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PIB de 0,1% no terceiro trimestre mostra economia em recuperação fraca

No ano, economia brasileira cresce 0,6%, e conta com reação do consumo das famílias. Investimento das empresas cresce 1,6%, a primeira vez com sinal positivo após 15 meses

Mercado Municipal de Curitiba.
Mercado Municipal de Curitiba.Cesar Brustolin/SMCS

A economia brasileira voltou a crescer no terceiro trimestre deste ano, mas de forma muito tímida. O Produto Interno Bruto (PIB) ficou estável no terceiro trimestre de 2017, com uma variação de 0,1% frente ao trimestre anterior, segundo dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta sexta-feira. Em relação ao terceiro trimestre do ano passado, a economia cresceu 1,4%. Neste ano, até setembro, a expansão é de 0,6%.

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Pela primeira vez em 15 meses, o investimento das empresas cresceu. Entre julho e setembro, a chamada formação bruta de capital fixo avançou 1,6%. Indústria e serviços cresceram, respectivamente, 0,8% e 0,6% em relação aos três meses anteriores. Já a agropecuária recuou 3%, porém, continua a vedete da economia brasileira, com uma alta de 14,6% no ano.

A indústria avançou puxada pelo aumento da produção de alimentos, veículos, móveis, além de máquinas e equipamentos. A melhora do consumo das famílias nos últimos meses (2,2% entre julho e setembro, em comparação com o trimestre anterior) incentivou alguns setores a tirarem planos de investimento da gaveta, ainda que timidamente. Essa mínima reação contagiou o setor de serviços, influenciado por uma melhora do comércio, tanto atacadista como varejista.

No acumulado de 2017, somente agricultura e o consumo das famílias (0,4%) mostram desempenho positivo. A indústria registra desempenho negativo de 0,9% entre janeiro e setembro, assim como os setores de serviço (-0,2%), e consumo do Governo (-0,6%). A Formação Bruta de Capital Fixo, sigla que aponta a compra de equipamentos por empresas, registra queda de 3,6% no ano.

Os números revelam a dificuldade de o Brasil superar dois anos de profunda recessão e a retomada letárgica desde então. Ao comparar o crescimento do PIB deste trimestre com o dos anteriores, fica claro que a recuperação não é intensa e o Governo Temer vive um desafio para os próximos meses. No primeiro trimestre, o PIB (em comparação ao trimestre anterior) avançou 1,3%. No segundo, o crescimento foi de 0,7% e agora, 0,1%.

A percepção da retomada celebrada pela maioria dos economistas e o mercado financeiro fica clara na comparação com os trimestres do ano passado: de janeiro a março de 2017, a atividade empatou com o desempenho do mesmo período de 2016. Mas no segundo trimestre, houve melhora de 0,4% em comparação com 2016, e de 1,4% entre julho e setembro deste ano, em comparação com o mesmo trimestre do ano passado.

O aumento da produção e de contratações tende a chegar quando há um horizonte de estabilidade. Mas, o cenário eleitoral de 2018 potencializa essa hesitação do setor privado para investir e contratar mais, uma vez que os 'incêndios' em Brasília acabam afetando a economia e gerando um clima de incerteza. Um relatório dos economistas do banco Bradesco aponta a recuperação dos investimentos como um fator de destaque na divulgação do PIB do terceiro trimestre. “O crescimento de 1,6% no terceiro trimestre confirmou o que havíamos observado nos dados da indústria, com expansão da produção e importação de bens de capital”, descreve o relatório do banco, que espera um cenário melhor nos próximos meses. “As sondagens de novembro (indústria, comércio, serviços, construção civil e consumidores) reforçaram que a tendência de recuperação deve se manter nos próximos meses”, descrevem.

Os dados imediatos, de um trimestre sobre o outro, parecem apontar para uma outra equação que dificulta uma retomada robusta: o ajuste fiscal do Governo para sanar o desequilíbrio das contas públicas, e reduzir o déficit da economia. Embora um freio de arrumação fosse necessário, o teto de gastos acabou inibindo despesas públicas. As compras do Governo tem um peso de, em média, 20% do PIB.

A estagnação da construção civil, sem novas grandes obras no horizonte, também contribui para o mau desempenho do setor. A taxa de investimento do setor privado no terceiro trimestre de 2017 foi de 16,1% do PIB, abaixo do observado no mesmo período do ano anterior (16,3%). Para seguir com um crescimento a longo prazo, países como o Brasil deveriam ter uma taxa de investimento de cerca de 25%.

O resultado do PIB veio um pouco abaixo do previsto pela média da estimativa dos analistas, que esperavam uma alta de 0,3%. Para este ano, as estimativas dos economistas do mercado financeiro indicam que o país irá crescer 0,73%, segundo o último boletim Focus, do Banco Central.

O mercado conta com uma melhor confiança do consumidor, diante de um quadro de juros e inflação baixas. No segundo trimestre, o consumo das famílias já havia apresentado uma melhora visível depois de dois anos de queda. No primeiro trimestre, avançou 0,2% (o dado inicial era menor, mas foi revisado para cima) sobre o trimestre anterior, cresceu 1,2% no segundo, e agora, 1,2%. A retomada do emprego também seria outro fator que viria a contribuir com números mais alvissareiros no ano que vem.

Por ora, no entanto, a retomada de postos de trabalho acontece na informalidade. Segundo dados do IBGE divulgados nesta quinta, dos 2,3 milhões de vagas geradas até outubro, 75% são informais. Mas, seria o primeiro passo antes de uma retomada consistente. Evandro Buccini, economista chefe da Rio Bravo Investimentos, diz que o quadro, embora desanime num primeiro momento, é positivo, uma vez que o cenário recessivo deixou as empresas cautelosas. “É normal quando há um quadro de recessão que as empresas primeiro contratem informalmente”, diz Buccini. “Elas contratam de forma definitiva se tiverem resultado favorável”, completa ele.

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