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Maduro expulsa embaixador brasileiro da Venezuela e Brasil fala em “reciprocidade”

Posições brasileiras contra medidas tomadas pelo Executivo venezuelano tornam Ruy Pereira 'persona non grata' naquele país. Embaixador canadense também foi expulso

Carla Jiménez
Delcy Rodriguez, presidente da Assembleia Constituinte, que decretou o embaixador brasileiro 'persona non grata'
Delcy Rodriguez, presidente da Assembleia Constituinte, que decretou o embaixador brasileiro 'persona non grata'F.Parra (AFP)

O embaixador do Brasil na Venezuela, Ruy Pereira, foi declarado 'persona non grata' na Venezuela pela Assembleia Nacional Constituinte. Como ele, o Craib Kowalik, encarregado de negócios do Canadá no país, também foi considerado “persona non grata', o que na prática obriga a ambos deixar o solo venezuelano. Segundo a presidenta da ANC, Delcy Rodríguez, o status do Brasil vai permanecer assim até “que se restitua o rito constitucional que o governo de fato vulnerou”, declarou. Canadá e Brasil foram dois dos países que, em meados de agosto, mostraram seu apoio ao Parlamento venezuelano, de maioria opositora, e que se posicionaram em desacordo com a conformação da Constituinte, celebrada pelo presidente Nicolás Maduro, para favorecer seus apoiadores e se manter no poder.

O Itamaraty divulgou uma nota dizendo que se a medida for confirmada ela só vai demonstrar “o cartáter autoritário” do Governo Maduro e que pode aplicar medidas equivalentes, ou seja, expulsar o representante venezuelano do país. “O governo brasileiro tomou conhecimento de declaração de ex-chanceler venezuelana de que o governo desse país teria decidido declarar o embaixador do Brasil em Caracas “persona non grata”. Caso confirmada, essa decisão demonstra, uma vez mais, o caráter autoritário da administração Nicolás Maduro e sua falta de disposição para qualquer tipo de diálogo. O Brasil aplicará as medidas de reciprocidade correspondentes.”

No último dia 21, o Itamaraty divulgou outro comunicado repudiando a decisão da ANC que dissolveu os governos municipais de Caracas e Alto Apure, que era liderada por opositores de Maduro. “O governo brasileiro repudia o continuado assédio do regime de Nicolás Maduro à oposição venezuelana, com a arbitrária dissolução dos governos municipais de Caracas e Alto Apure e a imposição de exigências que comprometem a participação de importantes partidos de oposição no processo eleitoral. São medidas que desmentem o anunciado interesse do governo venezuelano em buscar uma solução negociada e duradoura para a crise”, dizia o comunicado da diplomacia brasileira.

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Já o Canadá era alvo de queixas da Venezuela há algum tempo, como relatou Delcy Rodriguez, “por sua permanente, insistente, grosseira e vulgar intromissão nos assuntos internos da Venezuela”. Em outubro o chanceler Jorge Arreaza entregou uma nota de protesta na embaixada canadense em Caracas já reclamando da “permanente e sistemática ingerência do Governo” do país. Agora, o Executivo venezuela acusa o Canadá de tentar atrapalhar o diálogo mantido com a oposição da República Dominicana e qualificou como “nova ameaça” a reunião de representantes canadenses como o secretário de Estado dos EUA, Rex Tillerson, onde a situação da Venezuela foi abordada.

Ruy Pereira foi nomeado embaixador da Venezuela em 2013, pela então presidenta Dilma Rousseff. Desde então, acompanha a situação venezuelana, e todas as dimensões da sua crise. No ano passado, chegou a ser chamado de volta ao Brasil quando o Governo do presidente Maduro fez críticas ao impeachment de Dilma. Em junho deste ano, porém, reassumiu o cargo. Pereira entrou na carreira diplomática  em 1975. Nos anos 2000, atuou nas embaixadas de Lima, Buenos Aires e Montevidéu.

Desde a escalada da crise venezuelana, tem vivido situações extremas, como a de esconder por 60 dias o juiz Idelfonso Ifill Pino, que se viu obrigado a fugir da Venezuela por não ser reconhecido pelo Governo Maduro, muito embora tenha sido eleito representante do Tribunal Superior de Justiça daquele país, indicado pela Assembleia Nacional. Esta, porém, deixou de ser reconhecida pelo governo Maduro, que deu todos os poderes à Assembleia Constituinte. O episódio foi revelado pelos jornais Folha de S Paulo e O Globo. (Com AFP)

 

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