frágil maioria de 51 a 49. Uma série de derrotas eleitorais ao longo de 2017 (com destaque para a perda do Estado de Nova Jersey e de uma vaga de senador por Alabama, pela primeira vez em 25 anos) permite antever o colapso da maioria republicana, complicando ainda mais o avanço dos planos de Donald Trump.

Rússia, eleição presidencial

Vladimir Putin disputa um novo mandato presidencial em março. Não há muitas dúvidas sobre qual será o resultado. Mas é importante observar alguns fatores que influirão no futuro da sua liderança. Em primeiro lugar, a capacidade de mobilização dos seguidores de Alexei Navalny (o único opositor de peso ao líder russo, impedido pelo Kremlin de disputar o pleito) em termos de protestos que possam acender o pavio do descontentamento contra um sistema considerado por seus críticos como altamente corrupto e clientelista. Em segundo lugar, o índice de participação eleitoral (na eleição legislativa de 2016 ficou em 47%, um mínimo histórico, e 18 pontos percentuais abaixo da votação de 2012, um fato que pareceu indicar um forte desapego pelo projeto putinista, especialmente nas grandes cidades da Rússia).

UE, múltiplas frentes

Superada a fase mais grave da múltipla crise que a açoitou na última década, a União Europeia chega a este 2018 especialmente pendente de três assuntos. Em primeiro lugar, a formação de uma nova coalizão de Governo na Alemanha, onde Angela Merkel preside um Executivo interino desde setembro. Nada de significativo pode acontecer na Europa sem uma liderança estabelecida em Berlim. Em segundo lugar, o desenvolvimento das espinhosíssimas negociações do Brexit. A data de saída do Reino Unido do clube comunitário foi marcada para março de 2019, mas Bruxelas indicou outubro como prazo final para um acordo, o que daria tempo à ratificação pelos Parlamentos nacionais. Em terceiro lugar, a Itália, terceira maior economia da zona do euro, volta às urnas com notáveis perspectivas de instabilidade e alguma chance de que o populista Movimento Cinco Estrelas (M5S) se transforme no partido mais votado (embora dificilmente com possibilidade de governar).

Golfo, as reformas do príncipe

O Golfo Pérsico se encontra em plena ebulição com os novos rumos da Arábia Saudita sob o seu novo rei, Salman, e a liderança de facto do príncipe Mohamed bin Salman. Seu processo de reformas passará por um teste crucial em 2018 com a abertura do capital da gigante petroleira saudita Aramco. Seus promotores esperam que a empresa atinja uma valorização de mercado de dois trilhões de dólares, uma cifra superior ao PIB da Itália. As reformas e a atitude saudita são um ponto central no desenrolar dos fatos da região, da guerra no Iêmen ao bloqueio ao Catar. Enquanto isso, o grande rival xiita de Riad, o Irã, começa o ano marcado por protestos que parecem dirigidos não mais à ala radical do regime, e sim contra a teocracia como um todo.

América Latina, a cúpula dos titãs

A América Latina viverá em 2018 um ano eleitoral de enorme relevância, após uma série de votações que empurraram os equilíbrios políticos para a direita (Macri na Argentina, Piñera no Chile, Kuczinsky no Peru). Os dois gigantes da região, Brasil e México, realizarão eleições presidenciais, assim como a Colômbia, quarta economia da área. A Venezuela, protagonista de uma crise política em constante escalada, supostamente também deveria convocar eleições presidenciais. E, em Cuba, Raúl Castro anunciou para este ano sua retirada da chefia de Estado. Esses processos marcarão profundamente a vida do subcontinente, junto com o desenrolar do caso Odebrecht, um caso de corrupção cujas ramificações parecem infinitas.

China, o imperador tranquilo

Em comparação com os desafios que aguardam Trump, Putin, os europeus e os latino-americanos, Xi Jinping desponta, à primeira vista, como um líder com horizonte livre. Depois de superar com louvor o teste político do Congresso do Partido Comunista da China — que o elevou ao mesmo patamar que Mao Tsé-tung —, o presidente chinês não enfrenta riscos políticos evidentes. Em termos econômicos, também as perspectivas parecem serenadas com relação a anos anteriores.

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