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Confrontos entre israelenses e palestinos deixa manifestante morto

Muçulmanos protestam contra o reconhecimento de Jerusalém como capital de Israel pelos EUA

O Oriente Médio está à beira de uma nova espiral de violência. O reconhecimento de Jerusalém como a capital de Israel pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, despertou a ira do mundo muçulmano no 30º aniversário da primeira Intifada (rebelião palestina). Os confrontos entre manifestantes e policiais ocorreram, além de Jerusalém, em Belém, Nablus e Hebron. O exército israelense reforçou sua presença nos territórios ocupados enquanto o movimento islâmico Hamas convocou novos protestos para hoje, após as preces de sexta-feira, o dia da semana mais sagrado para o islamismo. Pelo menos um manifestante morreu hoje.

Inicialmente, o porta-voz do Ministério da Saúde palestino, Ashraf al Qedra, afirmou que duas pessoas haviam morrido, mas a informação foi corrigida pouco tempo depois. De acordo com ele, pelos menos 60 pessoas ficaram feridas, todas por munição real, atingidas principalmente na região inferior do corpo.

Depois da segunda intifada (2000-2005), as situações mais conflitivas foram registradas em outubro de 2015, com facadas e ataques com veículos, e em meados deste ano, quando a adoção de medidas extraordinárias de vigilância policial na mesquita de Al Aqsa desencadeou uma sublevação palestina.

O líder máximo do movimento islâmico Hamas, Ismail Haniya, disse no seu feudo de Gaza que esta terceira intifada será “em defesa de Jerusalém”, cidade que os palestinos também reivindicam como capital do seu eventual Estado.

Junto ao limite da cidade litorânea de Khan Younis (sudeste de Gaza) foram registrados confrontos com as tropas israelenses, resultando em feridos graves. Os enfrentamentos também foram intensos nos acessos a Ramallah, sede administrativa da Autoridade Palestina, no centro da Cisjordânia, em Belém, em Nablus (norte) e, sobretudo, em Hebron (sul), cidade onde algumas centenas de colonos judeus vivem em meio a 200.000 palestinos.

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Para tentar dissolver os protestos, protagonizados por jovens aos gritos de “Jerusalém é a capital da Palestina”, as força de segurança dispararam bombas de gás lacrimogêneo, balas de borracha e munição real, segundo relatos colhidos pelo Crescente Vermelho palestino.

Em meio à crescente tensão em Jerusalém e na Cisjordânia, as sirenes antiaéreas tornaram a semear o pânico no sul de Israel. O Exército informou que dois foguetes lançados de Gaza acabaram caindo perto da fronteira, mas ainda no interior do território palestino. Já à noite, a Força Aérea respondeu com a represália habitual: bombardeios seletivos contra posições militares do Hamas, apesar de os lançamentos serem habitualmente atribuídos às Brigadas al Quds (milícia do grupo Jihad Islâmica) ou a facções radicais salafistas próximas do Estado Islâmico.

O risco de confrontos sangrentos nesta sexta, por causa do chamado palestino à mobilização popular, aumentou depois dos violentos protestos da quinta, uma consequência da greve geral convocada por partidos e organizações sociais palestinas, com ampla adesão. A greve contra a decisão de reconhecer Jerusalém como capital de Israel e o anúncio da transferência da Embaixada dos EUA de Tel Aviv para a Cidade Sagrada foi apoiada pelos comerciantes de Jerusalém Oriental (parte árabe da cidade, ocupada por Israel desde 1967) e das grandes populações palestinas, assim como nas universidades e demais centros educativos.

Apesar de Trump ter insistido em que sua declaração não implicava a determinação de fronteiras municipais definitivas nem do estatuto final de Jerusalém, os dirigentes palestinos consideram que os EUA se decantaram agora em favor do lado israelense, antes mesmo de as negociações começarem. Para a maioria dos palestinos, não faz sentido acreditar numa solução com dois Estados sem a mediação imparcial de Washington – a única potência com capacidade real para impor sua vontade a Israel. Sua identidade nacional está justamente simbolizada por sua presença na cidade de Jerusalém e vinculada historicamente aos lugares sagrados islâmicos da Esplanada das Mesquitas.

Enquanto isso, o primeiro-ministro israelense, Benjamim Netanyahu, voltava a comemorar na quinta-feira a declaração feita por Trump. “Não tenho nenhuma dúvida de que outros países vão transferir suas embaixadas para Jerusalém”, afirmou durante um ato diplomático. A imprensa de Israel antecipava que República Tcheca e Filipinas serão os primeiros a seguir os passos dos EUA, após o rompimento de sete décadas de consenso internacional sobre a Cidade Sagrada.

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