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Rei da Espanha conclama novo Parlamento catalão a respeitar pluralidade

Em mensagem de Natal, Felipe VI exalta a “vontade inabalável de concórdia” dos espanhóis

Miguel González
O rei Felipe VI durante sua mensagem de Natal. 
O rei Felipe VI durante sua mensagem de Natal. EFE
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Apenas três dias depois das eleições para o Parlamento da Catalunha, que refletiram uma sociedade dividida em dois entre independentistas e não independentistas, o rei Felipe VI aproveitou este domingo a tradicional mensagem de Natal para conclamar os representantes políticos a “enfrentar os problemas que afetam todos os catalães, respeitando a pluralidade e pensando com responsabilidade no bem comum”. Após alertar que a via unilateral só pode “levar novamente ao confronto e à exclusão, o Rei pediu que se recupere “a serenidade, a estabilidade e o respeito mútuo”.

Neste ano, a mensagem natalina de Felipe VI esteve cercada por uma expectativa sem precedentes. Foi gravada no final da semana, após a divulgação dos resultados das eleições catalãs de quinta-feira, nas quais o bloco independentista perdeu em número de votos, mas obteve maioria de cadeiras em um Parlamento no qual o partido Ciudadanos, contrário à independência, será a primeira força política.

Até o ex-presidente do Governo catalão Carles Puigdemont, que fugiu para Bruxelas, chamou a atenção para a mensagem real ao pedir que o chefe de Estado “retificasse” seu discurso de 3 de outubro, quando denunciou a deslealdade da Generalitat e aprovou a aplicação do artigo 155 da Constituição espanhola.

Felipe VI não retificou, mas abrandou notavelmente o tom. Sem reduzir em nada sua exigência de respeito “aos princípios e valores do Estado de Direito”, que considera “imprescindível”, ele exaltou o valor do diálogo como base da convivência e a “vontade inabalável de concórdia” dos espanhóis.

Já no início da mensagem, ele admitiu que 2017 foi “um ano difícil” devido à crise catalã, anunciando que iria se referir a ela. Mas, antes de fazer isso, destacou as conquistas da sociedade espanhola em 40 anos de democracia, desde a superação de “uma tentativa de involução” (o golpe frustrado de 23 de fevereiro de 1981) até a entrada na União Europeia, à derrota do ETA e à transformação da Espanha em um dos países “mais avançados do mundo” com a modernização de sua educação, saúde, infraestrutura e serviços sociais.

Espanha aberta e solidária

Diante da propaganda pró-independência, que nos últimos meses reviveu o fantasma de Franco para pintar no exterior uma imagem negativa e rançosa do país, Felipe VI se mostrou orgulhoso de “uma Espanha aberta e solidária, não fechada em si mesma [...], que reconhece e respeita” sua pluralidade e diversidade, “com um espírito de integração” e “inspirada por uma inabalável vontade de concórdia”.

Embora tenha reconhecido que “nem tudo foram acertos”, sem especificar os erros, e que “ainda há situações difíceis e complexas”, Felipe VI considerou “inegável” que o balanço das últimas quatro décadas é positivo. “Temos de apreciá-lo e valorizá-lo. Merecemos isso como país”, afirmou.

Depois de ressaltar que a Espanha é “uma democracia madura, onde é possível defender todas as ideias”, mas não impô-las “contra os direitos dos demais”, o Rei abordou diretamente a crise catalã. “Respeitar e preservar os princípios e valores” do Estado de Direito, advertiu, “é imprescindível” para garantir os princípios constitucionais de liberdade, igualdade e justiça que, “quando são rompidos, a convivência inicialmente se deteriora e depois se torna inviável”.

Ele conclamou o novo Parlamento catalão a “enfrentar os problemas que afetam todos os catalães, respeitando a pluralidade e pensando com responsabilidade no bem comum”.

“O caminho não pode levar novamente ao confronto e à exclusão que, como já sabemos, só geram discórdia, incerteza, desânimo e empobrecimento moral, cívico e, obviamente, econômico de toda uma sociedade”, ressaltou, em alusão à fuga em massa de empresas da Catalunha.

Ele convidou os partidos catalães a trabalhar para recuperar “a estabilidade, a serenidade e o respeito mútuo” no seio da sociedade catalã, “tão diversa quanto plural”, para que as ideias “não distanciem nem separem as famílias e os amigos”. E pediu que renasça a confiança e o prestígio da Catalunha por “sua capacidade de liderança e seu esforço, seu espírito criativo e sua vocação de abertura, sua vontade de compromisso e seu senso de responsabilidade.” Em resumo, que se recupere o seny, embora o Rei não tenha querido usar essa palavra catalã, que pode ser traduzida como sensatez.

Quanto ao futuro da Espanha, Felipe VI foi menos explícito, mas deixou claro que ninguém, nem ele, “deseja uma Espanha paralisada ou conformista”, e sim uma Espanha empolgante, moderna e atraente, “disposta a evoluir e a se adaptar aos novos tempos”, que é preciso construir “melhorando-a e atualizando-a” com base nos princípios democráticos e nos valores cívicos. Um convite velado, talvez, à reforma da Constituição.

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