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Um clássico para conquistar a Ásia

O encaixe do confronto Real Madrid x Barcelona às 10h, horário de Brasília (13h local), reforça a aposta do campeonato espanhol em aumentar sua receita no continente asiático

Luis Suárez escapa de entrada de Casemiro no último clássico.
Luis Suárez escapa de entrada de Casemiro no último clássico.SANTI BURGOS
GORKA PÉREZ
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A agressiva estratégia de comercialização adotada pela Liga espanhola no mercado asiático atingiu finalmente um de seus maiores ativos. A realização do jogo Real Madrid x Barcelona no próximo sábado, às 13h (hora local, 10h em Brasília), pela primeira vez em um horário claramente asiático, expressa a vontade da organização que dirige o campeonato espanhol de reforçar a aposta na conquista de um público ainda pouco envolvido no acompanhamento do torneio. A marcação do clássico dessa forma constitui um fato historicamente antinatural – o enfrentamento em horário mais adiantado dos últimos doze realizados entre as duas equipes ocorreu às 16h, horário local, na temporada 2012-2013 –, forçado pela maior implantação de campeonatos como a Premier League inglesa ou a Bundesliga alemã, donas de um nicho definido em um mercado ainda inacessível para a Liga espanhola. A decisão de alterar a grade de retransmissão espanhola em função dos hábitos asiáticos, adotada em 2012-2013 e iniciada com a realização de pelo menos um jogo ao meio-dia (horário nobre em países como China, sete horas à frente da Espanha, ou Japão, oito horas à frente), não foi acompanhada até a atual temporada de uma exposição mais profunda na Ásia de seus dois times de maior potencial de mercado. O Espanyol (34), o Rayo Vallecano (30) e o Sevilla (28) foram as três equipes que mais vezes disputaram seus jogos dentro dessa faixa de horário nas últimas sete temporadas. Somando o jogo de sábado, que ocorrerá no Santiago Bernabéu, o Real Madrid (10) e o Barcelona (8) estão os clubes com menor participação.

Gregorio Manzano atua como treinador na China desde 2014. Primeiro no Beijing Gouan, depois no Shanghai Shenshua e agora no Guizhou Hengfeng Zhicheng. “A realidade da China é que existe apenas uma rede pública, a CCTV, que é assistida por 80% dos espectadores, e não transmite o futebol espanhol, mas sim o inglês e o alemão”, observa Manzano em conversa por telefone. "Para assistir à Liga, é preciso assinar o PPTV, um aplicativo que pode ser acoplado à televisão, mas que tem um custo extra e não é muito cômodo”, acrescenta.

O canal CCTV-5 transmitiu em aberto o campeonato espanhol até a temporada 2014-2015. Desde então, está sob comando de operadores privados. O jogo mais visto na China, naquela última temporada, foi Real Madrid x Granada, com 3,4 milhões de espectadores, à frente de Real Madrid x Barcelona, com 2,8 milhões. O primeiro foi disputado às 12h, e o clássico, às 18h no horário espanhol. “A verdade é que fiquei surpreso, porque o campeonato espanhol não é muito seguido. E a culpa é, claramente, dos horários”, comenta, também ao telefone, Miguel Ángel Lotina, que treina nesta temporada o Tokyo Verdy, do Japão. “Os jogos do domingo e os do sábado ao meio-dia são mais vistos, há um certo acompanhamento, mas os que se realizam em horário mais tardio na Espanha ninguém vê”, conta.

Embora os dois técnicos afirmem que, tanto na China quanto no Japão, é fácil ver nas ruas camisetas de times como Real Madrid e Barcelona, os outros países contam com uma vantagem brutal: “Às 15h, 16h e 19h, o que se vê são a Premier e a Bundesliga. Times como o Manchester United, por exemplo, entraram muito antes nesse mercado gigantesco e puxaram depois muitos outros da Inglaterra”, acrescenta Manzano. “Se você fala com eles sobre times que estão no meio da tabela na Espanha, ninguém conhece. Só se interessam quando esses times contam com algum jogador do país, como Takashi Inui no Eibar e Gaku Shibasaki no Getafe”, complementa Lotina.

Efeitos colaterais

A ampliação do leque de horários (os jogos se realizam entre sexta-feira e segunda-feira) gerou protestos em alguns atingidos pela medida. Em novembro de 2014, durante o jogo Rayo Vallecano x Eibar, os torcedores locais exibiram um cartaz que dizia: “Não ao futebol às segundas. Mais direitos de TV, mais dinheiro no bolso”. Três anos depois, Ramon Robert, dirigente do Espanyol, apresentou à Liga, há cerca de um mês, uma queixa formal por causa da programação sistemática dos jogos de sua equipe às segundas-feiras. “É um tratamento injusto. Jogamos mais de 26% dos jogos na segunda-feira. Não dá para continuar assim”, disse Robert.

A Liga comercializou os dois principais lotes dos direitos televisivos do futebol dos torneios nacionais espanhóis até 2019 por 2,6 bilhões de euros (10 bilhões de reais) em dezembro de 2015. A Premier League fez o mesmo por 7 bilhões de euros. O objetivo é diminuir essa diferença. E, para tanto, a Liga recorre agora ao seu produto mais atraente. Vale tudo para conquistar a Ásia.

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